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JANIO DE FREITAS
Problema sério
A simplicidade demagógica com que o governo está
tratando um problema complexo como o de reparações aos negros deixará, já para o futuro
próximo, uma sucessão de dificuldades que, em parte, preservam a atual situação e, ainda
por cima, trazem um novo tipo
de injustiça e discriminação.
Reservar 20% das vagas de
universidades públicas para negros não lhes proporciona, por si
só, o direito social de obter o diploma universitário. O percurso
até a universidade é bloqueado
aos negros por suas históricas
dificuldades econômicas. As
quais não deixarão de existir
por lhes ser facilitado o acesso à
universidade.
Embora não seja solução, a reserva de vagas é um paliativo
parcial, desde, porém, que ao
acesso universitário o governo
combine a concessão de condições materiais, inclusive auxílio
financeiro, de dedicação ao estudo. Sem tal amparo, a mesma
opressão econômica que age
contra a escolaridade da grande
maioria negra vai agir contra a
pequena minoria que se valha
da admissão facilitada aos cursos superiores. E só uma parcela
inexpressiva conseguirá chegar
ao diploma, muito pouco ou nada modificando a situação
atual.
A discriminação racial tem
efeitos terríveis, mas a opressão
econômica que atinge os negros
e seu acesso pleno ao estudo
atinge também, e com as mesmas consequências, dezenas de
milhões de brancos. Estes, no
entanto, com a concessão reservada à cor, e não estendida à
pobreza, tornam-se vítimas de
uma nova discriminação social.
E desta vez oficial, estabelecida
pelo governo em nome do Estado. A um propósito não igual,
mas próximo, Vinicius Torres
Freire fez na Folha uma pergunta que serve bem para a nova discriminação: "Racismo é
problema, sim, mas como lidar
com ele sem reforma social?"
No mesmo galope demagógico
de Paulo Renato Souza no Ministério da Educação, Raul
Jungmann levou o subdesenvolvido Ministério do Desenvolvimento Agrário a mais uma medida inepta. Por uma portaria,
estabeleceu que a quantidade
de negros nas empresas disputantes será critério de decisão
nas concorrências públicas do
ministério e do Incra. Está criada mais uma modalidade de
fraude e dirigismo do resultado
em licitações.
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