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"Glória seria morrer aqui
no tribunal"
dos enviados especiais
"Minha maior glória seria
morrer aqui no tribunal do júri", afirmou o advogado Evandro Lins e Silva, 88, durante o
julgamento de José Rainha Júnior, líder do MST.
Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, das Relações Exteriores e chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, no governo de João Goulart,
Lins e Silva salientou que o julgamento de ontem foi, provavelmente, o último júri de sua
carreira. "Se Deus permitir",
brincou.
Sua participação, encerrando
a defesa, foi decisiva no processo. A réplica da acusação e a
tréplica da defesa se concentraram em uma tese defendida
por ele: a de que o desaforamento (mudança de local) do
primeiro julgamento provava a
parcialidade do primeiro resultado, quando Rainha foi condenado por 4 votos a 3.
Lins e Silva lembrou que essa
tese foi acolhida pelo Tribunal
de Justiça do Espírito Santo
quando permitiu o desaforamento.
"Se eles acharam que houve
parcialidade na condenação
por 4 a 3, é porque ele seria absolvido", disse.
O ex-ministro foi a segunda
pessoa mais citada durante os
debates de ontem. Só perdeu
para o réu.
Foi elogiado pelo juiz, deu
autógrafos para os advogados
de acusação e até aceitou posar
para fotos com eles -que o
chamavam de mestre. "É a idade", disse, reconhecendo que
se sentia envaidecido com a deferência.
Ele aproveitou seu tempo de
fala para entremear passagens
de sua vida com a defesa do
acusado. Citou personagens
históricos e defendeu a reforma
agrária.
"Não adianta abolir a escravidão sem fazer uma reforma
agrária", disse, citando o abolicionistas. "Já se passaram mas
de cem anos e nenhuma reforma foi feita", reclamou.
Ele criticou a situação social
do país, o processo de globalização e até o aumento do salário mínimo, classificado de
"uma pilhéria" que foi oferecido "hipocritamente". "Parece
até escárnio", definiu ele, sem
perder o foco da questão em
julgamento.
"O que se julga aqui é o homem. Não é nenhuma abstração. Não é aquela cana chupada que se joga fora", comparou
Lins e Silva.
"Do ponto de vista legal é
uma causa fácil, em minha módica opinião", afirmou ele durante sua fala, ressaltando que
havia lido "as mais de 3.000 páginas" do processo "linha por
linha".
De manhã, contudo, o clima
era outro, mais tenso. A chegada de Rainha ao Fórum de Vitória (Espírito Santo) provocou
um início de tumulto. Foi
aplaudido por cerca de 500 militantes do movimento, que
tentaram romper o cordão de
isolamento colocado pela polícia para impedir o acesso ao
Fórum.
Com a reação dos policiais,
um empurra-empurra entre os
dois grupos foi iniciado.
Alguns dos policiais chegaram a levantar cassetetes e a colocar as mãos nos revólveres.
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