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ANÁLISE
Desta vez, agricultura não vai ancorar Real
BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha
O presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a falar de
"âncora verde" durante a abertura da colheita de arroz, ontem,
em Formoso do Araguaia, em
Tocantins.
Na avaliação de FHC, a agricultura será um instrumento importante para o controle da inflação,
a exemplo do que ocorreu em 94,
no início do Plano Real.
Só que hoje a situação é justamente inversa à de 1994, quando
a política cambial favoreceu a entrada de alimentos importados
no país e provocou uma queda
acentuada nos preços agrícolas.
"Nos dois primeiros anos do
Real, a agricultura serviu como
âncora verde porque a moeda,
então sobrevalorizada, forçou
pesadas reduções nos preços dos
produtos agrícolas e dos alimentos", diz o professor Marcos Sawaya Jank, da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq/USP).
Consumidor vai perder
A âncora verde resultou numa
brutal queda da renda agrícola e
no endividamento dos agricultores. Agora, o que se espera é justamente o contrário.
"Com a desvalorização do real,
a agricultura deve passar à condição de vencedora e os consumidores, de perdedores", explica o
economista Fernando Homem
de Melo, da Universidade de São
Paulo.
Os números da Fipe, divulgados esta semana, apontam uma
inflação média de 1,41% em fevereiro, enquanto os preços dos alimentos subiram bem mais
(3,07%) no período.
É o reflexo da alta de produtos
como café, carne bovina, óleo de
soja, pão e farinha de trigo, após
a desvalorização da moeda.
Estoques baixos
A tendência, com a nova política cambial, é de alta dos preços
dos alimentos, principalmente
os exportáveis, caso da soja, do
café e do açúcar, e dos que dependem de importação para
complementar o abastecimento
interno (leite, trigo, milho e arroz).
Para o economista da USP, é
perigoso vender ao consumidor
um horizonte que não vai se realizar, principalmente considerando os baixos estoques de produtos agrícolas do país.
Somente com as importações
de algodão, trigo, arroz, milho e
feijão, o Brasil deve gastar este
ano cerca de US$ 2 bilhões.
O que pode aliviar a situação é a
possibilidade de uma supersafra
no Brasil e a queda dos preços
agrícolas no mercado externo,
que já está acontecendo.
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