São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Presidente critica a "percepção apressada" dos mercados

Brasileiro pode votar sem medo, diz FHC na Argentina

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem a "percepção" dos mercados sobre o quadro eleitoral brasileiro e ficou a apenas três palavras de repetir o slogan eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva em campanhas presidenciais anteriores.
"Temos instituições fortes o suficiente para que os brasileiros possam votar sem medo", disse o presidente, em entrevista coletiva no fim da manhã de ontem, ao encerrar-se a 22ª reunião de cúpula do Mercosul, em Buenos Aires.
Quando voltou, à tarde, ao auditório da Quinta de Olivos, residência oficial do governo argentino e local da reunião, foi provocado: "O senhor quis dizer que o brasileiro pode votar sem medo de ser feliz?" (o slogan do PT).
"Não, não", respondeu rindo o presidente.
A afirmação sobre a solidez das instituições foi em resposta a uma pergunta de um jornalista uruguaio sobre se a turbulência nos mercados se devia ao fator "Lula da Silva".
Fernando Henrique Cardoso disse primeiro que a turbulência está "abrangendo o conjunto da região (a América Latina), em níveis distintos". Depois, acrescentou: "Há fatores endógenos e exógenos (internos e externos). Como presidente do Brasil, não quero culpar alguém ou um só fator".

Percepção apressada
O presidente criticou o fato de os mercados terem, na sua visão, "uma percepção apressada sobre dados eleitorais e também sobre consequências eleitorais".
O primeiro ponto (dados eleitorais) é uma maneira muito oblíqua de dizer que ainda é cedo para tratar a liderança de Lula em todas as pesquisas como um elemento definitivo. Nessa tese têm insistido o senador José Serra (PSDB-SP), candidato governista, e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, entre outras autoridades.
O segundo ponto (consequências eleitorais, ou seja, a eventual vitória do presidenciável petista) é um ponto que FHC tem reprisado em todas as suas recentes viagens ao exterior.
O raciocínio que o presidente expõe, uma e outra vez, é este, usado ontem: "O que nos interessa é a democracia. Ganhe quem ganhe vai governar com as instituições, e temos instituições fortes o suficiente para que os brasileiros possam votar sem medo".
Mas Fernando Henrique Cardoso não foge ao discurso padrão do situacionismo e dos empresários, ao defender a manutenção de certas condições econômicas.
Ele diz, por exemplo, que "existe na região hoje uma consciência clara de manter sob controle a inflação, se não quem paga o preço é o pobre".
Afirma ainda que existe idêntica convicção sobre a necessidade de "manter comércio fluido com nossos parceiros", além de, como é óbvio, "defender nossos interesses em fóruns internacionais".
É uma alusão ao fato de que quase todos os candidatos de oposição têm críticas às negociações para constituir a Alca (Área de Livre Comércio das Américas, prevista para englobar os 34 países americanos, excluída apenas Cuba). São negociações para liberalizar o comércio.
O problema é que, nessa área externa, também o candidato de FHC, o senador José Serra, defende posições mais duras do que as do atual presidente.


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