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Ruralista propõe pacto para reforma
BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha
O presidente da Sociedade Rural
Brasileira (SRB), Luiz Hafers, 61,
propõe um pacto entre produtores
rurais, os sem-terra e o governo
para desatolar a reforma agrária.
``O que causa uma enorme frustração é que todos nós queremos
uma reforma agrária decente, mas
o processo não evolui'', disse Hafers à Folha.
Disposto a sentar-se à mesa com
as lideranças do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), Hafers acredita que a ampliação do número de assentamentos pode restaurar a confiança
e eliminar a tensão no campo.
Para ele, o diálogo é possível desde que o MST suspenda as invasões de terras. ``Esses conflitos só
provocam desânimo no campo e
incentivam a violência.''
A seguir os principais trechos da
entrevista de Hafers à Folha.
Folha - O senhor já fez elogios ao
MST e demonstrou simpatia pela
causa dos sem-terra. Ainda mantêm esta opinião?
Luiz Hafers - Não elogiei, apenas reconheci o problema. Mas
hoje acho que eles estão exagerando no argumento. E a melhor maneira de se perder a razão é exagerar.
A maioria da sociedade rural e
urbana se deu conta que existe um
grave problema social no campo.
A solução desse problema passa
pela situação da agricultura, pela
parceria e pela reforma agrária.
Vencida essa barreira e contando
hoje com a simpatia da sociedade,
o MST recrudesceu os seus esforços em atividades fora da lei.
A invasão, que eles chamam de
ocupação, é um instrumento de
pressão contra o governo, mas a
vítima é o fazendeiro. Não concordo com a violência. E a invasão é
uma violência.
Folha - Qual é a solução para os
conflitos agrários?
Hafers - Terra não é problema.
O que nós mais temos no país é
terra. O problema atual é resultado
da falta de uma política agrícola
nos últimos 30 anos.
A política agrícola tem que atender a segurança alimentar, a segurança social e a segurança cambial.
Mas nós não conseguimos convencer a sociedade que a agricultura é uma atividade importante.
O que temos hoje são duas agriculturas, dois problemas e duas soluções.
Há uma agricultura de mercado,
extremamente competente, mas
não tão eficiente no aspecto social,
porque não cria muitos empregos.
Temos também uma agricultura
familiar, que foi abandonada em
nome de uma suposta eficiência
ortodoxa, embora seja razoável do
ponto de vista da produção e muito boa no aspecto social.
Quando a agricultura engasgou,
deixou de criar empregos. Isto foi
se agravando, veio a crise da dívida, e geramos essa massa de desempregados que forma o movimento sem-terra.
O que esse povo quer é dignidade
e oportunidade. E isto a sociedade
deve a eles. Mas o MST, que é um
movimento político, fala muito
mais em expropriação do que em
assentamento.
Folha - Já houve alguma tentativa de pacto entre as lideranças rurais e o MST? Ou é impossível esse
diálogo?
Hafers - Não, não é impossível.
O que nós queremos é a reforma
agrária dentro da ordem, dentro
da lei. Fica difícil convencer meus
pares da não-violência, quando
eles são vítimas da violência. Mesmo o fazendeiro produtivo hoje
tem medo das invasões.
Folha - Como o senhor avalia a
ação do governo?
Hafers - Tem melhorado, mas
não tem sido suficiente.
Outro dia tive uma reunião com
a cúpula do PT na casa do meu primo Eduardo (o senador Eduardo
Matarazzo Suplicy). Estavam
Eduardo, Marta, José Dirceu e José
Graziano. Eles acham que o governo FHC não quer fazer a reforma
agrária.
Eu acho o contrário. Já foram assentadas 100 mil famílias. É muita
gente. Se fizermos um movimento
grande de assentamento este ano e
no próximo, vamos restaurar a
confiança.
Temos que sair do conflito para
gerar soluções.
Folha - A queda dos preços das
terras também é resultado das invasões?
Hafers - Não. Talvez isto aconteça em regiões como o Pontal do
Paranapanema.
Folha - A nova lei do ITR pode ser
instrumento para a reforma agrária?
Hafers - Como instrumento sinalizador foi muito importante.
Nós apoiamos a nova lei. O conceito era de que o agricultor produtivo ficasse igual e o improdutivo fosse taxado. Acho até que fizemos um favor para o improdutivo.
Folha - Sem a invasão de terras,
a reforma agrária teria evoluído?
Hafers - Acho que sim. Tem
muita gente inteligente neste país
que sabe da necessidade de um
grande avanço agrícola e da importância da reforma agrária. É
verdade que o MST conseguiu acelerar o processo. Mas agora eles estão caindo. Acho que podemos fazer uma reforma agrária maior do
que deseja o próprio MST.
Folha - Há muita terra improdutiva para ser desapropriada?
Hafers - Tem de tudo: terra improdutiva, terra que o proprietário quer vender, terra que o sujeito
desistiu. Isto é uma coisa que eu
não consigo convencer os urbanos. Terra não é o problema. Terra
é apenas o botão do terno. Você
tem que ter alfaiate, pano, linha,
uma porção de coisas. Existe uma
quantidade enorme de fazendeiros dispostos a vender suas terras
por um preço razoável. Mas os
mais radicais do MST acham que
se deve tomar a terra. Querem punir. São revanchistas.
Folha - O senhor é contra a desapropriação?
Hafers - Antes da desapropriação, deve haver uma negociação.
Se o governo abrir a boca e oferecer preços razoáveis, se entope de
terra.
Folha - Os sem-terra ganharam
um grande espaço na mídia, a
ponto de virarem personagens de
novela. Como conquistaram essa
simpatia?
Hafers - O pobre sempre teve
mais simpatia do que o rico. Só
que hoje o fazendeiro também está
pobre. A imagem do fazendeiro
melhorou muito, mas ainda não é
boa.
Folha - Por quê o fazendeiro tem
uma imagem ruim?
Hafers - Ele tem medo da mídia
e acaba se isolando. O sujeito que
mexe com boi é mais rústico. A sociedade urbana tem uma série de
preconceitos em relação ao homem do campo.
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