São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
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ANÁLISE
Desta vez, agricultura não vai ancorar Real

BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha

O presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a falar de "âncora verde" durante a abertura da colheita de arroz, ontem, em Formoso do Araguaia, em Tocantins.
Na avaliação de FHC, a agricultura será um instrumento importante para o controle da inflação, a exemplo do que ocorreu em 94, no início do Plano Real.
Só que hoje a situação é justamente inversa à de 1994, quando a política cambial favoreceu a entrada de alimentos importados no país e provocou uma queda acentuada nos preços agrícolas.
"Nos dois primeiros anos do Real, a agricultura serviu como âncora verde porque a moeda, então sobrevalorizada, forçou pesadas reduções nos preços dos produtos agrícolas e dos alimentos", diz o professor Marcos Sawaya Jank, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

Consumidor vai perder
A âncora verde resultou numa brutal queda da renda agrícola e no endividamento dos agricultores. Agora, o que se espera é justamente o contrário.
"Com a desvalorização do real, a agricultura deve passar à condição de vencedora e os consumidores, de perdedores", explica o economista Fernando Homem de Melo, da Universidade de São Paulo.
Os números da Fipe, divulgados esta semana, apontam uma inflação média de 1,41% em fevereiro, enquanto os preços dos alimentos subiram bem mais (3,07%) no período.
É o reflexo da alta de produtos como café, carne bovina, óleo de soja, pão e farinha de trigo, após a desvalorização da moeda.

Estoques baixos
A tendência, com a nova política cambial, é de alta dos preços dos alimentos, principalmente os exportáveis, caso da soja, do café e do açúcar, e dos que dependem de importação para complementar o abastecimento interno (leite, trigo, milho e arroz).
Para o economista da USP, é perigoso vender ao consumidor um horizonte que não vai se realizar, principalmente considerando os baixos estoques de produtos agrícolas do país.
Somente com as importações de algodão, trigo, arroz, milho e feijão, o Brasil deve gastar este ano cerca de US$ 2 bilhões.
O que pode aliviar a situação é a possibilidade de uma supersafra no Brasil e a queda dos preços agrícolas no mercado externo, que já está acontecendo.


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