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Número de crianças mortas é desconhecido
DA REDAÇÃO
O número de índios mortos
por infanticídio no Brasil é uma
incógnita. Nos dados da Funasa
(Fundação Nacional de Saúde)
sobre mortalidade infantil indígena, ele aparece somado a
óbitos causados por "lesões, envenenamento e outras conseqüências de causas externas".
Esse grupo responde por
0,4% do total das mortes de
menores de um ano de idade,
segundo os últimos dados disponíveis da Funasa, de 2006.
Naquele ano, foram 665 óbitos
no país por mortalidade infantil indígena.
A explicação do órgão para a
falta de dados sobre mortos por
infanticídio está na forma como a identificação ainda é feita.
Quem contabiliza os óbitos e os
repassa para a sede da Funasa
são os 34 Dseis (Distritos Sanitários Especiais Indígenas) espalhados pelo país para atender
aos cerca de 460 mil índios.
Wanderley Guenka, diretor
há cerca de oito meses do Departamento de Saúde Indígena
da Funasa, acrescenta que muitas vezes o problema é anterior
à contabilização dos dados,
quando nem é possível identificar que houve infanticídio. O
problema aumenta, diz o servidor, quanto mais difícil for o
acesso à aldeia e o contato regular com os índios.
"Em Mato Grosso do Sul, é
fácil monitorar os índios desde
a gestação. Eles estão mais próximos de centros urbanos. Na
Amazônia, para chegar aos yanomamis, o deslocamento tem
de ser aéreo ou com barco",
afirma Guenka.
De acordo com o órgão, está
sendo implantada uma política
de investigação das mortes para que, com mais detalhes repassados pelos Dseis, a Funasa
identifique a causa do óbito.
Para Márcia Suzuki, da ONG
Atini, uma forma de diminuir
os casos de infanticídio seria a
realização de pré-natal nas aldeias, principalmente naquelas
onde gêmeos são rejeitados.
"Essas pessoas têm o direito de
saber, por exemplo, que existe
possibilidade de tratamento ou
cirurgia para resolver certos
problemas congênitos."
O médico sanitarista Douglas
Rodrigues, que trabalha há
mais de 20 anos no Projeto
Xingu da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), relata
que a falta de estrutura é um
empecilho. "Já existe ultrassom portátil, mas nós não temos. A gente pede, o Ministério
da Saúde não manda, fica nesse
vai-não-vai. Ultrassom até hoje
não está disponível no Xingu
nem em lugar nenhum."
Rodrigues acrescenta, no entanto, que não é só a falta de estrutura que impede o trabalho
dos profissionais de saúde.
"Não dá para acompanhar a hora do parto a não ser que o índio
avise. Se não avisar, quando vamos lá às vezes a criança já
morreu."
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