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SINDICALISMO
Central diz que representa o funcionalismo público, mas não apóia greve dos servidores contra o governo
Reformas de Lula podem rachar a CUT
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por mais de uma década, os
ocupantes do Planalto estimularam a criação de centrais sindicais
para enfrentar a poderosa CUT
(Central Única dos Trabalhadores). Mas bastaram seis meses de
mandato do ex-sindicalista e fundador da CUT Luiz Inácio Lula da
Silva para a maior das centrais
sindicais do país ir parar no divã.
O pivô da crise foi o lançamento
de uma nova central sindical do
país, que pretende reunir os servidores públicos. Caso prospere, a
iniciativa fará ruir um dos pilares
da CUT, 20 anos após sua criação.
Na última terça-feira, 52 entidades das cerca de 1.700 que reúnem
servidores públicos no país lançaram a nova central, ainda sem nome. As formalidades serão concluídas até o final de agosto.
A idéia de lançar a nova central
coincidiu com a eleição de Luiz
Marinho para a presidência da
CUT, com forte apoio de Lula.
Ambos batem no corporativismo
dos funcionários públicos. Coincidiu também com a definição da
proposta de reforma da Previdência do governo Lula, que acaba
com a aposentadoria integral dos
servidores públicos e tributa os
funcionários inativos.
A CUT acusou o golpe na mesma terça. Marinho reuniu-se com
entidades de servidores em Brasília -algumas, filiadas à CUT,
convocaram a greve do funcionalismo em 8 de julho, que tem a
oposição da central. Ao final do
encontro, uma nota dizia que "a
central sindical que representa o
funcionalismo público é a CUT".
Sem conseguir manter-se ao
mesmo tempo como aliado do
governo e dos servidores, Marinho tenta um equilíbrio difícil.
Reservadamente, diz que a CUT
vive no "fio da navalha": não pode
ser governista, sob pena de desaparecer, mas não pode ser sectária, sob risco de perder um canal
de diálogo com o governo. "Discordamos veementemente da taxação de inativos", diz texto assinado pelo presidente da CUT, que
desestimula a greve: "Nem sempre é preciso deflagrar a greve para alcançar nossos objetivos".
Mesmo com uma debandada
dos servidores, dificilmente a
CUT deixará de ser a maior central. Ela reúne 3.353 sindicatos e
representa mais de 22 milhões de
trabalhadores. As entidades que
comandam a formação da nova
central -Sindilegis (servidores
do Legislativo), Anfip (fiscais da
Previdência) e Sindtten (técnicos
do Tesouro)- não são filiadas à
CUT, mas entre as entidades que
lançaram a nova central, há mebros da CUT, como a Cobrapol, a
confederação dos policiais civis.
O baque de uma central de servidores também será sentido na
SDS (Social Democracia Sindical), a central nascida no governo
FHC e com seu estímulo. Está filiada à SDS a gigante Confederação dos Servidores Públicos do
Brasil, composta por 637 sindicatos de funcionários. "Essa central
dos servidores está fadada ao fracasso porque o corporativismo
não leva a lugar nenhum e uma
central sindical tem de equilibrar
interesses", reagiu Enilson Simões de Moura, o Alemão, presidente da SDS. Eleitor de Serra, ele
dá apoio às reformas de Lula.
Com 1.200 sindicatos filiados e
11 milhões de trabalhadores, a
SDS é menor do que a Força Sindical, nascida como braço sindical
do governo Collor (90-92). A Força, liderada por Paulo Pereira da
Silva, tem 1.800 sindicatos. Paulinho acaba se se filiar ao PDT, outro sinal de que a crise de identidade do sindicalismo é geral.
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