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Droga gera mais ações da PF que corrupção
Número de operações especiais contra narcotráfico ultrapassa o de inquéritos voltados para fraude com recursos públicos
Apesar do enfoque da PF no combate a crimes ligados ao tráfico e ao ambiente, ações contra a corrupção tiveram pouca alteração desde 2006
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos seis anos, a Polícia Federal prendeu 10.357
pessoas no decorrer de 708
operações especiais. Desde que
foram alçadas a carro-chefe no
combate ao crime durante a
gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as operações
foram marcadas principalmente pelas ações contra corrupção, fraudes em licitações públicas e crimes financeiros. Os
inquéritos levaram à prisão
1.575 servidores públicos e 90
policiais federais e levantaram
suspeitas sobre congressistas e
autoridades do Executivo.
Nos últimos dois anos, contudo, as ações da PF na repressão a esses tipos de crimes foram superadas pelas operações
contra tráfico de entorpecentes
e crimes ambientais.
Levantamento feito pela Folha apontou que ocorreram,
entre 2006 e 2008, 107 operações para reprimir o comércio
ilegal de drogas, contra 76 casos de combate à corrupção e
fraudes em licitações. A realidade foi diferente no período
2003-2005, com 32 operações
contra corrupção e apenas 13
contra narcotraficantes.
O ano de 2008 foi marcado
pelo enfoque maior às drogas e
ao meio ambiente. Somados,
tais crimes foram alvo de 68
operações especiais. Em contrapartida, os crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro somaram 37 operações.
O número de operações contra a corrupção teve baixa alteração nos últimos três anos,
com 23 ações do gênero em
2006, 25, em 2007, e 28, em
2008. O número de ações contra a lavagem de dinheiro e os
crimes financeiros, incluindo a
investigação sobre doleiros e
evasão de recursos, também ficou estável: nove em 2006, oito
em 2007 e nove em 2008.
O número total de operações
realizadas no mesmo período
apresenta crescimento expressivo: 167, em 2006, 188, em
2007, e 235, em 2008.
Políticos
O número de operações que
apontaram o envolvimento de
congressistas desabou em
2008, na comparação com os
anos anteriores. Em 2006, o escândalo gerado pela Operação
Sanguessuga levou à criação de
uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso
Nacional, que decidiu abrir
processo contra 69 deputados e
três senadores. Dois deputados
renunciaram ao mandato para
não serem cassados.
Na sequência, a Procuradoria
Geral da República pediu a
abertura de inquérito contra 84
parlamentares, o que foi autorizado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
O ano de 2007 continuou
pródigo na produção de suspeitas contra parlamentares e autoridades do governo federal.
Em maio a Operação Navalha
levou à queda do ministro de
Minas e Energia, Silas Rondeau, e à abertura de dois procedimentos administrativos no
Ministério Público sobre a participação de deputados federais
em supostos desvios de recursos em obras conduzidas pela
construtora Gautama.
Em 2008, contudo, as operações levaram à investigação de
apenas um parlamentar federal, o deputado Paulo Pereira
da Silva (PDT-SP), o Paulinho,
presidente da Força Sindical.
Ele foi investigado e absolvido
pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados a partir de
revelações da Operação Santa
Tereza, que apurou supostas
fraudes contra o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Classificação
Por e-mail, a direção geral da
PF informou que a divisão das
operações por tipo penal nem
sempre é precisa.
"A classificação é apenas para facilitar na prestação de informação à imprensa, pois muitas operações têm mais de um
alvo criminal. Com certeza foram realizadas mais de nove
operações de combate à lavagem de dinheiro [no ano de
2008], pois esse tipo de crime
está presente em quase todas as
ações. Classificamos desta forma apenas aquelas que este era
o principal foco", informou a
assessoria da PF.
Sobre a investigação a respeito de parlamentares, a PF informou: "A Operação Santa Tereza não investigou diretamente o parlamentar [Paulinho].
Ele surgiu pelas conversas de
outros alvos. Tiveram, no entanto, outras operações que tinham autorização do Supremo
para investigar autoridades de
foro privilegiado, como a Operação João de Barro. Nós não fizemos o levantamento de operações que envolveram especificamente parlamentares".
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