|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
500 ANOS
Obra criada pelos pataxós tinha como objetivo lembrar o massacre das populações indígenas da América Latina pelos europeus
PM destrói monumento dos índios na BA
EDUARDO SCOLESE
MARCOS VITA
da Agência Folha
A Polícia Militar da Bahia destruiu na noite de anteontem um
monumento erguido por índios
pataxós na praia Coroa Vermelha, em Santa Cruz de Cabrália
(BA), onde foi celebrada, em 26
de abril de 1500, a primeira missa
em solo brasileiro.
Cerca de 200 policiais cercaram
o local antes da demolição. A obra
tinha como objetivo lembrar, na
celebração dos 500 anos, o massacre das populações indígenas na
América Latina pelos europeus.
O Monumento da Resistência
representava um mapa da América Latina desenhado no solo por
uma murada de concreto com 60
cm de altura, vermelha. O mapa
teria 280 m2 de área e conteria objetos artesanais e corais.
Técnicos do Centro de Recursos
Ambientais e do Ministério do Esporte e do Turismo, de Rafael
Greca, não aprovaram a construção do monumento. O governador da Bahia, César Borges (PFL),
defendeu a demolição, alegando
que o local foi considerado paisagem-monumento pelo Relatório
de Impacto Ambiental preparatório da implantação do Parque Nacional Indígena, que impediria a
realização de qualquer obra.
Segundo Borges, a área está inserida na Área de Proteção Ambiental sujeita à legislação constitucional de Patrimônio Histórico
e Artístico, e de preservação marítima, uma vez que está situada a
menos de 33 metros do litoral.
De acordo com o advogado e
professor da USP Dalmo Dallari,
a ação da PM baiana foi inconstitucional e deveria ser punida,
com suspensão ou afastamento
dos policiais da corporação.
"É lamentável que o governador
tenha ordenado tal ação. Segundo
a Constituição brasileira, os direitos e a cultura indígenas precedem os direitos ambientais."
Segundo o Conselho Indigenista Missionário, a ação fere o art.
231 da Constituição, segundo o
qual "as terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente". A
área integra o Parque Nacional e
Indígena da Coroa Vermelha.
A polêmica entre os pataxós e o
governo começou no dia 17 de
março, quando uma cruz de madeira foi substituída por outra, de
aço inoxidável, criada pelo escultor baiano Mario Cravo, 78. A representação indígena estava fincada no local havia 30 anos.
Texto Anterior: Ex-primeira-dama resiste, mas recebe intimação Próximo Texto: Juiz permite entrada de índios na BA Índice
|