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Autofinanciamento também dá vaga
da Sucursal de Brasília
Uns têm muito dinheiro e dizem
ter feito da política uma "opção de
vida". Outros têm pouco dinheiro,
mas dizem não querer doações de
empresas em nome da independência política. Nos dois casos,
eles formam um grupo de parlamentares que se autofinancia.
O campeão do grupo dos autofinanciados e de gastos em toda a
campanha, o empresário do setor
têxtil José de Alencar, pagou do
próprio bolso R$ 3,8 milhões para
se eleger senador por Minas Gerais. O senador autofinanciou
99,7% do total de R$ 3,9 milhões
que declarou ter gasto oficialmente à Justiça Eleitoral.
O senador disse que outros candidatos usam caixa 2, quando o dinheiro recebido não é declarado à
Justiça, e por isso suas campanhas
parecem mais baratas.
"Não sei se gastei mais do que os
outros. Eu declarei tudo direitinho. Não tem nada por fora. Os
outros não declaram o número
correto, recebem doações por fora", afirmou Alencar.
O dinheiro que o empresário-parlamentar gastou para se eleger
representa 487 vezes o valor do salário que recebe como senador, R$
8.000. A grosso modo, ele teria de
trabalhar pelo menos 32 anos como senador para juntar o dinheiro
de seu autofinanciamento.
"Se pensar do ponto de vista econômico, nenhuma campanha vale
a pena. Isso não é investimento, é
vontade de participar e de dar uma
contribuição para o país", disse.
Realização pessoal também foi o
argumento usado pelo deputado
Ronaldo Cézar Coelho (PSDB-RJ).
Ele também financiou quase a totalidade de sua campanha e, entre
os deputados, ocupa o primeiro lugar na lista dos gastos eleitorais.
Coelho tirou do bolso R$ 1,7 milhão para se eleger. Do total oficialmente declarado, recebeu apenas
R$ 70 mil em doações.
"Eu financio os meus sonhos, as
minhas utopias. Tudo é absolutamente dentro da lei", afirmou.
"Adoraria que meus eleitores me
financiassem, mas nunca consegui
isso na vida."
Coelho afirmou que vendeu suas
empresas para entrar na vida política. Empresário do setor financeiro, Coelho era dono do banco Multiplic, vendido para seu sócio, o
Lloyds Bank.
"Fiz uma opção de vida. Sou deputado de tempo integral. Quero
ser reconhecido por ter levado fábricas ao Rio de Janeiro, por ter levado o metrô. Sou apaixonado pelo Rio de Janeiro. Não faço negócios. O retorno é felicidade", disse.
Coelho recebeu 131.607 votos.
Segundo na lista dos gastos eleitorais, Delfim Netto (PPB-RJ) declarou ter gasto R$ 912,2 mil. Com esses valores oficiais, cada voto de
Coelho custou R$ 13,61. E cada voto de Delfim, R$ 5,13.
Com cifras bem mais modestas,
o deputado Doutor Rosinha (PT-PR) também é o seu principal doador. Ele financiou 93% dos gastos
de sua campanha declarados à Justiça Eleitoral -R$ 74,5 mil do total
de R$ 80 mil.
Para reunir o dinheiro, ele poupa
seu salário durante os quatro anos
de mandato. Ele conta que seguiu
essa receita nos seus dois mandatos de deputado estadual.
Essa é a fórmula, segundo ele, para manter independência no exercício do mandato. "Não quero
campanha cara, nem campanha
empresarial. Meu compromisso é
com a classe trabalhadora. Quero
independência", disse.
Atualmente, Rosinha retira R$
2.500 de seu salário de parlamentar (R$ 8.000) para seus gastos, depois de descontados 27,5% de Imposto de Renda e 24% de contribuição para o partido, e guarda o
restante para a próxima eleição.
Independência no exercício do
mandato também foi o argumento
do senador Luiz Estevão (PMDB-DF), empresário da construção civil. Suas empresas financiaram
100% de sua campanha que ficou
em R$ 480 mil, segundo declaração
fornecida à Justiça Eleitoral.
"Depois de 26 anos como empresário, considero terminada minha
participação no mundo empresarial. A política foi um opção de vida, na qual eu pretendo me dedicar
de forma integral", disse o senador.
(DENISE MADUEÑO)
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