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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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VICE-PROBLEMA

Vice-presidente diz que a recessão é mais perigosa que a inflação

Alencar volta a criticar BC e pede "cruzada" contra juros

Carlos Casaes/Agência A Tarde
O vice-presidente José Alencar (à direita) é aplaudido durante congresso empresarial em Salvador


MANUELA MARTINEZ
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Um dia depois da conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente José Alencar manteve as críticas à política de juros altos adotada pelo Banco Central e conclamou os empresários a realizarem uma cruzada para reduzir a taxa básica, atualmente fixada em 26,5% ao ano.
"Nós temos que nos unir numa verdadeira cruzada, que não é para matar ninguém, mas para conscientizar o Brasil de que o país precisa mudar isso [juros altos]", disse Alencar ontem, em Salvador, a 600 empresários, na abertura do Congresso da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil.
Alencar disse que todos os economistas sabem que a recessão e a deflação são fenômenos mais perigosos que a inflação: "O Brasil é um país de subconsumo". Segundo ele, as políticas de juros altos têm por objetivo achatar o consumo e inibir os investimentos.
O vice afirmou que o país está "assistindo à maior transferência de renda de que se tem notícia na história do Brasil". Na sequência, arrancou aplausos dos empresários: "Isso não pode continuar porque isso mata a economia. É o que eu tenho dito como cidadão brasileiro, como ex-empresário, como vice-presidente da República, como um indignado com o que está acontecendo no país".
Num discurso "morde-e-assopra", Alencar mesclou críticas aos juros com elogios a Lula e ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. "Nós temos que aplaudir os esforços do ministro Palocci e do presidente Lula, que domaram a inflação e, além disso, recuperaram as linhas de crédito do Brasil no exterior e reduziram o risco-país para um terço do que estava. Isso foi um trabalho admirável."
Ao elogio, emendou dizendo que Lula sabe que as taxas de juros têm que ser reduzidas para priorizar investimentos que vão gerar empregos e distribuir renda. O vice negou que estivesse proibido de falar sobre juros e brincou dizendo que a única pessoa que o impedia de falar certas palavras era sua professora de catecismo. "Naquele tempo, eu acho que não era proibido falar sobre juros."
Ele criticou as taxas de juros cobradas pelos bancos privados: "Não há nenhuma atividade capaz de remunerar como essas taxas". Para ele, é preciso criar uma opinião nacional contrária a essas "taxas de juros despropositadas".
Alencar citou três medidas para recuperar a competitividade do país: a construção e a melhoria da malha rodoferroviária, a desburocratização do sistema tributário e a redução do custo do capital.
Sobre a taxa Selic, Alencar comparou o retorno proporcionado pelos juros (26,5%) com o de um investimento produtivo. Segundo ele, os balanços de uma empresa, quando muito bons, mostram lucro de 10% sobre o patrimônio líquido. "Esse retorno é sem riscos, já que é o Estado que está garantindo." Ele também mencionou as taxas cobradas em outros países: "A taxa real básica brasileira é dez vezes superior que a taxa real básica cobrada nos Estados Unidos e na Europa". Nos EUA, a taxa básica é de 1,25% ao ano. Ontem, o Banco Central Europeu reduziu a taxa para 2% ao ano.
O vice-presidente também falou que a proposta de reforma tributária foi feita de modo a levar em conta as diversidades regionais: "Nós sabemos que o Brasil mereceria uma reforma tributária melhor do que esta que está no Congresso. Porém, esta foi tratada com muito carinho. Nós fizemos questão de nos reunir em quatro ocasiões diferentes com os 27 governadores para consultar o interesse do Brasil como um todo".
Também presente ao encontro, o ministro do Trabalho, Jaques Wagner, disse que Alencar tem o direito de falar, mas ressaltou que os juros não são o único entrave ao crescimento: "Não vamos vender a ilusão de que, ao baixarmos os juros, no dia seguinte nós teremos desenvolvimento. O momento internacional não é bom".


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