São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2001

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INVESTIGAÇÃO

Brasileiros que vivem em Miami arrecadaram, segundo a polícia, ao menos US$ 4 milhões vendendo papéis

PF diz ter prova de que dossiê Caribe é falso

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A PF (Polícia Federal) anunciou ontem que tem provas de que o dossiê Caribe é falso e que descobriu que dois grupos de brasileiros que vivem em Miami arrecadaram ao menos US$ 4 milhões vendendo a papelada a pelo menos nove pessoas, entre empresários, políticos e religiosos. O valor e o número de compradores podem ser maiores, informou a PF.
Os delegados Paulo de Tarso Teixeira, responsável pela nova investigação do caso, e Jorge Pontes, da Interpol, disseram também ter provas de que é falso o documento que apontava o ministro Sérgio Motta, morto em 1998, como diretor da empresa CH, J & T, de Nassau (Bahamas).
A Folha revelou em abril de 2000 que empresários e políticos brasileiros tentaram usar o dossiê para chantagem política e ganho de US$ 200 milhões. E revelou na semana passada que o FBI disse à PF que Motta não dirigia a empresa. A PF confirmou ontem o que a Folha publicou.
O dossiê é um conjunto de papéis, cujas partes principais têm se mostrado falsas, sobre supostas contas no exterior da empresa CH, J & T Inc., que pertenceria a Motta, ao presidente Fernando Henrique Cardoso, ao ministro da Saúde, José Serra, e ao governador paulista Mário Covas -morto no começo de março. FHC e Serra sempre negaram. Covas também negava. Motta morreu antes de o caso aparecer.
A PF não revelou parte das provas e dos testemunhos que diz ter. Argumentou que as investigações correm em segredo judicial. "Não resta dúvida de que é completamente falso o dossiê. Estamos aguardando apenas a chegada de alguns documentos das Bahamas e dos Estados Unidos para terminar a investigação", disse Paulo de Tarso Teixeira.
Segundo a PF, os três principais falsificadores e negociadores do dossiê seriam Honor Rodrigues da Silva, João Roberto Barusco e Ney Lemos dos Santos. A Folha apurou que a PF pediu aos EUA a prisão e a extradição dos três.
Honor, Barusco e Santos alegam terem sido meros intermediários da venda do dossiê. Mas Paulo de Tarso disse que "eles criaram essa versão para esconder a culpa" e que responderão, "em tese", por "estelionato, formação de quadrilha e falsidade ideológica". A respeito da carta que Honor enviou a FHC dizendo-se inocente e testemunha de um golpe contra o governo, Paulo de Tarso disse: "Não dá para acreditar numa palavra do que ele escreveu".
O segundo grupo envolvido com o dossiê é composto por Oscar de Barros e José Maria Teixeira Ferraz que, de acordo com a PF, teria idealizado o dossiê e depois obtido ou produzido a papelada para vendê-la. Barros e Teixeira Ferraz estão presos em Miami, condenados por tentativa de lavagem de dinheiro para o narcotráfico. Barros nega envolvimento com o dossiê e a tentativa de lavar dinheiro. Teixeira Ferraz foi gravado pelo FBI dizendo ter "a papelada" sobre FHC e admitiu a ligação com o narcotráfico.
"Esse documento é como uma nota de três reais", disse Jorge Pontes a respeito do papel que indicava Motta como diretor da CH, J & T. Ele mostrou documentos que revelam que a Fregon Corporation, que junto com a Trident criou a CH, J & T, não existia à época da suposta indicação de Motta para diretor -janeiro de 1994. A Fregon foi criada em 7 de fevereiro de 1995. "É como o filho ser testemunha de nascimento do pai", disse Paulo de Tarso.
A PF pediu às autoridades das Bahamas, um paraíso fiscal, que desvende quem criou a empresa. Se confirmada oficialmente, a informação será uma das duas principais provas de que o dossiê Caribe foi falsificado. A outra prova, revelada pela Folha em abril, mostrou ser falso um extrato de US$ 352,971 milhões de uma suposta conta da CH, J & T.
Em depoimento, o empresário brasileiro radicado em Miami Luiz Cláudio Ferraz Silva disse ter intermediado a venda do dossiê Caribe a Leopoldo Collor, irmão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, e ao ex-senador Gilberto Miranda. Os dois teriam repassado os papéis ao ex-prefeito Paulo Maluf. Leopoldo, Collor, Miranda e Maluf negam tudo.
Honor, Santos e Barusco também deram declarações, como Ferraz Silva, ao advogado dos quatro, Frank Rubino, que tem poder de notário nos EUA. Esse depoimento, uma versão para se defenderem de supostas ameaças de Miranda, está com Rubino.
A PF não mencionou Miranda e Leopoldo, mas confirmou que Ferraz Silva deu o depoimento a Rubino. Confirmou ainda a informação de que o depoimento "não está na Justiça norte-americana", mas com o advogado.



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