São Paulo, Domingo, 06 de Junho de 1999
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Autofinanciamento também dá vaga

da Sucursal de Brasília

Uns têm muito dinheiro e dizem ter feito da política uma "opção de vida". Outros têm pouco dinheiro, mas dizem não querer doações de empresas em nome da independência política. Nos dois casos, eles formam um grupo de parlamentares que se autofinancia.
O campeão do grupo dos autofinanciados e de gastos em toda a campanha, o empresário do setor têxtil José de Alencar, pagou do próprio bolso R$ 3,8 milhões para se eleger senador por Minas Gerais. O senador autofinanciou 99,7% do total de R$ 3,9 milhões que declarou ter gasto oficialmente à Justiça Eleitoral.
O senador disse que outros candidatos usam caixa 2, quando o dinheiro recebido não é declarado à Justiça, e por isso suas campanhas parecem mais baratas.
"Não sei se gastei mais do que os outros. Eu declarei tudo direitinho. Não tem nada por fora. Os outros não declaram o número correto, recebem doações por fora", afirmou Alencar.
O dinheiro que o empresário-parlamentar gastou para se eleger representa 487 vezes o valor do salário que recebe como senador, R$ 8.000. A grosso modo, ele teria de trabalhar pelo menos 32 anos como senador para juntar o dinheiro de seu autofinanciamento.
"Se pensar do ponto de vista econômico, nenhuma campanha vale a pena. Isso não é investimento, é vontade de participar e de dar uma contribuição para o país", disse.
Realização pessoal também foi o argumento usado pelo deputado Ronaldo Cézar Coelho (PSDB-RJ). Ele também financiou quase a totalidade de sua campanha e, entre os deputados, ocupa o primeiro lugar na lista dos gastos eleitorais.
Coelho tirou do bolso R$ 1,7 milhão para se eleger. Do total oficialmente declarado, recebeu apenas R$ 70 mil em doações.
"Eu financio os meus sonhos, as minhas utopias. Tudo é absolutamente dentro da lei", afirmou. "Adoraria que meus eleitores me financiassem, mas nunca consegui isso na vida."
Coelho afirmou que vendeu suas empresas para entrar na vida política. Empresário do setor financeiro, Coelho era dono do banco Multiplic, vendido para seu sócio, o Lloyds Bank.
"Fiz uma opção de vida. Sou deputado de tempo integral. Quero ser reconhecido por ter levado fábricas ao Rio de Janeiro, por ter levado o metrô. Sou apaixonado pelo Rio de Janeiro. Não faço negócios. O retorno é felicidade", disse.
Coelho recebeu 131.607 votos. Segundo na lista dos gastos eleitorais, Delfim Netto (PPB-RJ) declarou ter gasto R$ 912,2 mil. Com esses valores oficiais, cada voto de Coelho custou R$ 13,61. E cada voto de Delfim, R$ 5,13.
Com cifras bem mais modestas, o deputado Doutor Rosinha (PT-PR) também é o seu principal doador. Ele financiou 93% dos gastos de sua campanha declarados à Justiça Eleitoral -R$ 74,5 mil do total de R$ 80 mil.
Para reunir o dinheiro, ele poupa seu salário durante os quatro anos de mandato. Ele conta que seguiu essa receita nos seus dois mandatos de deputado estadual.
Essa é a fórmula, segundo ele, para manter independência no exercício do mandato. "Não quero campanha cara, nem campanha empresarial. Meu compromisso é com a classe trabalhadora. Quero independência", disse.
Atualmente, Rosinha retira R$ 2.500 de seu salário de parlamentar (R$ 8.000) para seus gastos, depois de descontados 27,5% de Imposto de Renda e 24% de contribuição para o partido, e guarda o restante para a próxima eleição.
Independência no exercício do mandato também foi o argumento do senador Luiz Estevão (PMDB-DF), empresário da construção civil. Suas empresas financiaram 100% de sua campanha que ficou em R$ 480 mil, segundo declaração fornecida à Justiça Eleitoral.
"Depois de 26 anos como empresário, considero terminada minha participação no mundo empresarial. A política foi um opção de vida, na qual eu pretendo me dedicar de forma integral", disse o senador. (DENISE MADUEÑO)




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