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Mercadante não é
o "PT real", diz MST
FÁBIO ZANINI
da Reportagem Local
O diretor nacional do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) Gilmar Mauro,
33, atacou ontem o líder do PT na
Câmara dos Deputados, Aloizio
Mercadante, dizendo que ele não
faz parte do "PT real".
Foi uma resposta às críticas feitas por Mercadante às invasões de
prédios públicos em várias capitais do país por sem-terra nesta
semana, em que o deputado condenou a "depredação" resultante
das ações.
"Mercadante faz parte dos 10%
do PT que estão institucionalizados, ou seja, mais preocupados
em vencer as eleições de outubro
(para prefeitos e vereadores) do
que em promover as reformas sociais. O PT dele não é o PT real",
afirmou o diretor, depois de participar de uma marcha com cerca
de 600 sem-terra pelas ruas do
centro da cidade de São Paulo.
"É claro que é importante fazer
muitas prefeituras, mas sem abrir
mão de lutar pelas reformas fundamentais ao país", disse.
Visões
Para o dirigente, alguns setores
do partido têm uma visão diferente da dos militantes. "Este é o
PT real", disse o diretor, apontando para as pessoas que tomaram
parte na marcha.
Mauro não quis especificar
quem pertenceria ao restante dos
10% do "PT não real". Disse apenas que muitos deles pertenciam
à Articulação, corrente interna do
partido, da qual Mercadante faz
parte, considerada "moderada".
Mas ele poupou de suas críticas
o líder petista Luiz Inácio Lula da
Silva, também da Articulação.
"Falei com um assessor do Lula
hoje (ontem) mesmo e ele nos
deu total apoio", afirmou.
Apesar das críticas ao líder do
PT, Mauro disse que não virou
inimigo de Mercadante.
"Temos discordâncias, mas
continuamos respeitando o Mercadante. Não rachamos nem nos
tornamos inimigos", afirmou Gilmar Mauro.
Outro lado
Aloizio Mercadante afirmou
que as declarações de Gilmar
Mauro "não são positivas para o
movimento e não correspondem
à solidariedade da bancada à luta
dos trabalhadores sem terra pela
reforma agrária".
Mercadante disse que se empenhou na tentativa de retomada
das negociações entre o MST e o
governo e na busca de uma saída
para evitar o confronto dos sem-terra que ocupavam prédios públicos com a polícia.
O líder afirmou que a nota divulgada terça-feira criticando a
depredação de prédios públicos
foi aprovada pela bancada.
"Expressei o sentimento da
bancada de apoio à luta dos trabalhadores rurais, mas depredação
não interessa ao movimento nem
à sociedade, conforme o próprio
Gilmar Mauro já reconheceu."
Segundo o petista, Gilmar Mauro "está muito distante do PT" para fazer considerações sobre o nível de representatividade do deputado dentro do partido.
"Sou o segundo deputado do
PT mais votado em São Paulo. Fui
indicado pela bancada, por unanimidade, para liderá-la", afirmou Mercadante.
Repercussão
As declarações de Gilmar Mauro repercutiram mal dentro do
PT. O presidente nacional do partido, deputado José Dirceu (SP), e
o deputado José Genoino (PT-SP), telefonaram para a Folha e
criticaram o líder dos sem-terra.
"O Gilmar Mauro deveria se
preocupar com o governo", disse
José Dirceu. "As declarações são
inconvenientes. Os movimentos
sociais e os partidos populares devem se unir e não ficar nesse tipo
de bate-boca", afirmou Genoino.
Genoino lembrou que ficou em
Brasília com Mercadante até o
início da tarde de ontem para
acompanhar a desocupação do
prédio da Superintendência do
Incra. "Quebrar prédios e constranger as pessoas não é bom para
o movimento", disse.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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