São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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BASTIDORES

Cúpula do governo vê chances de crise piorar e projeto de reeleição ameaçado

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A grave crise política vai piorar. Essa foi a avaliação feita ontem pela cúpula do governo ao tomar conhecimento de informações de bastidor a respeito da movimentação financeira do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza e de suas empresas.
Na véspera do depoimento de Valério à CPI dos Correios, o estado de espírito de Lula foi descrito por auxiliares como "mal-humorado", "indignado" e "triste". Ao longo do dia, ministros e auxiliares de Lula disseram temer o conteúdo das declarações do publicitário, apesar de uma decisão judicial que protegerá Valério no depoimento marcado para hoje.
Pela primeira vez, um membro da cúpula do governo disse: "Nosso governo acabou". Indagado pela Folha o que significava isso, respondeu: dificilmente Lula se reelegerá ou fará o sucessor em 2006. Outro auxiliar de Lula, menos pessimista, dizia que a salvação do presidente seria dizer de público que teria sido traído por petistas e liderar uma operação para punir eventuais culpados.
O humor de Lula tem oscilado nos últimos dias entre momentos de depressão e de raiva. Segundo um auxiliar, ontem foi um dos piores dias para falar com o presidente. Lula reclamou da cúpula do PT e até dos seus articuladores políticos, como se não tivesse culpa de nada (ele nomeou todos).
Faz duas semanas que Lula desabafa sobre a crise em conversas reservadas. Afirma que nunca ouviu falar de Valério e que não sabia das relações dele com o PT.
Apesar de negativa oficial, ele já se disse decepcionado com o ex-ministro José Dirceu e com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Acha que errou ao dar poder demais a Dirceu e que Delúbio errou ao captar recursos para o partido.
O presidente faz questão de declarar que acredita na honestidade pessoal de Dirceu, mas afirma que o ex-ministro levou para o governo um "péssimo hábito" que tinha no PT: "montar aparelhos". No PT e na Casa Civil, Dirceu criou grupos de auxiliares fiéis que atuavam de forma autônoma em relação às estruturas maiores. Lula disse que, muitas vezes, era surpreendido por providências tomadas por Dirceu no governo das quais não sabia.
Publicamente, Dirceu já disse que sempre atuou de acordo com o conhecimento do presidente. Delúbio e Silvinho dizem ter executado missões partidárias.
Lula disse que, com exceção do presidente do PT, José Genoino, os petistas que estão na mira de Jefferson são da "turma do Zé" Dirceu. Era referência a Delúbio e a Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT. Ambos ascenderam no partido com a ida de Dirceu para a presidência do PT pela primeira vez, em 1995. Nos últimos dias, os dois se afastaram de suas funções.
Na avaliação de Lula, Genoino também deveria se afastar da presidência do PT depois que foi revelado que assinou empréstimo de R$ 2,4 milhões do banco BMG ao partido. Essa operação teve o aval de Valério, que ainda quitou uma parcela de R$ 350 mil.


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