São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Painel

RENATA LO PRETE painel@uol.com.br

Tentação infernal

Diante dos microfones, apenas Devanir Ribeiro (PT-SP) e uns poucos gatos-pingados a defendem, mas a tese de mudar a Constituição para permitir que Lula dispute um terceiro mandato consecutivo, recém-vitaminada pelas declarações do vice José Alencar, tem hoje mais receptividade do que se imagina nos bastidores da Câmara. "É uma tentação muito grande, diante da aprovação popular do presidente", afirma Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), líder da maior bancada da Casa. "Maior é o respeito à Constituição. Mas o Diabo vai continuar tentando."
Deputados governistas dizem que o grupo pró-terceiro mandato só não sai do armário para não atiçar a reação do Senado, onde a oposição é mais robusta.

Faísca 1. Um amigo que esteve recentemente com Lula assegura que os olhos do presidente brilharam quando foi mencionado o ano de 2014.

Faísca 2. Já um observador mais distanciado assistiu aos arroubos de Lula em defesa de Severino Cavalcanti e Renan Calheiros e concluiu: aquilo não é coisa de quem pensa em 2014, mas sim em 2010.

Pela ordem. A base governista, que cochilou quando permitiu a convocação de Dilma Rousseff pela Comissão de Infra-Estrutura, promete ficar bem acordada durante o depoimento. Qualquer tentativa de entrar no caso do dossiê sobre gastos de FHC será rechaçada não pela ministra, mas por senadores amigos, que alegarão se tratar de "assunto não-regimental".

Bunker. Na tentativa de serenar um pouco os ânimos no Senado, o presidente Garibaldi Alves (PMDB-RN) convocou líderes do governo e da oposição para um almoço na residência oficial nesta terça-feira. "Vou mandar construir um abrigo. Se a coisa apertar, deixo a turma quebrando o pau e desço para os confins do subterrâneo", brinca.

Mimada. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), avisa que, ainda que saia uma CPI dos Cartões exclusiva da Casa, a oposição não pode pretender comandar tudo. "Não dá para bancar o dono da bola, que a cada contrariedade ameaça parar o jogo e ir embora."

Onde... Ciro Gomes (PSB-CE) reage à mobilização para dinamitar a pré-candidatura de seu ex-assessor Márcio Lacerda em Belo Horizonte: "Considero inexplicável e uma grosseria contra um cara que não pediu para ser candidato. Nunca defendi nome nenhum. O que posso dar é o depoimento de que ele é extraordinário administrador".

...já se viu? Lacerda é o candidato do governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT), mas uma corrente petista liderada pelo ministro mineiro Patrus Ananias pede sua substituição. "Não creio que seja legítimo o PT dizer quem é o candidato do PSB, em lugar nenhum", afirma Ciro.

Efeito Molon 1. Petistas baianos têm um sonho. Nele, Lula repete o que fez no Rio de Janeiro e convence o PMDB a apoiar um candidato do PT à Prefeitura de Salvador. Só que Geddel Vieira Lima não é Sérgio Cabral.

Efeito Molon 2. O ministro peemedebista diz que seguirá com o atual prefeito, João Henrique, "nem que tenha de apoiá-lo sozinho na campanha". "Neste caso", conclui Geddel, "o PMDB estará livre para fazer o que quiser em 2010" -ano em que o governador Jaques Wagner (PT) tentará se reeleger.

Auto-ajuda. Provável relator do projeto de reforma tributária, matéria que claudica na Câmara desde 2003, Sandro Mabel (PR-GO) diz acreditar na sua aprovação ainda neste ano. Sua leitura de cabeceira é o "best-seller" "O Segredo", que ensina: queira com vontade e tenha pensamentos positivos que o universo conspirará a seu favor.

Tiroteio

Ele teve uma recaída autoritária. Deram poder a quem não deveriam ter dado. Mas no governo Lula tudo é possível, até o Franklin ser ministro.


Do ex-senador JORGE BORNHAUSEN (DEM-SC), sobre a cobrança feita pelo ministro Franklin Martins (Comunicação) para que a Folha revele as fontes de sua reportagem a respeito do dossiê de gastos de FHC.

Contraponto

Na manivela

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado recebeu na semana passada um grupo do Parlamento Valão, que reivindica a separação da Bélgica. Solícito, Eduardo Suplicy (PT-SP) tentou se comunicar com os visitantes em inglês. Falava pausadamente, como é de seu estilo, mas mesmo assim ninguém respondia. Até que o presidente da CCJ, Marco Maciel (DEM-PE), resolveu intervir:
-Senador Suplicy, ou o senhor fala em português ou em francês. Inglês não dá, eles não entendem nada!
Com dificuldade, o petista começou então a arranhar algumas frases em francês, e sua intervenção se estendeu ainda mais, para desespero dos demais senadores.


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