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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003

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SINDICALISMO

Central diz que representa o funcionalismo público, mas não apóia greve dos servidores contra o governo

Reformas de Lula podem rachar a CUT

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Por mais de uma década, os ocupantes do Planalto estimularam a criação de centrais sindicais para enfrentar a poderosa CUT (Central Única dos Trabalhadores). Mas bastaram seis meses de mandato do ex-sindicalista e fundador da CUT Luiz Inácio Lula da Silva para a maior das centrais sindicais do país ir parar no divã.
O pivô da crise foi o lançamento de uma nova central sindical do país, que pretende reunir os servidores públicos. Caso prospere, a iniciativa fará ruir um dos pilares da CUT, 20 anos após sua criação.
Na última terça-feira, 52 entidades das cerca de 1.700 que reúnem servidores públicos no país lançaram a nova central, ainda sem nome. As formalidades serão concluídas até o final de agosto.
A idéia de lançar a nova central coincidiu com a eleição de Luiz Marinho para a presidência da CUT, com forte apoio de Lula. Ambos batem no corporativismo dos funcionários públicos. Coincidiu também com a definição da proposta de reforma da Previdência do governo Lula, que acaba com a aposentadoria integral dos servidores públicos e tributa os funcionários inativos.
A CUT acusou o golpe na mesma terça. Marinho reuniu-se com entidades de servidores em Brasília -algumas, filiadas à CUT, convocaram a greve do funcionalismo em 8 de julho, que tem a oposição da central. Ao final do encontro, uma nota dizia que "a central sindical que representa o funcionalismo público é a CUT".
Sem conseguir manter-se ao mesmo tempo como aliado do governo e dos servidores, Marinho tenta um equilíbrio difícil. Reservadamente, diz que a CUT vive no "fio da navalha": não pode ser governista, sob pena de desaparecer, mas não pode ser sectária, sob risco de perder um canal de diálogo com o governo. "Discordamos veementemente da taxação de inativos", diz texto assinado pelo presidente da CUT, que desestimula a greve: "Nem sempre é preciso deflagrar a greve para alcançar nossos objetivos".
Mesmo com uma debandada dos servidores, dificilmente a CUT deixará de ser a maior central. Ela reúne 3.353 sindicatos e representa mais de 22 milhões de trabalhadores. As entidades que comandam a formação da nova central -Sindilegis (servidores do Legislativo), Anfip (fiscais da Previdência) e Sindtten (técnicos do Tesouro)- não são filiadas à CUT, mas entre as entidades que lançaram a nova central, há mebros da CUT, como a Cobrapol, a confederação dos policiais civis.
O baque de uma central de servidores também será sentido na SDS (Social Democracia Sindical), a central nascida no governo FHC e com seu estímulo. Está filiada à SDS a gigante Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, composta por 637 sindicatos de funcionários. "Essa central dos servidores está fadada ao fracasso porque o corporativismo não leva a lugar nenhum e uma central sindical tem de equilibrar interesses", reagiu Enilson Simões de Moura, o Alemão, presidente da SDS. Eleitor de Serra, ele dá apoio às reformas de Lula.
Com 1.200 sindicatos filiados e 11 milhões de trabalhadores, a SDS é menor do que a Força Sindical, nascida como braço sindical do governo Collor (90-92). A Força, liderada por Paulo Pereira da Silva, tem 1.800 sindicatos. Paulinho acaba se se filiar ao PDT, outro sinal de que a crise de identidade do sindicalismo é geral.


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