São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ OS BANCOS

Encontro, no Planalto, ocorreu três dias após assinatura de empréstimo de R$ 2,4 milhões para o PT, avalizado por Marcos Valério

Dirceu recebeu presidente do BMG em 2003

EDUARDO SCOLESE
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Três dias depois de o BMG ter realizado empréstimo de R$ 2,4 milhões ao PT, o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, recebeu o presidente do banco, Flávio Guimarães, em almoço no Palácio do Planalto.
A agenda de compromissos do ministro da Casa Civil em 20 de fevereiro de 2003 aponta, às 13h daquele dia, o encontro entre Dirceu e o presidente do BMG. Antes disso, às 12h, Dirceu esteve no gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em nota, Dirceu, afirmou que o encontro foi normal. "Em nenhum momento tratei com o sr. Flávio Guimarães qualquer assunto relativo a operações do banco ou do PT." Disse também que compareceu à inauguração de uma fábrica da Brasfrio (do grupo BMG, da qual Guimarães é presidente) em Luiziânia, fato público.
"Sua presença [de Guimarães] na Casa Civil, assim como de inúmeros outros representantes de empresas e de bancos, está dentro da normalidade que deve pautar o relacionamento do governo com representantes do empresariado", disse Dirceu.
No último final de semana, reportagem da revista "Veja" mostrou que o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como um dos operadores do suposto esquema de pagamento de mesada no Congresso, negociou e avalizou empréstimo de R$ 2,4 milhões para o PT no banco BMG, de Belo Horizonte (MG). Além disso, uma das agências de publicidade ligadas a Marcos Valério, que depõe hoje na CPI dos Correios, pagou uma parcela para o partido, no valor de R$ 349 mil.
O empréstimo, de 17 de fevereiro de 2003, ou seja, um mês e meio após a posse de Lula na Presidência, leva as assinaturas do tesoureiro petista, Delúbio Soares, do presidente do partido, José Genoino, além de Marcos Valério.
A revelação do empréstimo causou nesta semana as saídas de Delúbio e Silvio Pereira (secretário-geral) da cúpula do PT. Os dois são ligados a Dirceu, que, acuado por uma série de denúncias contra o governo e o PT, há 20 dias deixou o Planalto para reassumir sua vaga de deputado federal por São Paulo.
O deputado Roberto Jefferson (PTB), que relatou à Folha a existência de um suposto esquema de pagamento de mesadas pelo PT a partidos a base aliada em troca de apoio no Congresso, chegou a dizer que, caso permanecesse no cargo, Dirceu poderia transformar Lula em réu: "[José] Dirceu, se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, o presidente Lula."
Depois do BMG, em 2003, somente em maio aparece outro representante de banco na agenda da Casa Civil -o presidente do Banco do Nordeste, Roberto Smith, que também almoçou no Planalto. No mês seguinte, Dirceu recebeu representantes do Banco do Brasil e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Em agosto, recebeu a presidente do Banco Rural, Kátia Rabello.
Relatórios recentes do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) mostraram que foram detectados, entre julho de 2003 e maio de 2005, de contas dos bancos Rural e do Brasil, saques em espécie de R$ 20,9 milhões da DNA Propaganda e da SMPB Comunicações, empresas das quais Marcos Valério é sócio.
Em depoimento no Congresso, Roberto Jefferson disse que o dinheiro do "mensalão" vinha de Belo Horizonte em malas para Brasília enrolado em fitas dos dois bancos.
O banco BMG, por meio de sua assessoria de imprensa, informou ontem que não se pronunciaria sobre o encontro do executivo da instituição com o então ministro José Dirceu em 2003.


Colaborou a Agência Folha, em Belo Horizonte

Texto Anterior: Ex-agente diz ter "interesse jornalístico"
Próximo Texto: Outro lado: Em nota, Dirceu nega operações entre PT e BMG
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.