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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ OS BANCOS
Encontro, no Planalto, ocorreu três dias após assinatura de empréstimo de R$ 2,4 milhões para o PT, avalizado por Marcos Valério
Dirceu recebeu presidente do BMG em 2003
EDUARDO SCOLESE
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Três dias depois de o BMG ter
realizado empréstimo de R$ 2,4
milhões ao PT, o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu,
recebeu o presidente do banco,
Flávio Guimarães, em almoço no
Palácio do Planalto.
A agenda de compromissos do
ministro da Casa Civil em 20 de
fevereiro de 2003 aponta, às 13h
daquele dia, o encontro entre Dirceu e o presidente do BMG. Antes
disso, às 12h, Dirceu esteve no gabinete do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Em nota, Dirceu, afirmou que o
encontro foi normal. "Em nenhum momento tratei com o sr.
Flávio Guimarães qualquer assunto relativo a operações do
banco ou do PT." Disse também
que compareceu à inauguração
de uma fábrica da Brasfrio (do
grupo BMG, da qual Guimarães é
presidente) em Luiziânia, fato público.
"Sua presença [de Guimarães]
na Casa Civil, assim como de inúmeros outros representantes de
empresas e de bancos, está dentro
da normalidade que deve pautar o
relacionamento do governo com
representantes do empresariado", disse Dirceu.
No último final de semana, reportagem da revista "Veja" mostrou que o publicitário mineiro
Marcos Valério Fernandes de
Souza, apontado como um dos
operadores do suposto esquema
de pagamento de mesada no Congresso, negociou e avalizou empréstimo de R$ 2,4 milhões para o
PT no banco BMG, de Belo Horizonte (MG). Além disso, uma das
agências de publicidade ligadas a
Marcos Valério, que depõe hoje
na CPI dos Correios, pagou uma
parcela para o partido, no valor de
R$ 349 mil.
O empréstimo, de 17 de fevereiro de 2003, ou seja, um mês e meio
após a posse de Lula na Presidência, leva as assinaturas do tesoureiro petista, Delúbio Soares, do
presidente do partido, José Genoino, além de Marcos Valério.
A revelação do empréstimo
causou nesta semana as saídas de
Delúbio e Silvio Pereira (secretário-geral) da cúpula do PT. Os
dois são ligados a Dirceu, que,
acuado por uma série de denúncias contra o governo e o PT, há 20
dias deixou o Planalto para reassumir sua vaga de deputado federal por São Paulo.
O deputado Roberto Jefferson
(PTB), que relatou à Folha a existência de um suposto esquema de
pagamento de mesadas pelo PT a
partidos a base aliada em troca de
apoio no Congresso, chegou a dizer que, caso permanecesse no
cargo, Dirceu poderia transformar Lula em réu: "[José] Dirceu,
se você não sair daí rápido, você
vai fazer réu um homem inocente,
o presidente Lula."
Depois do BMG, em 2003, somente em maio aparece outro representante de banco na agenda
da Casa Civil -o presidente do
Banco do Nordeste, Roberto
Smith, que também almoçou no
Planalto. No mês seguinte, Dirceu
recebeu representantes do Banco
do Brasil e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Em agosto, recebeu a presidente do Banco Rural, Kátia Rabello.
Relatórios recentes do Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras) mostraram
que foram detectados, entre julho
de 2003 e maio de 2005, de contas
dos bancos Rural e do Brasil, saques em espécie de R$ 20,9 milhões da DNA Propaganda e da
SMPB Comunicações, empresas
das quais Marcos Valério é sócio.
Em depoimento no Congresso,
Roberto Jefferson disse que o dinheiro do "mensalão" vinha de
Belo Horizonte em malas para
Brasília enrolado em fitas dos dois
bancos.
O banco BMG, por meio de sua
assessoria de imprensa, informou
ontem que não se pronunciaria
sobre o encontro do executivo da
instituição com o então ministro
José Dirceu em 2003.
Colaborou a Agência Folha,
em Belo Horizonte
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