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INVESTIGAÇÃO
Brasileiros que vivem em Miami arrecadaram, segundo a polícia, ao menos US$ 4 milhões vendendo papéis
PF diz ter prova de que dossiê Caribe é falso
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A PF (Polícia Federal) anunciou
ontem que tem provas de que o
dossiê Caribe é falso e que descobriu que dois grupos de brasileiros que vivem em Miami arrecadaram ao menos US$ 4 milhões
vendendo a papelada a pelo menos nove pessoas, entre empresários, políticos e religiosos. O valor
e o número de compradores podem ser maiores, informou a PF.
Os delegados Paulo de Tarso
Teixeira, responsável pela nova
investigação do caso, e Jorge Pontes, da Interpol, disseram também
ter provas de que é falso o documento que apontava o ministro
Sérgio Motta, morto em 1998, como diretor da empresa CH, J & T,
de Nassau (Bahamas).
A Folha revelou em abril de
2000 que empresários e políticos
brasileiros tentaram usar o dossiê
para chantagem política e ganho
de US$ 200 milhões. E revelou na
semana passada que o FBI disse à
PF que Motta não dirigia a empresa. A PF confirmou ontem o que a
Folha publicou.
O dossiê é um conjunto de papéis, cujas partes principais têm
se mostrado falsas, sobre supostas
contas no exterior da empresa
CH, J & T Inc., que pertenceria a
Motta, ao presidente Fernando
Henrique Cardoso, ao ministro
da Saúde, José Serra, e ao governador paulista Mário Covas
-morto no começo de março.
FHC e Serra sempre negaram. Covas também negava. Motta morreu antes de o caso aparecer.
A PF não revelou parte das provas e dos testemunhos que diz ter.
Argumentou que as investigações
correm em segredo judicial. "Não
resta dúvida de que é completamente falso o dossiê. Estamos
aguardando apenas a chegada de
alguns documentos das Bahamas
e dos Estados Unidos para terminar a investigação", disse Paulo de
Tarso Teixeira.
Segundo a PF, os três principais
falsificadores e negociadores do
dossiê seriam Honor Rodrigues
da Silva, João Roberto Barusco e
Ney Lemos dos Santos. A Folha
apurou que a PF pediu aos EUA a
prisão e a extradição dos três.
Honor, Barusco e Santos alegam terem sido meros intermediários da venda do dossiê. Mas
Paulo de Tarso disse que "eles
criaram essa versão para esconder
a culpa" e que responderão, "em
tese", por "estelionato, formação
de quadrilha e falsidade ideológica". A respeito da carta que Honor enviou a FHC dizendo-se inocente e testemunha de um golpe
contra o governo, Paulo de Tarso
disse: "Não dá para acreditar numa palavra do que ele escreveu".
O segundo grupo envolvido
com o dossiê é composto por Oscar de Barros e José Maria Teixeira Ferraz que, de acordo com a
PF, teria idealizado o dossiê e depois obtido ou produzido a papelada para vendê-la. Barros e Teixeira Ferraz estão presos em Miami, condenados por tentativa de
lavagem de dinheiro para o narcotráfico. Barros nega envolvimento com o dossiê e a tentativa
de lavar dinheiro. Teixeira Ferraz
foi gravado pelo FBI dizendo ter
"a papelada" sobre FHC e admitiu
a ligação com o narcotráfico.
"Esse documento é como uma
nota de três reais", disse Jorge
Pontes a respeito do papel que indicava Motta como diretor da CH,
J & T. Ele mostrou documentos
que revelam que a Fregon Corporation, que junto com a Trident
criou a CH, J & T, não existia à
época da suposta indicação de
Motta para diretor -janeiro de
1994. A Fregon foi criada em 7 de
fevereiro de 1995. "É como o filho
ser testemunha de nascimento do
pai", disse Paulo de Tarso.
A PF pediu às autoridades das
Bahamas, um paraíso fiscal, que
desvende quem criou a empresa.
Se confirmada oficialmente, a informação será uma das duas principais provas de que o dossiê Caribe foi falsificado. A outra prova,
revelada pela Folha em abril,
mostrou ser falso um extrato de
US$ 352,971 milhões de uma suposta conta da CH, J & T.
Em depoimento, o empresário
brasileiro radicado em Miami
Luiz Cláudio Ferraz Silva disse ter
intermediado a venda do dossiê
Caribe a Leopoldo Collor, irmão
do ex-presidente Fernando Collor
de Mello, e ao ex-senador Gilberto
Miranda. Os dois teriam repassado os papéis ao ex-prefeito Paulo
Maluf. Leopoldo, Collor, Miranda
e Maluf negam tudo.
Honor, Santos e Barusco também deram declarações, como
Ferraz Silva, ao advogado dos
quatro, Frank Rubino, que tem
poder de notário nos EUA. Esse
depoimento, uma versão para se
defenderem de supostas ameaças
de Miranda, está com Rubino.
A PF não mencionou Miranda e
Leopoldo, mas confirmou que
Ferraz Silva deu o depoimento a
Rubino. Confirmou ainda a informação de que o depoimento "não
está na Justiça norte-americana",
mas com o advogado.
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