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CONGRESSO
Presidente do Senado e líder peemedebista protagonizam troca de acusações, denúncias e ofensas
ACM e Jader travam duelo no Senado
RAQUEL ULHÔA
DANIEL BRAMATTI
da Sucursal de Brasília
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e
o senador Jader Barbalho (PA),
presidente do PMDB, protagonizaram ontem o mais violento embate no plenário da Casa desde
que começaram a trocar acusações, há uma semana. Ambos recorreram a dossiês com recortes
de jornais trazendo acusações recíprocas. No final, o próprio Jader
definiu o episódio como um
"striptease moral".
Durante uma hora e 20 minutos, o Congresso parou para assistir ao maior duelo verbal travado
entre dois dos principais caciques
políticos da base que dá sustentação ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Após troca de acusações e ofensas pessoais, ACM e Jader divulgaram documentos autorizando a
quebra de seus sigilos bancários e
o exame de suas declarações de
bens e rendimentos.
Num dos momentos mais tensos do debate, Jader chegou a dizer para ACM: "Ouça caladinho".
De sua cadeira, o presidente do
Senado acusou Jader de estar
"mentindo" quando diz que tem
4.000 páginas de denúncias contra ele. "Quem tiver caráter não
gosta de Vossa Excelência."
Jader não poupou o adversário
do assunto que mais o atinge: a
morte do deputado Luís Eduardo,
filho de ACM, em abril de 98. Luís
Eduardo era apontado como candidato mais forte à sucessão do
presidente FHC.
"Às vezes, a gente coloca coisas
como objetivo de vida, marca
prazo e Deus lá em cima, que assiste a todos nós e é quem tem poder, muda o curso das coisas. A
vida tem ensinado e talvez Vossa
Excelência possa aprender."
ACM acusou Jader de desapropriar terrenos inexistentes e superfaturar desapropriações de
terras, de ter dinheiro do Banco
do Pará depositado em suas contas pessoais e de ter cometido irregularidades enquanto era ministro da Previdência e da Reforma Agrária (governo Sarney).
ACM entregou à Mesa do Senado pastas com 11 documentos detalhando as denúncias.
O peemedebista rebateu o ataque lendo na tribuna manchetes
de jornais, que envolviam ACM
em casos de corrupção. Em algumas, o presidente do Senado é
acusado de ter construído sua fortuna com dinheiro público e chamado de "ladrão".
Jader lembrou casos notórios
levantados contra o adversário,
como o chamado "escândalo da
pasta rosa", uma lista de políticos
que teriam recebido doações para
campanha do Banco Econômico.
O presidente do Senado apresentou previamente à Mesa documentação rebatendo essas e outras denúncias já publicadas contra ele em sua vida pública.
O vice-presidente do Senado,
Geraldo Melo (PSDB-RN), que
presidia a sessão, convocou reunião da Mesa Diretora para hoje,
para decidir como serão examinadas as contas e as denúncias
trocadas.
O presidente do Senado havia
programado o discurso para formalizar o desafio a Jader para que
ambos autorizassem a quebra de
seus sigilos bancários e permitissem investigação de seus bens.
O atual confronto entre ACM e
Jader começou por causa do salário mínimo. Enquanto Jader defende a posição do governo (mínimo de R$ 151), ACM prega salário mínimo equivalente a US$
100. Dessa discussão, partiram
para acusações mútuas.
Ontem, Jader disse que o senador ACM provocou o confronto
para desviar as atenções das denúncias feitas contra ele pela ex-primeira-dama de São Paulo Nicéa Pitta.
Acusou ACM de falta de "equilíbrio" e "decoro" por ter xingado
Nicéa, e afirmou que o presidente
do Senado quer "arrastá-lo" junto
com ele numa representação que
sofre no Conselho de Ética por
falta de decoro parlamentar.
Nicéa acusou ACM de ter pressionado a Prefeitura de São Paulo
a pagar dívidas com a empreiteira
OAS, que tem como sócio o ex-genro de ACM, Cesar Mata Pires.
Jader disse que o objetivo de
ACM é impedi-lo de assumir a
presidência do Senado em 2001.
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