São Paulo, sábado, 06 de maio de 2000


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Mercadante não é o "PT real", diz MST

FÁBIO ZANINI
da Reportagem Local

O diretor nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Gilmar Mauro, 33, atacou ontem o líder do PT na Câmara dos Deputados, Aloizio Mercadante, dizendo que ele não faz parte do "PT real".
Foi uma resposta às críticas feitas por Mercadante às invasões de prédios públicos em várias capitais do país por sem-terra nesta semana, em que o deputado condenou a "depredação" resultante das ações.
"Mercadante faz parte dos 10% do PT que estão institucionalizados, ou seja, mais preocupados em vencer as eleições de outubro (para prefeitos e vereadores) do que em promover as reformas sociais. O PT dele não é o PT real", afirmou o diretor, depois de participar de uma marcha com cerca de 600 sem-terra pelas ruas do centro da cidade de São Paulo.
"É claro que é importante fazer muitas prefeituras, mas sem abrir mão de lutar pelas reformas fundamentais ao país", disse.

Visões
Para o dirigente, alguns setores do partido têm uma visão diferente da dos militantes. "Este é o PT real", disse o diretor, apontando para as pessoas que tomaram parte na marcha.
Mauro não quis especificar quem pertenceria ao restante dos 10% do "PT não real". Disse apenas que muitos deles pertenciam à Articulação, corrente interna do partido, da qual Mercadante faz parte, considerada "moderada".
Mas ele poupou de suas críticas o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, também da Articulação. "Falei com um assessor do Lula hoje (ontem) mesmo e ele nos deu total apoio", afirmou.
Apesar das críticas ao líder do PT, Mauro disse que não virou inimigo de Mercadante.
"Temos discordâncias, mas continuamos respeitando o Mercadante. Não rachamos nem nos tornamos inimigos", afirmou Gilmar Mauro.

Outro lado
Aloizio Mercadante afirmou que as declarações de Gilmar Mauro "não são positivas para o movimento e não correspondem à solidariedade da bancada à luta dos trabalhadores sem terra pela reforma agrária".
Mercadante disse que se empenhou na tentativa de retomada das negociações entre o MST e o governo e na busca de uma saída para evitar o confronto dos sem-terra que ocupavam prédios públicos com a polícia.
O líder afirmou que a nota divulgada terça-feira criticando a depredação de prédios públicos foi aprovada pela bancada.
"Expressei o sentimento da bancada de apoio à luta dos trabalhadores rurais, mas depredação não interessa ao movimento nem à sociedade, conforme o próprio Gilmar Mauro já reconheceu."
Segundo o petista, Gilmar Mauro "está muito distante do PT" para fazer considerações sobre o nível de representatividade do deputado dentro do partido.
"Sou o segundo deputado do PT mais votado em São Paulo. Fui indicado pela bancada, por unanimidade, para liderá-la", afirmou Mercadante.

Repercussão
As declarações de Gilmar Mauro repercutiram mal dentro do PT. O presidente nacional do partido, deputado José Dirceu (SP), e o deputado José Genoino (PT-SP), telefonaram para a Folha e criticaram o líder dos sem-terra.
"O Gilmar Mauro deveria se preocupar com o governo", disse José Dirceu. "As declarações são inconvenientes. Os movimentos sociais e os partidos populares devem se unir e não ficar nesse tipo de bate-boca", afirmou Genoino.
Genoino lembrou que ficou em Brasília com Mercadante até o início da tarde de ontem para acompanhar a desocupação do prédio da Superintendência do Incra. "Quebrar prédios e constranger as pessoas não é bom para o movimento", disse.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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