São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT

Presidente do partido diz que não renunciará e tenta unificar a ala moderada da sigla, que ficou rachada após denúncias contra petistas

Genoino tenta aliança para seguir no cargo

EM SÃO PAULO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dando cada vez mais sinais de que pretende sair do cargo, o presidente nacional do PT, José Genoino, concedeu-se ontem uma sobrevida de quatro dias para avaliar sua permanência na função, até a reunião do Diretório Nacional, marcada para sábado e domingo. Até lá vai buscar reunificar o hoje rachado Campo Majoritário, ala moderada que há dez anos controla o partido.
O apoio do ex-ministro José Dirceu, do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e da ex-prefeita Marta Suplicy- que têm interesses diversos na crise- será fundamental.
Ontem, na reunião da Executiva Nacional, Genoino alegou que não renunciaria ao cargo de presidente porque não pode abrir mão do que não é dele. "Meu mandato é do Diretório Nacional", disse, argumentando que só o diretório poderá decidir seu futuro.
"Olhando nos olhos de vocês, sintam-se à vontade para pedir minha saída. Meu cargo está à disposição do diretório."
Até sábado, Genoino poderá acompanhar a evolução das investigações a respeito do escândalo do "mensalão" -em especial o depoimento do publicitário Marcos Valério- para decidir se a presidência vale tanto desgaste, incluída a decepção com o Campo Majoritário.
Segundo petistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se manifestou em favor da saída de Genoino. O humor do presidente do PT tem oscilado nos últimos dias.
Um de seus desafios é convencer o Planalto de que tem condições de manter o partido politicamente alinhado com o governo, objetivo primordial de Lula hoje.
Sem essa condição, é provável a troca por um nome de confiança de Lula. São citados os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral), Olívio Dutra (Cidades) e Ricardo Berzoini (Trabalho), além do assessor para assuntos externos Marco Aurélio Garcia e, numa hipótese mais remota, o prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda.
Na reunião de ontem, o secretário de Movimentos Populares, Jorge Almeida, da corrente "radical" Ação Popular Socialista, propôs formalmente a saída de Genoino, o que foi descartado.
"Achei frustrante. Se foi só para informar a licença de Delúbio e Silvinho e marcar uma reunião do diretório, não tinha por que convocar a Executiva", criticou Almeida, que propôs uma discussão sobre a reforma ministerial.
Além da pequena APS, a Democracia Socialista (DS) tem se manifestado em favor da saída de Genoino. Até sábado, Genoino tentará recobrar prestígio no partido. Para conseguir, terá que delegar mais poderes às tendências de esquerda. "Apóio Genoino desde que repactue o PT e não seja só o presidente do Campo Majoritário", disse o secretário de Mobilização, Francisco Campos.
Nesse caso, serão escolhidos apenas os substitutos de Silvio Pereira (secretaria-geral) e Delúbio Soares (tesouraria). Difícil é o Campo abrir esse espaço.
Caso a estratégia fracasse, o Diretório fará mudanças mais profundas incluindo, além de Genoino, o secretário de Comunicação, Marcelo Sereno.
Há resistência, porém, à idéia de assumir a presidência num momento delicado. De todas as hipóteses discutidas pelo Campo até agora, a mais remota é a da renúncia coletiva. Os demais integrantes da Executiva não aceitam a possibilidade. (FÁBIO ZANINI, CÁTIA SEABRA E LILIAN CHRISTOFOLETTI)

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