São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

Texto Anterior | Índice

ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Em inauguração de locomotiva em Minas, presidente defende novo tratamento a mártir e diz que povo brasileiro é "porreta"

Para Lula, Tiradentes foi "revolucionário", e não "inconfidente"

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A MARIANA E OURO PRETO (MG)

Empolgado depois de um passeio de mais de uma hora numa Maria Fumaça reformada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem os historiadores e disse que está na hora de Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier, 1746-1789) não ser mais chamado de "inconfidente", mas sim de "revolucionário".
"Minas Gerais vai crescer um pouco mais e vai ter de tomar uma decisão. Porque eu vejo muita gente falar o seguinte: aqui nasceram, aqui moraram os inconfidentes. Inconfidentes para quem, cara pálida? Para quem Tiradentes era inconfidente? Ele era inconfidente para a Coroa portuguesa. Na verdade, eles eram revolucionários, que lutavam pela independência do Brasil, para que as riquezas produzidas nesta região ficassem aqui", disse.
Lula defendeu esse "revisionismo histórico" depois de inaugurar uma locomotiva que liga Mariana a Ouro Preto (MG), num trem lotado de políticos da região. Antigamente chamado de Maria Fumaça, agora foi renomeado para Trem da Vale, porque a Companhia Vale do Rio Doce bancou os R$ 48,5 milhões da reforma.
"Acho que quem sabe seja um bom tema para que os nossos historiadores comecem a discutir daqui para a frente. Porque, veja, ele foi um homem que pensou na independência do Brasil. Foi morto. Esquartejado, salgaram a sua carne. Mas as idéias dele continuaram. Trinta anos depois, o milagre que ele tentou produzir foi feito por dom Pedro 1º."
Ao lado do governador Aécio Neves (PSDB), Lula criticou todos os seus antecessores.
"Foi irresponsabilidade histórica de todos os governos que passaram por este país, independentemente do partido, deixar essa ferrovia virar um ferro-velho", disse Lula. Depois, afirmou que a reforma feita em seu governo vai surpreender os visitantes. "Qualquer turista, pode ser alemão, inglês, francês, russo, sueco, argentino, qualquer um que vir essa ferrovia vai dizer: o povo brasileiro é muito do porreta!"
Apesar da polêmica toda vez que toca no tema da bebida alcoólica, o presidente disse ontem que preferia uma festa com comida e "caninha" a ter de discursar.
"Quando a gente terminou essa viagem do trem, deveria ter uma festa, uma mesa de feijão tropeiro, de pururuca. Não vou nem dizer uma Havana, uma de Salinas [famosa cachaça mineira], não vou dizer, porque senão vão dizer que estou induzindo os ministros a tomar uma caninha".
Mas o presidente terá oportunidade para aproveitar tudo isso. Lula passaria a noite de ontem e ao menos o dia de hoje na fazenda do ministro Walfrido Mares Guia (Turismo), em Santo Antônio do Leite (a 25 km de Ouro Preto). "Vai ter comida mineira, e no fogão a lenha", disse Walfrido, pela janela do trem. E cachaça? "Claro, uma Havana de Salinas."


Texto Anterior: TRE-SP suspende repasse do fundo partidário ao PSDB
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.