São Paulo, domingo, 06 de maio de 2001

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PARTIDOS EM CRISE
Afilhado de Mário Covas, secretário paulista deve ser eleito presidente do partido no próximo dia 19

Tasso avaliza José Aníbal na chefia do PSDB

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado federal licenciado e secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo, José Aníbal (SP), deverá ser o novo presidente do PSDB. O deputado federal Márcio Fortes (RJ) tende a continuar no posto de secretário-geral. O nome de Aníbal é resultado de uma articulação comandada pelo governador do Ceará, Tasso Jereissati, e pelo presidente da Câmara, Aécio Neves (MG).
O presidente Fernando Henrique Cardoso já havia dado a bênção à operação. O ministro José Serra (Saúde), porém, tenta revertê-la com pouca chance de sucesso. A escolha de Aníbal representará um freio no projeto presidencial de Serra.
O ministro da Saúde, que não emplacou o ex-quercista e deputado federal Alberto Goldmann (SP), retirou a antiga objeção ao ministro Pimenta da Veiga (Comunicações) a fim de tentar impedir a eleição de Aníbal no próximo dia 19. A improvável opção por Pimenta será vista como ruim para Serra, mas em menor escala do que a vitória de Aníbal.
Pimenta prefere Tasso, que disputa com Serra a candidatura tucana ao Planalto em 2002.
A eleição de Aníbal é a tentativa de construir uma nova cúpula que resgate a imagem original social-democrata e ética do partido, descolando-se do governo FHC e de seus aliados, o PMDB e o PFL.
Aníbal é um dos poucos parlamentares tucanos que começou a carreira no PT, em 1980. Ingressou no PMDB em 82. Aderiu ao PSDB em 90. Eleito suplente de deputado federal naquele ano, foi efetivado em 93. Reeleito em 94, tornou-se líder do PSDB na Câmara de 95 a 97. Novamente eleito, licenciou-se do cargo para integrar o secretariado de Covas.
Há um mês, diante das resistências a Pimenta, Tasso deu força para Aníbal se articular com governadores, ministros e a maior parte da bancada no Congresso.
Aníbal obteve o apoio do presidente da Câmara, Aécio Neves (MG), dos governadores Dante de Oliveira (MT), Geraldo Alckmin (SP) e Almir Gabriel (PA), além do próprio Pimenta.
O ministro das Comunicações era o preferido de FHC, desde que deixasse a pasta. Serra tenta obter a permissão do presidente para o acúmulo. Pimenta está avaliando se continua com Aníbal ou se entra na articulação serrista. Parece tarde para ter êxito.
Reagindo a Aníbal, Serra, FHC e o ministro-chefe da Secretaria Geral, Aloysio Nunes Ferreira, chegaram a insistir no nome de Alberto Goldmann (SP).
Houve oposição. A principal objeção: os vínculos de Goldmann com o quercismo, num momento em que o PSDB quer recuperar a raiz social-democrata e se diferenciar do PMDB e do PFL para disputar com boas chances as eleições de 2002.
O PSDB surgiu de uma dissidência do PMDB quando Orestes Quércia comandava o partido.
Um grupo minoritário chegou a pensar em Aloysio, também um ex-quercista, mas a idéia foi descartada. Aloysio e Goldmann deixaram o PMDB de Quércia nove anos depois de criado o PSDB. Viraram tucanos apenas em 1997, na época do inchaço do partido.
No final de abril, Goldmann, com ajuda do presidente, de Serra e de Aloysio, tentou reverter a articulação a favor de Aníbal, que ganhou força com o apoio de Aécio. A união Aécio-Aníbal, com apoio de Tasso, levou FHC a desistir de Goldmann. Uma saída para Serra, a fim de não parecer derrotado, é aceitar Aníbal, que deverá deixar o secretariado de Alckmin e voltar à Câmara.
O perfil de Aníbal combina com os planos dos novos cardeais tucanos, como Aécio, de fazer do PSDB um partido com voz mais firme em relação ao governo e à aliança que sustenta FHC.
De perfil agressivo, mas bom articulador, Aníbal é visto por Aécio e Tasso como independente de FHC e Serra. Para Tasso e Aécio, o ministro da Saúde tem demonstrado apetite demais para ser o candidato a presidente.
A idéia não é derrubar Serra. Mas deixar claro que, se ele quiser ser candidato, deverá buscar o apoio do partido e não se impor como fato consumado por apresentar, por ora, o melhor desempenho tucano em pesquisas.


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