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Conselho dá primeiro passo para livrar Sarney
Cinco denúncias, sendo uma contra o líder Renan, também são engavetadas
Oposição pode recorrer da decisão de Duque, mas não tem votos suficientes para revertê-la; Sarney responde ainda a outras 6 acusações
ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Conselho de
Ética do Senado, Paulo Duque
(PMDB-RJ), arquivou ontem
sumariamente quatro pedidos
de investigação contra o presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), dando sequência
à estratégia governista para salvar o aliado do presidente Lula
da crise que se arrasta desde fevereiro na Casa.
A decisão de Duque foi anunciada logo após sessão do plenário, na qual Sarney fez um
discurso com uma defesa técnica e apelos de paz à oposição.
Duque arquivou também outro requerimento contra o líder
do PMDB no Senado, Renan
Calheiros (AL). Os pedidos
contra ele e Sarney poderiam
resultar na cassação dos mandatos. São acusados, entre outras denúncias, de se beneficiar
de atos secretos para contratar
e exonerar parentes. Sarney
responde a mais seis acusações.
A oposição pode recorrer da
decisão de Duque, mas não tem
votos suficientes para revertê-la. Dos 15 integrantes do colegiado, 10 são governistas. A não
ser que consigam o apoio do
PT, que tem quatro votos e já
defendeu o afastamento de Sarney da presidência e a investigação dos fatos, os oposicionistas não terão chances de derrubar o arquivamento.
"Vamos recorrer de todas
elas, contamos com o PT", afirmou o líder do DEM, senador
José Agripino Maia (RN). A
oposição tem dois dias para recorrer. O prazo começa a contar a partir da publicação das
decisões no "Diário Oficial", o
que deve ocorrer hoje.
Os petistas com assento no
conselho, porém, são todos alinhados ao Planalto. "São fortes
os argumentos jurídicos do
presidente Duque", afirmou o
senador João Pedro (PT-AM).
Para ingressar com recurso,
os senadores precisam de cinco
assinaturas. A oposição tem o
número. Não há prazo para Duque colocar os recursos em votação. Para ser aprovado, são
necessários os votos de metade
mais um dos presentes.
O arquivamento faz parte da
estratégia da tropa de choque
de Sarney para blindá-lo e evitar que ele tenha de renunciar.
Ontem, o PMDB cumpriu a
promessa e protocolou no conselho representação contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio
(AM), que assinou sete denúncias contra Sarney. Ele é acusado de ter mantido um funcionário fantasma em seu gabinete por mais de um ano. Virgílio
devolveu ao Senado o dinheiro
pago pela Casa ao rapaz.
A justificativa do presidente
do conselho para arquivar os
primeiros cinco pedidos de investigação contra Sarney e Renan foi a mesma em todos os
casos: os fatos foram baseados
só em reportagens de jornal.
Ele acrescentou ainda que "o
conselho não pode substituir o
eleitor nem servir de instrumento político partidário" e
acusou Virgílio de querer fazer
"factoide" com vistas a tumultuar a eleição de 2010. Os textos
dos pareceres eram iguais.
Foram arquivadas ontem
três denúncias assinadas por
Virgílio contra Sarney e duas
representações do PSOL. Na
primeira, ele é acusado de ter
beneficiado um neto que tinha
empresa atuando no mercado
de crédito consignado da Casa.
"Não pode esse conselho ser
nem instrumento de ação político-partidária nem substituir
o eleitor em sua decisão soberana como titular do poder, do
qual o Congresso nada mais é
do que delegado", disse Duque.
A segunda denúncia o acusa
de ter mentido ao negar participação na Fundação José Sarney. A terceira, por ter usado o
Senado para ingressar no STF
com uma Adin (ação direta de
inconstitucionalidade) que reverteu decisão do governo do
Maranhão de retomar o prédio
do Convento das Mercês, onde
funciona a fundação.
Nas duas representações assinadas pelo PSOL, Sarney e
Renan são acusados de utilizar
os atos secretos para beneficiar
parentes e correligionários.
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