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NOVO OESTE
Em Sapezal (MT), produtores são donos das ruas, dos canos de água, dos postes e da energia elétrica da cidade
Fronteira agrícola cresce `apesar' do Estado
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
enviado especial a Sapezal (MT)
Com o Estado, sem o Estado ou
apesar do Estado. Esse é o lema que
rege a vida na mais promissora
fronteira agrícola do país, a Chapada dos Parecis, no noroeste de
Mato Grosso. É a maior área
``agriculturável'' contínua do
mundo.
Lá, os produtores rurais autofinanciaram suas lavouras, assumiram obrigações que são tradicionalmente estatais e desenvolveram
a região. Os resultados podem ser
estimados a partir de um estudo do
governo federal.
A partir do ano 2000, o 1,5 milhão de hectares plantado no chapadão deve chegar a 20 milhões de
hectares e multiplicar a produção
de grãos de 3,8 milhões de toneladas para 50 milhões de toneladas.
A Chapada dos Parecis alia topografia plana e regime de chuvas
perfeito para o cultivo de soja à alta
tecnologia dos produtores. O resultado: picos de produtividade de
5,5 toneladas por hectare, o dobro
da média nacional.
Com 3.373 habitantes, o município de Sapezal é, ao mesmo tempo,
a mais nova face e a síntese dessa
região. Desmembrado de Campo
Novo do Parecis em 1994 e instalado em janeiro passado, já se pretende o pólo regional da chapada.
Lá, da rede de energia elétrica à
torre de transmissão que permite a
ligação telefônica com o mundo
externo, tudo foi construído com o
dinheiro dos empresários, à margem do aparelho estatal.
Estrategicamente situada entre a
produção e seu escoamento, a cidade é porta de acesso ao corredor
noroeste: misto de estrada e hidrovia que forma a rota mais curta do
cerrado até os portos dos países
importadores, na Europa.
O prefeito de Sapezal é, não por
acaso, o principal empresário da
região. André Maggi, 70, é o novo
rei da soja. Lidera um grupo que
fatura R$ 280 milhões por ano e está construindo a parte hidroviária
do corredor de exportação.
É o dono da maior parte das
áreas urbanas (que ele próprio loteou), da hidrelétrica, da rede de
água e até do prédio da prefeitura,
que dirige como se fosse uma empresa -investe 69% da receita e só
tem 11 funcionários.
A estrada, única contribuição estatal ao desenvolvimento da região, é eleita pelos produtores como seu principal problema. De
terra e cheia de buracos, ela fica
quase intransitável justamente na
época da colheita.
Nesse período, tráfego e chuva
são intensos. Até cem carretas com
soja cruzam diariamente os atoleiros do trecho de 130 km de terra até
o asfalto mais próximo. Isso custa
dinheiro aos agricultores.
``A saca de soja está de US$ 2,50
a US$ 3,00 mais barata em Sapezal
do que em Rondonópolis (no sul
de Mato Grosso). A diferença nunca foi maior do que US$ 1,20'', reclama Inácio Webler, um dos
maiores produtores da região.
Ele culpa o governo estadual,
mas também critica o prefeito de
Sapezal. É que Maggi usou as máquinas de suas empresas para melhorar a estrada na direção norte,
rumo à sua hidrovia, mas não fez o
mesmo na direção sul.
``Eu o questionei sobre isso como prefeito, e ele me respondeu
como empresário: disse que no
ano que vem o preço da soja para o
norte vai melhorar'', afirma Webler, um dos pioneiros em Sapezal.
Mesmo assim, ele diz que a chegada de grupos grandes como o
Maggi foi um ``mal necessário'':
``A região evoluiu''.
Produtor e presidente da Câmara
Municipal de Sapezal, Eleanor
Dal'Maso defende o prefeito. ``Sapezal é o que é hoje por causa do
dinheiro do `seu' André. Ele bancou toda a infra-estrutura'', diz.
De fato. Em 1991, quando começou a se formar o núcleo urbano,
Maggi construiu uma hidrelétrica
que permitiu a eletrificação de todas as fazendas da região. Os produtores só pagavam os postes e os
fios. A energia era de graça.
Detalhe: 80% dos municípios de
Mato Grosso têm problemas de
falta de eletricidade.
Em 1994, quando um plebiscito
emancipou o município, Maggi
fundou a Companhia de Desenvolvimento de Sapezal. Desde então até janeiro deste ano, quando o
prefeito tomou posse, a Cidezal assumiu a administração municipal.
A empresa perfurou poços artesianos e construiu toda a rede de
água e iluminação da cidade. Além
de ter plantado 10 mil árvores. Tudo financiado por Maggi.
Do lado empresarial, o grupo
construiu na cidade um armazém
com capacidade para estocar 117
mil toneladas de grãos. Os Maggi
compram a produção e vendem as
sementes para os agricultores.
Como prefeito, o principal objetivo de André Maggi é resolver o
problema da estrada. Conseguiu
transformar a MT-235, que corta o
município, em BR-364. A vantagem é que esta rodovia deve ser asfaltada pelo governo federal.
Enquanto o asfalto não vem,
Maggi inovou: fez aprovar uma lei
na Câmara Municipal autorizando
a prefeitura a emprestar cerca de
R$ 1,6 milhão em soja dos maiores
produtores locais. Com o dinheiro, vai comprar máquinas para
melhorar a estrada.
Dal'Maso resume a atuação de
Maggi: ``Ninguém planta para não
colher. Mas até agora ele gastou
muito mais do que tirou. E vai continuar gastando. É o sonho dele''.
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