São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NOVA FRENTE

Comissão também irá apurar denúncias de suposta compra de votos no governo FHC

Congresso aprova criação de CPI mista do Mensalão

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Congresso Nacional criou na noite de ontem uma CPI específica para investigar o chamado escândalo do "mensalão". A comissão mista -formada por deputados e senadores- também irá apurar denúncias de suposta compra de votos para aprovação da emenda da reeleição, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Para criar a comissão, governo e oposição cederam. O governo queria que a CPI do Mensalão funcionasse somente na Câmara, já que lá o requerimento abrangia não só o atual suposto esquema de "mensalão", mas também a compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição, em 1997, o terceiro ano da gestão tucana no governo federal.
A oposição forçava a criação da CPI mista, mas somente com foco no suposto "mensalão", denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Segundo Jefferson, o PT pagaria R$ 30 mil a deputados do PL e do PP em troca de apoio político.
O acordo para "unificar" os requerimentos foi costurado na noite de ontem por líderes dos partidos. O novo texto, que se assemelha ao requerimento apresentado pelos governistas na Câmara, foi lido em plenário pelo primeiro-secretário da Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PMDB-PE), às 22h30.

Confusão
A sessão de criação da comissão foi marcada por uma cena inusitada. Ciente da resistência do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), em criar a comissão direcionada ao "mensalão", o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) caminhou até a Câmara, acompanhado por líderes dos partidos no Senado, para pressionar a realização da sessão conjunta do Congresso no horário agendado -às 20h.
Ao chegar à Câmara, entretanto, esbarrou em uma recém-aberta sessão para tentar destravar a pauta da Casa. Severino chegou a tentar abrir duas sessões seguidas num intervalo de 20 minutos para evitar a criação da CPI.
"Não dá mais para combinar com o presidente da Câmara para convocar o Congresso e essa sessão não se realiza porque há sessão da Câmara convocada de última hora. Essa é a terceira vez. Nós precisamos ter bom senso, serenidade e respeito com o país", disse Calheiros.
Na seqüência, Calheiros voltou ao Senado para uma reunião com os líderes na qual foi decidida a criação da CPI mista. O governo e a oposição ainda não discutiram nomes para a presidência e relatoria. "Uma vez que houve acordo para criá-la [a CPI], acredito que haverá acordo para a indicação da presidência e da relatoria", disse Renan Calheiros.
Há ainda uma indefinição sobre a data de instalação da CPI, provavelmente para a primeira semana de agosto, devido à possibilidade de recesso do Congresso em julho. Pela lei, o Congresso não trabalha neste mês, desde que aprove antes o projeto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que ainda não foi votado, mas está na pauta de hoje.
Apesar de ser específica à apuração do "mensalão" e à compra de votos na emenda de reeleição, a nova CPI deverá ouvir novamente depoentes que já passaram pela CPI dos Correios, em funcionamento no Congresso, que investiga um suposto esquema de corrupção na estatal.


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