São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2001

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JANIO DE FREITAS

Problema sério

A simplicidade demagógica com que o governo está tratando um problema complexo como o de reparações aos negros deixará, já para o futuro próximo, uma sucessão de dificuldades que, em parte, preservam a atual situação e, ainda por cima, trazem um novo tipo de injustiça e discriminação.
Reservar 20% das vagas de universidades públicas para negros não lhes proporciona, por si só, o direito social de obter o diploma universitário. O percurso até a universidade é bloqueado aos negros por suas históricas dificuldades econômicas. As quais não deixarão de existir por lhes ser facilitado o acesso à universidade.
Embora não seja solução, a reserva de vagas é um paliativo parcial, desde, porém, que ao acesso universitário o governo combine a concessão de condições materiais, inclusive auxílio financeiro, de dedicação ao estudo. Sem tal amparo, a mesma opressão econômica que age contra a escolaridade da grande maioria negra vai agir contra a pequena minoria que se valha da admissão facilitada aos cursos superiores. E só uma parcela inexpressiva conseguirá chegar ao diploma, muito pouco ou nada modificando a situação atual.
A discriminação racial tem efeitos terríveis, mas a opressão econômica que atinge os negros e seu acesso pleno ao estudo atinge também, e com as mesmas consequências, dezenas de milhões de brancos. Estes, no entanto, com a concessão reservada à cor, e não estendida à pobreza, tornam-se vítimas de uma nova discriminação social. E desta vez oficial, estabelecida pelo governo em nome do Estado. A um propósito não igual, mas próximo, Vinicius Torres Freire fez na Folha uma pergunta que serve bem para a nova discriminação: "Racismo é problema, sim, mas como lidar com ele sem reforma social?"
No mesmo galope demagógico de Paulo Renato Souza no Ministério da Educação, Raul Jungmann levou o subdesenvolvido Ministério do Desenvolvimento Agrário a mais uma medida inepta. Por uma portaria, estabeleceu que a quantidade de negros nas empresas disputantes será critério de decisão nas concorrências públicas do ministério e do Incra. Está criada mais uma modalidade de fraude e dirigismo do resultado em licitações.


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