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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ O DESFECHO
Bancada do PT vê desrespeito ao regimento e apresenta recurso para anular votação
Governo perde e relatório que atesta o mensalão é aprovado
Alan Marques/Folha Imagem
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O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), é carregado por congressistas ao final da votação do documento |
FERNANDA KRAKOVICS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em uma derrota do governo, o
relatório final da CPI dos Correios
foi aprovado ontem por 17 votos a
4 em uma sessão tumultuada, depois de dez meses de trabalho.
Prevendo o resultado desfavorável, o PT e o PMDB tentaram obstruir a sessão e não votaram. Foram feitas 35 alterações de última
hora no documento.
A bancada do PT protocolou
um recurso na Mesa da Câmara
pedindo a anulação da votação.
Os petistas alegam que o presidente da CPI, senador Delcídio
Amaral (PT-MS), desobedeceu
normas regimentais ao não permitir que fossem votadas emendas para fazer alterações pontuais
-os chamados destaques.
Apesar da pressão dos governistas, o relator, deputado Osmar
Serraglio (PMDB-PR), sustentou
no texto a existência do mensalão
para a compra de apoio parlamentar. Também afirmou que o
esquema foi abastecido com dinheiro do Banco do Brasil, por
meio do fundo Visanet. O PT e
seus aliados argumentavam que
as irregularidades se resumiam a
um caixa 2 eleitoral e negavam o
uso de dinheiro público.
No mesmo dia em que o mensalão foi reconhecido oficialmente,
o plenário da Câmara absolveu
outro acusado de se beneficiar do
esquema.
O documento aprovado pela
CPI manteve a afirmação de que
não há provas para acusar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de
ter sido omisso em relação ao
mensalão, com a ressalva de que
ele não teria dificuldades para
perceber a existência do esquema.
O relatório pede ainda o indiciamento de pelo menos 118 pessoas.
Entre elas, dois ex-ministros da
equipe de Lula por suposta corrupção ativa (José Dirceu e Luiz
Gushiken), além do empresário
Marcos Valério Fernandes de
Souza e do ex-tesoureiro petista
Delúbio Soares, apontados como
responsáveis pela operação do
mensalão.
"Foi uma vitória suada, mas
corresponde ao que se esperava
do Parlamento. Foi uma vitória
da investigação correta sobre os
fatos que tivemos que averiguar",
afirmou Serraglio.
Entre as alterações feitas pelo
relator, a maioria de ordem técnica, está a inclusão no relatório de
trecho esclarecendo que o PT
contesta o caráter público do fundo Visanet -o Banco do Brasil
possui um terço das cotas desse
fundo, que banca a publicidade de
cartões de crédito e de débito com
a bandeira Visa.
Serraglio excluiu dos pedidos de
indiciamento o ex-presidente do
Banco do Brasil Cássio Casseb,
que era acusado de condescendência criminosa, alegando que o
crime estava prescrito. Ele fez o
mesmo com o vice-governador
de Minas Gerais, Clésio Andrade
(PTB), e com o atual presidente
dos Correios, Jânio Pohren.
O relator cancelou os pedidos
de indiciamento dos dois principais investigados de irregularidades na exploração de franquias
dos Correios, Armando Ferreira
Cunha e João Leite Neto. O sub-relator de contratos, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP),
contestou essas alterações e afirmou que não foi consultado a respeito. "Vai ter que fazer a CPI da
CPI", disse Cardozo.
Confusão
A surpresa da sessão foi o voto
favorável do deputado Medeiros
(PL-SP), que é da base aliada e filiado a um partido acusado de envolvimento com o mensalão. A
oposição também atraiu os votos
dos deputados Asdrúbal Bentes
(PMDB-PA) e Arnaldo Faria de
Sá (PTB-SP), que foram aplaudidos. "Votar contra esse relatório é
caixão e vela preta", disse Bentes.
Os petistas tentaram interromper a votação, que durou menos
de meia hora, mas foram impedidos pelo presidente da CPI. "Estamos em processo de votação, não
cabe questão de ordem. Eu vou
continuar a votação", afirmava
Delcídio, enquanto o deputado
Jorge Bittar (PT-RJ) se dirigia aos
berros a ele.
Delcídio foi criticado por colocar em votação o texto do relator
logo após ele ter lido as alterações
de última hora que fez. Essas alterações foram distribuídas aos
parlamentares quando a votação
já havia começado e não foram
discutidas na comissão.
Depois da aprovação do texto, o
presidente da CPI também não
colocou em discussão os destaques que haviam sido apresentados pelos parlamentares. "É ilegítimo, ilegal e contra o regimento
terminar a votação sem analisar
os destaques", disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Durante o dia ainda foi tentado
um acordo entre o PT e os partidos de oposição, mas nenhum
dos lados quis ceder.
Colaboraram RUBENS VALENTE e ADRIANO CEOLIN, da Sucursal de Brasília
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