São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2001

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ROMBO AMAZÔNICO

Novos documentos do caso Banpará devem atrasar relatório

Promotores devem pedir quebra de sigilo de Jader

ARI CIPOLA
LUÍS INDRIUNAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O Ministério Público do Pará deve pedir a quebra do sigilo bancário do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), e de outros supostos beneficiários do desvio de R$ 10 milhões do Banpará citados em relatório do Banco Central elaborado pelo inspetor Abrahão Patruni.
Um dos três promotores que analisam o caso afirmou ontem, sob a condição de não ter seu nome revelado, que Jader é citado no relatório. Ontem, os promotores, que há dois dias são assessorados por dois auditores do BC, começaram a receber documentos suplementares ao relatório.
"Já comprovamos o desvio, mas precisamos de outros documentos", afirmou o promotor João Gualberto, que divide a investigação com os colegas Hamilton Salame e Agar Jurema.
Os extratos bancários existentes no documento de Patruni, segundo os promotores, seriam insuficientes para definir quanto cada um dos beneficiários do desvio levou nas operações.
Os promotores incluirão no relatório microfilmagens dos cheques e outros documentos que solicitaram ao BC. Do ponto de vista legal, a microfilmagem dos cheques e de todas as operações bancárias investigadas, segundo eles, formam um conjunto de prova mais contundente.
A chegada de novos documentos e a tendência de pedir a quebra do sigilo bancário de todos os envolvidos podem levar os promotores a atrasar seus planos de concluir os trabalhos neste mês.
O rastreamento é necessário, segundo os promotores, para finalizar a ação que pretendem mover contra as pessoas que se apoderaram dos recursos públicos. A ação do MP paraense seria para pedir o ressarcimento dos recursos aos cofres públicos.
Os documentos também estão sendo analisados pelo Ministério Público Federal, em Brasília, que estuda também a possibilidade de denunciar os envolvidos por crime de peculato, que ainda não estaria prescrito.
Por conta das apurações, os auditores do Banco Central que estão em Belém -Antônio Benito de Souza e Nelson Rodrigues de Oliveira- devem ficar até a semana que vem na cidade.
A Agência Folha apurou que parte dos problemas de identificação dos beneficiários dos desvios do Banpará, ocorrido em 1984, quando Jader governava o Estado, é decorrente do fato de que na época era possível fazer aplicações ao portador.
No primeiro relatório de Patruni, feito em 1989, o inspetor chegara apenas a 11 depósitos de cheques administrativos na conta de Jader na agência Jardim Botânico do Banco Itaú, no Rio de Janeiro.
No segundo relatório, feito em 1992, Patruni pôde fazer um rastreamento melhor, beneficiado por uma lei do então presidente Fernando Collor de Mello, que pôs fim às aplicações ao portador. Assim, pode se identificar o nome dos beneficiários.

TDAs
O delegado da Polícia Federal Luiz Fernando Ayres Machado, responsável pela venda ilegal de TDAs (Título da Dívida Agrária), começa hoje a ouvir cinco pessoas envolvidas no caso, entre elas, o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA).
O depoimento de Jader está marcado para a próxima terça-feira, às 10h, em seu apartamento em Belém, mas a data e o local podem mudar -por ser senador, Jader tem direito a escolher.
Machado, que deveria chegar a Belém na madrugada de hoje, investiga a ligação de Jader com a venda de R$ 4 milhões em TDAs da fazenda Paraíso, desapropriada ilegalmente em 1988, quando Jader era ministro da Reforma Agrária do governo Sarney.



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