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Falta de verbas atrasa produção de urânio enriquecido, diz comissão
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A produção de urânio enriquecido em escala comercial no Brasil
ainda é um projeto. Embora o
contrato entre a INB (Indústrias
Nucleares do Brasil) e a Marinha
para o fornecimento das máquinas de ultracentrifugação tenha
sido anunciado no final de 1999, e
o início da produção tenha sido
previsto para julho de 2002, a fábrica de Resende (RJ) continua
sem funcionar.
Segundo o presidente da CNEN
(Comissão Nacional de Energia
Nuclear), Odair Dias Gonçalves, o
atraso decorre da falta de dinheiro
para o projeto. Até o ano passado,
as máquinas fornecidas pela Marinha à INB, em quantidade não
revelada, correspondiam ao suficiente para produzir só 10% do
urânio enriquecido necessário às
usinas de Angra 1 e Angra 2.
O contrato, no valor de US$ 130
milhões e com duração de oito
anos, prevê que a Marinha fornecerá à INB as máquinas de ultracentrifugação desenvolvidas no
centro tecnológico de Aramar
(SP), em parceria com o Ipen
(Instituto de Pesquisas Energéticas de São Paulo) e a USP.
O enriquecimento consiste em
aumentar, no urânio-238, não-radioativo, a concentração do urânio-235, radioativo, permitindo a
ocorrência da fissão nuclear necessária à produção de energia.
O projeto brasileiro prevê que a
concentração de U-235 será de até
5%. Para produzir energia elétrica
é necessária uma concentração de
3% a 5%. Para a produção de uma
bomba atômica é necessária uma
concentração de U-235 de 95%.
Hoje, embora o Brasil tenha
produção de urânio suficiente para suas necessidades, o produto
-na forma de um bolo amarelo
conhecido como "yellow cake"-
precisa ser enviado ao exterior para ser enriquecido por um consórcio de empresas da Grã-Bretanha, Holanda e Alemanha.
Pelo projeto original da INB, o
Brasil seria auto-suficiente em
enriquecimento de urânio até
2007. O país deixaria de fazer só a
gaseificação do produto. A etapa é
considerada barata e não-estratégica e seria, segundo técnicos do
setor, antieconômico fazê-la também aqui.
Vazamento
Em meio à polêmica envolvendo a questão nuclear, a CNEN informou ontem que um vazamento de substância radioativa (urânio enriquecido) ocorreu no último dia 19 de março na fábrica de
combustível nuclear da INB, em
Resende (RJ), sem conseqüências
graves.
Quatro empregados da INB foram expostos à substância. A divulgação oficial do acidente só
ocorreu após uma emissora de televisão ter noticiado o vazamento.
Gonçalves, disse que "houve
uma falha" na INB que permitiu o
vazamento de óxido de urânio
(UO2), uma substância escura,
em forma de pó. O óxido de urânio é produto de uma das fases do
processo químico de fabricação
das pastilhas que, colocadas em
tubos metálicos, são o combustível das usinas nucleares.
O presidente da CNEN disse
ainda que a comissão vai investigar as causas da falha para determinar à INB providências para
evitar novos vazamentos.
"Não houve nem vazamento
para a atmosfera nem contaminação de qualquer um dos funcionários", disse Gonçalves. Ele afirmou ainda que o vazamento foi
tão pequeno que a radiação normal emitida foi menor que a de
uma exame radiográfico.
O vazamento foi detectado no
dia 22 de março. A comunicação
formal à CNEN só foi feita dia 24.
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