São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2001

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Intelectuais simpatizantes do PT vêem risco de Lula repetir De la Rúa

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O temor de que a oposição brasileira repita após 2002 o fiasco do governo Fernando de la Rúa na Argentina foi o elo comum entre os participantes do seminário "Um outro Brasil é possível", realizado nas noites de terça-feira e anteontem, em Porto Alegre. O evento reuniu intelectuais petistas ou simpatizantes do PT.
Na Argentina, De la Rúa liderou uma aliança de centro-esquerda e venceu as eleições contra Carlos Menem. Desde a sua posse, a crise econômica no país se aprofundou e Domingo Cavallo, homem forte do primeiro governo Menem, foi chamado de volta ao comando da economia, o que, porém, não estancou a derrocada argentina.
"Não sei se Lula tem clareza de que De la Rúa fracassou porque deu continuidade ao programa de Menem", disse o sociólogo Emir Sader, referindo-se ao fato de que o provável candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, tem dito que não será um novo De la Rúa.
Sader apresentou um antecedente: nos anos 80, a esquerda, disse, não percebeu que havia um sistema que se esgotava. "Embarcou na democracia como se ela fosse resolver tudo. Hoje, também há um modelo esgotado."
O sociólogo Cesar Benjamin, um dos maiores críticos do abrandamento do discurso do PT, fez uma crítica semelhante. "Parecemos um cão em torno do rabo, pensando na economia em curto prazo. Se insistirmos em pensar o Brasil por cenários macroeconômicos, não nos livraremos do sentimento de impotência", afirmou.
"Temos baixo crescimento, conglomerados urbanos e falta de esperança. A estratégia do PT não está clara. Não podemos ser um De la Rúa", disse.
Para o cientista político José Luís Fiori, da UFRJ, o próximo governo herdará um "pacotão" de problemas, algo como um "coquetel molotov". Ele disse que o presidente eleito em 2002 terá de adotar medidas tipicamente capitalistas para cobrir o que define como "rombo". "Qualquer força política que assumir em 2003 tem de saber que se trata de uma herança muito difícil de mudar."
Fiori tomou como exemplo didático a cidade de São Paulo, governada por Marta Suplicy (PT). Prefeita mais impopular entre as principais capitais, segundo o Datafolha (4,2 pontos), Marta herdou a administração paulistana do ex-prefeito Celso Pitta.
O presidente nacional do PT, José Dirceu, disse, a respeito das declarações de Fiori, que "não se pode pensar que não há saída".



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