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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Em inauguração de locomotiva em Minas, presidente defende novo tratamento a mártir e diz que povo brasileiro é "porreta"
Para Lula, Tiradentes foi "revolucionário", e não "inconfidente"
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A MARIANA E OURO PRETO (MG)
Empolgado depois de um passeio de mais de uma hora numa
Maria Fumaça reformada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
criticou ontem os historiadores e
disse que está na hora de Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier,
1746-1789) não ser mais chamado
de "inconfidente", mas sim de
"revolucionário".
"Minas Gerais vai crescer um
pouco mais e vai ter de tomar
uma decisão. Porque eu vejo muita gente falar o seguinte: aqui nasceram, aqui moraram os inconfidentes. Inconfidentes para quem,
cara pálida? Para quem Tiradentes era inconfidente? Ele era inconfidente para a Coroa portuguesa. Na verdade, eles eram revolucionários, que lutavam pela
independência do Brasil, para que
as riquezas produzidas nesta região ficassem aqui", disse.
Lula defendeu esse "revisionismo histórico" depois de inaugurar uma locomotiva que liga Mariana a Ouro Preto (MG), num
trem lotado de políticos da região.
Antigamente chamado de Maria
Fumaça, agora foi renomeado para Trem da Vale, porque a Companhia Vale do Rio Doce bancou
os R$ 48,5 milhões da reforma.
"Acho que quem sabe seja um
bom tema para que os nossos historiadores comecem a discutir
daqui para a frente. Porque, veja,
ele foi um homem que pensou na
independência do Brasil. Foi
morto. Esquartejado, salgaram a
sua carne. Mas as idéias dele continuaram. Trinta anos depois, o
milagre que ele tentou produzir
foi feito por dom Pedro 1º."
Ao lado do governador Aécio
Neves (PSDB), Lula criticou todos
os seus antecessores.
"Foi irresponsabilidade histórica de todos os governos que passaram por este país, independentemente do partido, deixar essa
ferrovia virar um ferro-velho",
disse Lula. Depois, afirmou que a
reforma feita em seu governo vai
surpreender os visitantes. "Qualquer turista, pode ser alemão, inglês, francês, russo, sueco, argentino, qualquer um que vir essa ferrovia vai dizer: o povo brasileiro é
muito do porreta!"
Apesar da polêmica toda vez
que toca no tema da bebida alcoólica, o presidente disse ontem que
preferia uma festa com comida e
"caninha" a ter de discursar.
"Quando a gente terminou essa
viagem do trem, deveria ter uma
festa, uma mesa de feijão tropeiro,
de pururuca. Não vou nem dizer
uma Havana, uma de Salinas [famosa cachaça mineira], não vou
dizer, porque senão vão dizer que
estou induzindo os ministros a tomar uma caninha".
Mas o presidente terá oportunidade para aproveitar tudo isso.
Lula passaria a noite de ontem e
ao menos o dia de hoje na fazenda
do ministro Walfrido Mares Guia
(Turismo), em Santo Antônio do
Leite (a 25 km de Ouro Preto).
"Vai ter comida mineira, e no fogão a lenha", disse Walfrido, pela
janela do trem. E cachaça? "Claro,
uma Havana de Salinas."
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