|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO INDÍGENA
Repasse de recursos para ONG no Amazonas está atrasado desde 1º de abril; 20 mil são prejudicados
Índios ficam sem atendimento médico
FABIO SCHIVARTCHE
DO PAINEL
Vinte mil índios da região do Alto Rio Negro, no Amazonas, estão
sem atendimento médico por
causa de atraso no repasse de recursos do governo federal.
Na segunda-feira, a Foirn, ONG
responsável pelos serviços médicos a essa população, paralisou
suas atividades por falta de verba.
Eles esperam desde 1º de abril o
repasse do governo federal para
pagar seus funcionários.
Segundo a Funasa (Fundação
Nacional de Saúde), o atraso deve-se a pendências no convênio e
ao "trâmite burocrático normal
nessa situação". Informou ainda
que a segunda parcela do recurso,
no valor de R$ 2,5 milhões, seria
depositada ontem -o que, até o
fechamento desta edição, não tinha sido confirmado .
A paralisação na saúde ocorre
dias antes da viagem do ministro
da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, à área indígena Raposa/ Serra
do Sol, na vizinha Roraima.
Neste final de semana, a última
equipe de médicos e enfermeiros
que ainda percorre a cabeceira do
rio Negro voltará à base de São
Gabriel da Cachoeira.
Segundo Luciana Pires, coordenadora da Foirn, o contrato com o
governo previa o pagamento de
R$ 8,2 milhões, em quatro parcelas. "Sem o dinheiro, não temos
combustível nem para levar os
médicos de barco às tribos."
O fim do atendimento emergencial é o que mais preocupa. Há
sete meses, um garoto de seis anos
foi picado no rosto por uma jararaca, na comunidade de Pari-Cachoeira, a dois dias de barco da sede da Foirn. Ele sobreviveu porque foi levado a um hospital de
Manaus. Se, no entanto, o acidente ocorresse na próxima semana,
é bem provável que morresse, já
que nenhuma das 30 equipes está
subindo o rio no momento.
Dinheiro que não chega no prazo previsto é uma constante desde
2000, quando a Foirn dividia com
outras três entidades a responsabilidade de atender os 35 mil índios do Alto Rio Negro -10% da
população indígena brasileira.
Ano após ano, as instituições foram desistindo da função, por falta de repasses de verba da Funasa.
Em agosto de 2001, índios da região tiveram de cruzar a fronteira
e se deslocar até a Colômbia em
busca de socorro médico.
Em fevereiro deste ano, foi a
Diocese de São Gabriel da Cachoeira que desistiu, deixando
para a Foirn o atendimento a todos os 20 mil índios da região.
Há outra grave distorção no
atendimento: a falta de uma política de saneamento básico.
O principal problema médico
no Alto Rio Negro é a alta incidência de parasitoses digestivas. Só
em 2002 elas causaram 95 óbitos.
E um em cada dois índios foi submetido a tratamento com remédios. Mesmo com esses índices
alarmantes, apenas um poço artesiano foi entregue aos índios da
região, que contraem as parasitoses bebendo água contaminada.
Semana passada, médicos encontraram crianças da aldeia Waguiá, no rio Papuri, alimentando-se apenas uma vez a cada três dias.
"Vivemos uma situação limite",
diz Pires. "Sem o dinheiro, o número de óbitos vai explodir."
Texto Anterior: Diplomacia: Presidente vai à África "expandir a geografia" do país no continente Próximo Texto: Fome Zero: Secretário diz que doou R$ 50 que recebeu Índice
|