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Ações da PF aumentam busca por tecnologia contra grampo
Segundo procurador, cresceu uso de aparelhos criptografados para impedir escutas
Fabricante de software que dificulta grampo diz que, após operação da PF contra a Camargo Corrêa, procura aumentou mais de 100%
LILIAN CHRISTOFOLETTI
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O procurador da República
Rodrigo de Grandis, que atua
na Operação Satiagraha, deflagrada no ano passado, afirma
que, a cada nova investigação, é
perceptível o aumento do número de telefones ou HDs (memória de computador) criptografados, o que torna praticamente impossível o trabalho de
rastreamento das conversas
mantidas entre investigados.
A criptografia é um sistema
que bloqueia escutas telefônicas e telemáticas (e-mail, por
exemplo). Para os equipamentos mais sofisticados, ainda não
foi descoberta uma "chave
mestra" que permita acessar o
programa, tornando a comunicação violável.
"O uso é muito típico em crimes de colarinho-branco: diante da possibilidade de serem
descobertos, os investigados,
que possuem elevado poder
econômico, se valem de todos
os expedientes para garantir
impunidade", afirma.
O procurador não vê ilegalidade na venda de criptografia.
"O que me parece equivocado é
ela constituir um obstáculo absolutamente intransponível à
investigação", diz.
A Folha entrevistou quatro
diretores das maiores empresas do mercado antigrampo.
Todos foram unânimes ao dizer que, após cada operação da
Polícia Federal envolvendo escutas, a demanda aumenta.
"Depois da Camargo Corrêa
[alvo de investigação da Polícia
Federal na Operação Castelo
de Areia], a procura aumentou
mais do que 100%. Vou falar
em números fictícios. Se antes
eu vendia 30 equipamentos
por mês, depois da operação já
vendi 70, 80. São empresários
que querem a garantia de que a
comunicação deles, seja por
voz ou por dados, seja inviolável", diz Cesar Bremer Pinheiro, que fabrica e comercializa
software antigrampo.
"Você pode colocar todos os
supercomputadores do mundo
para tentar quebrar uma criptografia e não irá conseguir.
Nem eu, que fabrico, tenho a
senha de acesso, isso não existe", afirma Pinheiro.
Esse tipo de tecnologia, que
não prevê uma "porta de saída"
para que autoridades possam
acompanhar a comunicação
entre investigados, é proibida
em alguns países. No Brasil não
há nenhuma regulamentação
sobre ela (leia texto ao lado).
Os executivos investigados
na Castelo de Areia faziam "uso
incessante de telefones criptografados", o que impediu a polícia de acompanhar os diálogos. Os principais indícios de
suposta evasão de divisas e lavagem de dinheiro surgiram
porque os interlocutores dos
diretores não dispunham da
mesma tecnologia.
"Ao que tudo indica, grande
parte dos diálogos importantes
para a investigação, estabelecidos entre Dárcio [Brunato] e
Fernando [Dias Gomes, ambos
diretores da Camargo Corrêa],
estaria sendo feita com o uso
dessa nova tecnologia [criptografia]", diz um dos relatórios
da PF. No mesmo documento,
diálogos interceptados mostraram que os investigados usavam "softwares militares".
Agentes da PF disseram que
o uso da criptografia "demonstra a preocupação dos investigados em esconder o verdadeiro teor de suas tratativas".
A Operação Castelo de Areia
levantou ainda, segundo os empresários antigrampo, uma segunda preocupação -sobre como proteger dados armazenados em pen drives e CDs.
"Depois que a PF apreendeu,
na sede da Camargo Corrêa,
um pen drive com uma suposta
lista de políticos, muitos me
procuraram com a intenção de
proteger seus equipamentos
eletrônicos", disse Pinheiro.
Para Breno Niero, diretor de
desenvolvimento de outra empresa antigrampo, "as empresas brasileiras estão começando a entender que é preciso
proteger os dados, onde quer
que eles estejam, em CDs, pen
drives, notebooks, etc".
Uso legal
Advogados de investigados
na Castelo de Areia e diretores
das empresas antigrampo dizem que os produtos não são
usados para evitar uma investigação policial, mas para impedir a espionagem industrial e o
roubo de informações por meio
de escutas ilegais. Eles reclamam da invasão da intimidade
das pessoas.
"[Os grampos] continuam
sendo feito de maneira indiscriminada", diz Marcelo Copelioptch, diretor de empresa antigrampo, que defende o uso da
proteção para negócios legais.
Os principais clientes são órgãos estatais, ministérios e secretarias estaduais, bancos, seguradoras, mineradoras, políticos e empreiteiras. As tecnologias mais avançadas de criptografia têm origem israelense e
algumas empresas dizem que
seus produtos são certificados
pelo Ministério de Defesa de Israel. Os produtos mais sofisticados fazem ligação direta entre dois celulares, o que torna a
escuta impossível.
O aumento na demanda pelo
serviço antigrampo começou a
ser notado em 2008, especialmente com a instalação da CPI
dos Grampos. Neste ano, no entanto, o salto foi ainda maior,
segundo estimativa das próprias companhias.
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