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"Ganho com boi é fantasia", afirma pecuarista
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os "pecuaristas políticos" estão fazendo "milagres" na pecuária e estão deixando curiosos os pecuaristas de fato. Estes
querem saber como aqueles
conseguem dobrar ou triplicar
o capital em um período em
que a pecuária passa por momentos tão difíceis.
"Estamos perplexos com esse mundo de fantasia. Isso é um
milagre divino, e só acontece
com alguns políticos." A afirmação é de Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da
UDR (União Democrática Ruralista). "Talvez eles [os "pecuaristas políticos"] sejam
mais devotos do que nós e, por
isso, sejam atendidos em suas
preces", acrescenta.
Outro pecuarista, que prefere não se identificar, diz que estamos vivendo a versão moderna dos anões do escândalo do
Orçamento da União. Ele se refere ao envolvimento de deputados no desvio de recursos do
Orçamento, em 1993.
Nabhan diz que a pecuária vive um de seus momentos menos rentáveis e essa imagem de
fantasia de lucratividade só
atrapalha "os seres terrestres
que vivem o dia-a-dia do setor".
Nos últimos anos, tirando raras
exceções, os pecuaristas só tiveram prejuízos. Mesmo nos
casos em que houve lucratividade, o percentual não ultrapassa 0,7% ao ano, acrescenta.
Para ilustrar como está difícil
a sobrevivência no setor, Nabhan diz que, em novembro de
2003, uma arroba de boi gordo
era negociada a R$ 63. Após
cair a R$ 45 em meses do ano
passado, só agora a arroba retorna aos R$ 60, diz ele. "Nesse
período, os custos dos insumos
utilizados na pecuária, como
fertilizantes, óleo diesel, vacinas, máquinas etc., tiveram
acentuadas acelerações."
A agropecuária brasileira
passou por várias mudanças
nesta década. Viveu a euforia
da soja, do reflorestamento e
agora a da cana. Em todos os
momentos, parte da expansão
de área desses produtos ocorreu sobre as pastagens, devido à
perda de lucratividade.
No Estado de São Paulo, muitos pecuaristas arrendaram
suas propriedades para as usinas porque têm lucratividade
de 3,5% a 4% do valor da terra.
Os que insistem na pecuária
conseguem apenas 0,5%.
Nabhan diz que os últimos
anos foram difíceis e que os pecuaristas acumularam dívidas.
"Pertenço à 5ª geração de uma
família que sempre se dedicou
à pecuária, mas estou indo para
trás." Em tom jocoso, ele que,
"nós, os pecuaristas de fato, vamos pedir uma audiência com
os "pecuaristas políticos" para
saber por que eles são tão competentes e como conseguem esse fenômeno da multiplicação
dos lucros".
Um acompanhamento da
rentabilidade do setor mostra
que as coisas não vão bem na
pecuária. O Anualpec 2007 -a
principal publicação no setor-
mostra que, em 2006, um pecuarista que se dedica à cria, recria e engorda extensiva de gado obteve lucro operacional de
R$ 24,55 mil no ano, ou seja, R$
2.046 por mês para um rebanho de 650 animais em Mato
Grosso do Sul.
O problema maior é que, para
para obter esse lucro, o pecuarista tem de manter um patrimônio imobilizado de R$ 3 milhões em terras, cercas, máquinas etc. Se esse dinheiro estivesse na poupança, o rendimento médio mensal seria de
R$ 18 mil. Em um fundo de renda fixa, poderia atingir rendimento bruto de R$ 33 mil.
Os dados do Anualpec mostram que as dificuldades não se
restringem ao Mato Grosso do
Sul. Em Alegrete (RS), o retorno de rentabilidade de um pecuarista nas mesmas condições
seria de apenas 1%, índice um
pouco inferior ao 1,5% de Presidente Prudente (SP). Já em Alta Floresta (MT), haveria perda
de 0,6%, e em Paragominas
(PA), prejuízo de 0,8%.
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