São Paulo, sábado, 06 de maio de 2000


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Iniciativa cabe ao MST, diz governo

MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília

Apesar de a desocupação dos prédios públicos pelos sem-terra ter aliviado a tensão dos últimos dias no Palácio do Planalto, o governo avaliou ontem que caberá aos líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) tomar a iniciativa de retomar as negociações.
O caminho para retomar o diálogo, insistiam os principais assessores do presidente Fernando Henrique Cardoso, é um só: os sem-terra têm de procurar o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann -interlocutor que já haviam recusado anteriormente.
O único gesto do governo em favor da negociação ontem foi reiterar que está aberto a um entendimento.
Os ministros Raul Jungmann e José Gregori (Justiça) nem sequer comentaram as reivindicações por aumento de crédito aos assentados. O governo tampouco se pronunciou sobre ameaças de novos conflitos depois de um período de trégua estimado em uma semana.
O governo ditou apenas uma orientação geral para o relacionamento com os sem-terra, segundo Aloysio Nunes Ferreira, secretário-geral da Presidência. ""Vamos continuar tratando o movimento social pela reforma agrária como tal, queremos ouvir o que eles querem; já os invasores de prédios serão tratados como transgressores", disse.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio do porta-voz, Georges Lamazière, afirmou que não pretende combater movimentos sociais com a Polícia Federal ou o Exército, mas insistiu que ""depredação de prédios públicos não é atividade típica de movimentos sociais, nem deve ser tolerada".
Essa é a fórmula do Planalto para enfrentar o que avalia ser a radicalização do movimento, traduzida ontem pela decisão de FHC de reforçar a ação da Polícia Federal na defesa do patrimônio da União e bloquear a desapropriação de terras invadidas.

Ação coordenada
De acordo com a avaliação feita na Presidência, há uma clara ação coordenada nacionalmente pelos sem-terra contra o governo FHC, intensificada no ano passado e, especialmente, durante essa semana.
A desocupação ontem do último prédio público invadido pelos sem-terra em Cuiabá (MT) inspirou uma contida comemoração no governo federal com o desfecho do caso.
A comemoração tinha pelo menos um forte motivo: caso o governo tivesse esgotado todas as alternativas de negociação com os sem-terra, teria de apelar para uma intervenção das Forças Armadas e os riscos seriam altos, comentou ontem Nunes Ferreira.
Além disso, FHC ouviu anteontem do ministro da Defesa, Geraldo Quintão, e do comandante do Exército, Gleuber Vieira, ponderações contrárias a uma intervenção das Forças Armadas em áreas urbanas e sobretudo num conflito radicalizado.
""O Exército permanece como último recurso", disse ontem o porta-voz da Presidência. Antes de apelar para as Forças Armadas, FHC espera que os governos dos Estados contenham os sem-terra com suas polícias, comentou Lamazière.
FHC faria um balanço do episódio ontem à noite. Ele estava reunido no Palácio da Alvorada com um grupo de quatro ministros -Aloysio Nunes Ferreira, José Gregori, Pedro Parente (Casa Civil) e Alberto Cardoso (Segurança Institucional).


Colaborou a Sucursal de Brasília


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