São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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Falta de verbas atrasa produção de urânio enriquecido, diz comissão

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A produção de urânio enriquecido em escala comercial no Brasil ainda é um projeto. Embora o contrato entre a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) e a Marinha para o fornecimento das máquinas de ultracentrifugação tenha sido anunciado no final de 1999, e o início da produção tenha sido previsto para julho de 2002, a fábrica de Resende (RJ) continua sem funcionar.
Segundo o presidente da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Odair Dias Gonçalves, o atraso decorre da falta de dinheiro para o projeto. Até o ano passado, as máquinas fornecidas pela Marinha à INB, em quantidade não revelada, correspondiam ao suficiente para produzir só 10% do urânio enriquecido necessário às usinas de Angra 1 e Angra 2.
O contrato, no valor de US$ 130 milhões e com duração de oito anos, prevê que a Marinha fornecerá à INB as máquinas de ultracentrifugação desenvolvidas no centro tecnológico de Aramar (SP), em parceria com o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas de São Paulo) e a USP.
O enriquecimento consiste em aumentar, no urânio-238, não-radioativo, a concentração do urânio-235, radioativo, permitindo a ocorrência da fissão nuclear necessária à produção de energia.
O projeto brasileiro prevê que a concentração de U-235 será de até 5%. Para produzir energia elétrica é necessária uma concentração de 3% a 5%. Para a produção de uma bomba atômica é necessária uma concentração de U-235 de 95%.
Hoje, embora o Brasil tenha produção de urânio suficiente para suas necessidades, o produto -na forma de um bolo amarelo conhecido como "yellow cake"- precisa ser enviado ao exterior para ser enriquecido por um consórcio de empresas da Grã-Bretanha, Holanda e Alemanha.
Pelo projeto original da INB, o Brasil seria auto-suficiente em enriquecimento de urânio até 2007. O país deixaria de fazer só a gaseificação do produto. A etapa é considerada barata e não-estratégica e seria, segundo técnicos do setor, antieconômico fazê-la também aqui.

Vazamento
Em meio à polêmica envolvendo a questão nuclear, a CNEN informou ontem que um vazamento de substância radioativa (urânio enriquecido) ocorreu no último dia 19 de março na fábrica de combustível nuclear da INB, em Resende (RJ), sem conseqüências graves.
Quatro empregados da INB foram expostos à substância. A divulgação oficial do acidente só ocorreu após uma emissora de televisão ter noticiado o vazamento.
Gonçalves, disse que "houve uma falha" na INB que permitiu o vazamento de óxido de urânio (UO2), uma substância escura, em forma de pó. O óxido de urânio é produto de uma das fases do processo químico de fabricação das pastilhas que, colocadas em tubos metálicos, são o combustível das usinas nucleares.
O presidente da CNEN disse ainda que a comissão vai investigar as causas da falha para determinar à INB providências para evitar novos vazamentos.
"Não houve nem vazamento para a atmosfera nem contaminação de qualquer um dos funcionários", disse Gonçalves. Ele afirmou ainda que o vazamento foi tão pequeno que a radiação normal emitida foi menor que a de uma exame radiográfico.
O vazamento foi detectado no dia 22 de março. A comunicação formal à CNEN só foi feita dia 24.


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