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REFORMA SOB PRESSÃO
Deputados peemedebistas só decidem votar após as 23h, após promessa de liberação de verbas
PMDB obriga o governo a negociar cargos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após se comprometer a votar o
texto principal da reforma da Previdência, o PMDB recuou em plenário e forçou o governo a negociar até momentos antes da votação a concessão de verbas e cargos
exigidos pelo partido. Sem a sigla,
o Planalto temia não ter votos suficientes para aprovar o texto do
deputado José Pimentel (PT-CE).
O endurecimento do PMDB foi
o último de uma série de contratempos que levaram o governo a
ir adiando sucessivamente a votação, programada inicialmente para ocorrer por volta das 20h. Os
deputados peemedebistas só começaram a voltar ao plenário
após as 23h, quando o projeto
continuava em discussão, sem
previsão de votação.
Além do PMDB, outro grande
problema do governo era o próprio PT. Até o fechamento desta
edição, nove deputados da esquerda petista ameaçavam votar
contra ou se abster. Os focos de
incêndios mobilizaram o ministro José Dirceu (Casa Civil), que
passou a operar diretamente do
Planalto pelo telefone.
O presidente nacional do PT,
José Genoino (SP), que participou
das reuniões com as correntes de
esquerda do partido, dizia que o
governo fora "flexível" e cedera a
reivindicações da bancada como
o aumento do teto da isenção na
contribuição dos inativos e a criação da aposentadoria para os trabalhadores da economia informal, os chamados "excluídos urbanos".
Segundo Genoino, se o governo
federal cedera na negociação, cabia também ao PT ceder um pouco. Quem mantivesse posição
contrária deveria começar a pensar em mudar de partido.
Acionados por Dirceu, governadores também pressionaram deputados a votar o projeto. João Alves (PFL-SE), Germano Rigotto
(PMDB-RS), Luiz Henrique
(PMDB-SC), Jarbas Vasconcelos
(PMDB-PE) e Lúcio Alcântara
(PSDB-CE) atuaram para conseguir os votos de suas bancadas.
Dirceu também conversou com
a bancada do PMDB, por intermédio do líder do governo, Aldo
Rebello (PC do B-SP), que estava
reunida antes da votação para decidir se boicotaria ou não a sessão.
O partido decidiu dar seus votos,
mas não arrancou nada concreto
sobre quando terá dois ministérios. De imediato, terá os cargos
no segundo escalão e a liberação
de verbas de emendas.
No início da tarde, o clima parecia mais favorável ao Planalto,
mas começou a mudar quando os
deputados tomaram conhecimento de duas declarações do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula aborreceu o PSDB, o PFL
e parte do PMDB ao atacar o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso em duas ocasiões distintas. Na primeira, culpou FHC pela
situação da educação no país. Na
segunda, deu a entender que o ex-presidente não teve a coragem de
enfrentar o debate da reforma.
Reação
Além disso, o presidente sugeriu que ele teve a coragem de fazer
a reforma que outros governos
não tiveram. A reação foi imediata. O PSDB, que já havia decidido
votar o texto principal, passou a
fazer corpo mole, no que foi seguido pelo PFL e pelo PMDB.
Uma votação realizada pelos
governistas para testar as chances
da proposta em plenário recomendou cautela: o requerimento
para encerrar a discussão e começar a votação foi aprovado por
pouco mais de 250 votos. O governo precisaria de pelo menos mais
cem, para entrar na disputa com
boa margem de segurança.
As insatisfações começaram a se
tornar evidentes desde o final da
tarde. O PTB, convidado para
uma reunião com Lula no Palácio
do Planalto, preferiu não aparecer. A sigla avisou ao Planalto que
o governo estava lhe impondo um
desgaste muito grande.
Apesar disso, votaria o texto do
acordo, mas liberaria os deputados na votação do subteto de
85,5% do salário de ministro do
STF para os desembargadores. O
mesmo artigo comprometia o
apoio do PL à proposta. Até as
23h, o presidente e líder da sigla,
Valdemar Costa Neto (SP), prometia apresentar um DVS (destaque de voto em separado) para
elevar o subteto para 90,25% do
salário de ministro do STF.
Mesmo os aliados tradicionais
do PT, como PC do B e PSB, apresentavam dissidências. Metade
dos 12 deputados comunistas ainda relutava em votar a favor da
contribuição dos inativos. Entre
os socialistas, quatro deputados
prometiam votar contra o texto
de Pimentel, três ligados ao ex-governador Anthony Garotinho e a
deputada Luiza Erundina (SP).
Apesar das dificuldades e trapalhadas políticas, o presidente da
Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) insistia em votar pelo menos o
texto principal. A votação dos
destaques ainda durante a madrugada dependia de um amplo
acordo entre os partidos.
(RAYMUNDO COSTA e OTÁVIO CABRAL)
Colaborou JULIA DUAILIBI, enviada especial a Brasília
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