São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Droga gera mais ações da PF que corrupção

Número de operações especiais contra narcotráfico ultrapassa o de inquéritos voltados para fraude com recursos públicos

Apesar do enfoque da PF no combate a crimes ligados ao tráfico e ao ambiente, ações contra a corrupção tiveram pouca alteração desde 2006

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos seis anos, a Polícia Federal prendeu 10.357 pessoas no decorrer de 708 operações especiais. Desde que foram alçadas a carro-chefe no combate ao crime durante a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as operações foram marcadas principalmente pelas ações contra corrupção, fraudes em licitações públicas e crimes financeiros. Os inquéritos levaram à prisão 1.575 servidores públicos e 90 policiais federais e levantaram suspeitas sobre congressistas e autoridades do Executivo.
Nos últimos dois anos, contudo, as ações da PF na repressão a esses tipos de crimes foram superadas pelas operações contra tráfico de entorpecentes e crimes ambientais.
Levantamento feito pela Folha apontou que ocorreram, entre 2006 e 2008, 107 operações para reprimir o comércio ilegal de drogas, contra 76 casos de combate à corrupção e fraudes em licitações. A realidade foi diferente no período 2003-2005, com 32 operações contra corrupção e apenas 13 contra narcotraficantes.
O ano de 2008 foi marcado pelo enfoque maior às drogas e ao meio ambiente. Somados, tais crimes foram alvo de 68 operações especiais. Em contrapartida, os crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro somaram 37 operações.
O número de operações contra a corrupção teve baixa alteração nos últimos três anos, com 23 ações do gênero em 2006, 25, em 2007, e 28, em 2008. O número de ações contra a lavagem de dinheiro e os crimes financeiros, incluindo a investigação sobre doleiros e evasão de recursos, também ficou estável: nove em 2006, oito em 2007 e nove em 2008.
O número total de operações realizadas no mesmo período apresenta crescimento expressivo: 167, em 2006, 188, em 2007, e 235, em 2008.

Políticos
O número de operações que apontaram o envolvimento de congressistas desabou em 2008, na comparação com os anos anteriores. Em 2006, o escândalo gerado pela Operação Sanguessuga levou à criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso Nacional, que decidiu abrir processo contra 69 deputados e três senadores. Dois deputados renunciaram ao mandato para não serem cassados.
Na sequência, a Procuradoria Geral da República pediu a abertura de inquérito contra 84 parlamentares, o que foi autorizado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
O ano de 2007 continuou pródigo na produção de suspeitas contra parlamentares e autoridades do governo federal. Em maio a Operação Navalha levou à queda do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, e à abertura de dois procedimentos administrativos no Ministério Público sobre a participação de deputados federais em supostos desvios de recursos em obras conduzidas pela construtora Gautama.
Em 2008, contudo, as operações levaram à investigação de apenas um parlamentar federal, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, presidente da Força Sindical. Ele foi investigado e absolvido pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados a partir de revelações da Operação Santa Tereza, que apurou supostas fraudes contra o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Classificação
Por e-mail, a direção geral da PF informou que a divisão das operações por tipo penal nem sempre é precisa.
"A classificação é apenas para facilitar na prestação de informação à imprensa, pois muitas operações têm mais de um alvo criminal. Com certeza foram realizadas mais de nove operações de combate à lavagem de dinheiro [no ano de 2008], pois esse tipo de crime está presente em quase todas as ações. Classificamos desta forma apenas aquelas que este era o principal foco", informou a assessoria da PF.
Sobre a investigação a respeito de parlamentares, a PF informou: "A Operação Santa Tereza não investigou diretamente o parlamentar [Paulinho]. Ele surgiu pelas conversas de outros alvos. Tiveram, no entanto, outras operações que tinham autorização do Supremo para investigar autoridades de foro privilegiado, como a Operação João de Barro. Nós não fizemos o levantamento de operações que envolveram especificamente parlamentares".


Texto Anterior: Janio de Freitas: A boa companhia
Próximo Texto: Câmara: PDT negocia apoio a Temer e põe em risco união de bloquinho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.