|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Iniciativa cabe ao MST, diz governo
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Apesar de a desocupação dos
prédios públicos pelos sem-terra
ter aliviado a tensão dos últimos
dias no Palácio do Planalto, o governo avaliou ontem que caberá
aos líderes do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) tomar a iniciativa de retomar as negociações.
O caminho para retomar o diálogo, insistiam os principais assessores do presidente Fernando
Henrique Cardoso, é um só: os
sem-terra têm de procurar o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann -interlocutor que já haviam recusado anteriormente.
O único gesto do governo em
favor da negociação ontem foi reiterar que está aberto a um entendimento.
Os ministros Raul Jungmann e
José Gregori (Justiça) nem sequer
comentaram as reivindicações
por aumento de crédito aos assentados. O governo tampouco se
pronunciou sobre ameaças de novos conflitos depois de um período de trégua estimado em uma
semana.
O governo ditou apenas uma
orientação geral para o relacionamento com os sem-terra, segundo Aloysio Nunes Ferreira, secretário-geral da Presidência. ""Vamos continuar tratando o movimento social pela reforma agrária
como tal, queremos ouvir o que
eles querem; já os invasores de
prédios serão tratados como
transgressores", disse.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio do porta-voz, Georges Lamazière, afirmou
que não pretende combater movimentos sociais com a Polícia Federal ou o Exército, mas insistiu
que ""depredação de prédios públicos não é atividade típica de
movimentos sociais, nem deve
ser tolerada".
Essa é a fórmula do Planalto para enfrentar o que avalia ser a radicalização do movimento, traduzida ontem pela decisão de FHC
de reforçar a ação da Polícia Federal na defesa do patrimônio da
União e bloquear a desapropriação de terras invadidas.
Ação coordenada
De acordo com a avaliação feita
na Presidência, há uma clara ação
coordenada nacionalmente pelos
sem-terra contra o governo FHC,
intensificada no ano passado e,
especialmente, durante essa semana.
A desocupação ontem do último prédio público invadido pelos
sem-terra em Cuiabá (MT) inspirou uma contida comemoração
no governo federal com o desfecho do caso.
A comemoração tinha pelo menos um forte motivo: caso o governo tivesse esgotado todas as alternativas de negociação com os
sem-terra, teria de apelar para
uma intervenção das Forças Armadas e os riscos seriam altos, comentou ontem Nunes Ferreira.
Além disso, FHC ouviu anteontem do ministro da Defesa, Geraldo Quintão, e do comandante do
Exército, Gleuber Vieira, ponderações contrárias a uma intervenção das Forças Armadas em áreas
urbanas e sobretudo num conflito
radicalizado.
""O Exército permanece como
último recurso", disse ontem o
porta-voz da Presidência. Antes
de apelar para as Forças Armadas,
FHC espera que os governos dos
Estados contenham os sem-terra
com suas polícias, comentou Lamazière.
FHC faria um balanço do episódio ontem à noite. Ele estava reunido no Palácio da Alvorada com
um grupo de quatro ministros
-Aloysio Nunes Ferreira, José
Gregori, Pedro Parente (Casa Civil) e Alberto Cardoso (Segurança
Institucional).
Colaborou a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Invasões: PF indicia 2 sem-terra na Lei de Segurança Nacional Próximo Texto: MST deixa prédios, mas ameaça voltar Índice
|