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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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TEORIA & PRÁTICA

Falando a ambientalistas, presidente diz que país foi submetido a "lavagem mental" pelos interesses do mercado

Lula pede "revolução" contra "individualismo"

WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem uma cerimônia comemorativa do Dia Mundial do Meio Ambiente, no Palácio do Planalto, para acusar os interesses do mercado, de forma genérica, de serem responsáveis por uma "lavagem mental" nos brasileiros.
"Nos últimos anos, o Brasil e os brasileiros, em especial a nossa juventude, fomos submetidos a uma verdadeira lavagem mental. Os assim chamados interesses do mercado ganharam legitimidade oficial para se sobrepor às demais instâncias da vida, seja a instância social ou a ambiental. Inverteram-se valores, decretou-se a primazia dos meios sobre o fim, do secundário sobre o principal, do especulativo sobre o produtivo."
Essas críticas ocorrem num momento em que o governo é acusado, inclusive por aliados, de se curvar aos interesses do mercado, mantendo a política econômica do governo anterior, e de privilegiar o setor financeiro em detrimento do setor produtivo, ao manter as altas taxas de juros.
Interrompido diversas vezes por aplausos, o presidente afirmou também que "tudo que se conseguiu em nome da suposta eficiência foi criar um ambiente de perdas humanas intoleráveis, uma contabilidade cujo ônus estamos pagando e cuja predominância será preciso vencer para que possamos de novo recolocar o primado dos valores humanos acima do reinado das cifras".
Lula disse que um dos desafios do seu governo é "promover uma revolução mental na cabeça das pessoas". Segundo ele, é preciso "superar o individualismo estéril que invadiu o imaginário brasileiro após uma década de pregação hostil contra tudo que fosse bem comum, contra o interesse coletivo, contra a soberania nacional, contra os valores da solidariedade e contra o patrimônio publico".
Para Lula, "de todos, este talvez seja o fato mais corrosivo que herdamos -a silenciosa perda da auto-estima, provocada por uma campanha deliberada de desvalorização de tudo o que foi construído de forma pública neste país".
Falando para uma platéia de ambientalistas, em solenidade no Palácio do Planalto, o presidente desta vez preferiu ler o discurso escrito que levou.
"Hoje eu não vou falar fora do meu discurso porque, como eu improviso muito, não sai [na mídia] o meu discurso, só as coisas que eu falo fora dele", afirmou.

Mogno
Durante a cerimônia, o presidente assinou decreto que determina que a exploração de mogno em florestas nativas, primitivas ou regeneradas somente será permitida sob a forma de manejo florestal sustentável.
Essa norma passa a vigorar no próximo dia 10 de julho, quando termina a proibição da comercialização de mogno, em vigor desde o último dia 13 de fevereiro.
O decreto também proíbe, por cinco anos, o abate de mogno em áreas onde o desmatamento for autorizado. A idéia é impedir que o mogno dessas áreas venha a competir com a madeira de florestas de manejo, que é mais cara.
Lula também assinou termo de doação de 14.000 m3 de mogno para organizações não-governamentais, que se obrigaram a investir os recursos provenientes da venda (cerca de R$ 7 milhões) em projetos de desenvolvimento sustentável. Há mais 26.000 m3 de mogno ilegal apreendido, que também serão doados.


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