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Decisão do STF pode ajudar grupo de Palocci
Ao livrar deputado da acusação de envolvimento na "máfia do lixo" de Ribeirão, tribunal deu argumentos para os outros denunciados
Deputado foi um dos alvos de apuração sobre supostas irregularidades cometidas em contratos de coleta de lixo quando era prefeito
ROGÉRIO PAGNAN
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do STF (Supremo
Tribunal Federal) que livrou o
deputado federal Antonio Palocci Filho (PT-SP) de se tornar
réu por suposto envolvimento
na "máfia do lixo" de Ribeirão
Preto (SP) provocou um efeito
cascata na defesa dos demais
denunciados pelo Ministério
Público de São Paulo.
Palocci era alvo de investigações sobre irregularidades nos
contratos de coleta de lixo em
Ribeirão junto com seus principais assessores nas duas gestões como prefeito local (1993-1996 e 2001-2002). Como tinha
foro especial, a ação sobre ele,
desmembrada, foi parar no
STF. Em junho último, por nove a um, os ministros do STF
arquivaram a denúncia contra
o ex-ministro, mas a ação na
primeira instância continua valendo para os outros acusados.
Após a decisão do STF, os outros acusados passaram a usar
os mesmos argumentos que
salvaram Palocci. Das 8 pessoas
denunciadas em 2006 pelo Ministério Público pela suposta
participação do esquema de
desvio de verbas da Prefeitura
de Ribeirão, 5 utilizaram os argumentos do STF pró-Palocci.
Dizem que, assim como Palocci, não podem ser consideradas culpadas apenas pelo cargo
que ocupavam. E, ainda, se não
há prova de que o ex-ministro
da Fazenda recebia propina no
esquema, elas também não precisam responder pela suposta
entrega desse dinheiro ilegal.
Ou seja, se a Justiça disse que
não existem provas contra Palocci, suposto "chefe" do grupo,
também não existem contra
seus supostos "comparsas".
Para promotores que participaram da investigação, e que
pediram para não ter seus nomes identificados, a "decisão
política" do STF deverá "contaminar" todo o processo de primeira instância, mesmo com
"farta quantidade de prova".
Uma das bases da decisão do
STF que beneficiou Palocci foi
a recomendação de arquivamento feita pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Para este, faltavam provas da participação de Palocci.
"A circunstância de o deputado federal Antonio Palocci ocupar o posto de prefeito de Ribeirão Preto não pode, por si só,
significar responsabilidade penal sobre todos os atos realizados no município", argumentou Souza em seu parecer.
O vice de Palocci na Prefeitura de Ribeirão, Gilberto Maggioni -que, segundo denúncia
do Ministério Público, ao tomar posse no cargo deu continuidade ao esquema criminoso
de desvio de verbas-, praticamente reproduziu as palavras
do procurador em sua defesa
protocolada na Justiça.
"[...]O prefeito não pode, pelo
simples fato de o ser, responsabilizar-se, direta ou indiretamente, por todos os setores da
administração, como secretarias e autarquias", diz trecho do
documento do ex-vice.
A Justiça de Ribeirão agora
analisa se receberá ou não a denúncia contra Maggioni e todos
os outros. Maggioni também
deve tentar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2010. Ele
negou à Folha tentar buscar foro especial na Justiça.
Na mesma linha de defesa
seguiu o empresário Carlos Alberto Leão, dono da empreiteira acusada de pagar propinas a
Palocci e ao PT. "O nobre procurador-geral da República
menciona que não pode um cidadão, por ocupar o posto especial, ser responsabilizado penalmente por todos os atos daquele órgão [...]", diz. "Ora,
idêntico é o caso do denunciado Carlos Alberto que, por ser
sócio do grupo Leão Leão, à
época dos fatos, foi incluído na
peça acusatória."
Os promotores rebatem a linha de defesa com o argumento de que a inclusão de Palocci
no suposto esquema fraudulento não ocorreu pelo cargo
que ocupava, mas sim porque
seu ex-assessor Rogério Buratti disse em depoimento à Polícia Civil e à Promotoria que R$
50 mil desviados no esquema
eram entregues ao então prefeito, que os repassava ao PT.
Além disso, uma planilha
eletrônica apreendida em computadores da empresa Leão
Leão registraria suposto repasse sistemático de R$ 50 mil a
um "Dr.", que Buratti disse se
tratar de Palocci. Isso também
não foi considerada prova suficiente pelo procurador-geral.
"Se [...] o Supremo Tribunal
Federal já declarou que tal planilha não é prova indiciária mínima apta para a instauração
de ação penal contra Antonio
Palocci, por consequência, tal
planilha não pode ser aceita como prova apta para determinar
a instauração de ação penal
contra o ora peticionário", diz
trecho da defesa apresenta por
Wilney Barquete, ex-funcionário da Leão Leão, ex-presidente
da Cohab na gestão de Palocci
(2001-2002) e irmão de Ralf, já
falecido, consultor da Presidência da Caixa Econômica durante a gestão de Palocci no
Ministério da Fazenda.
Isabel Bordini, que chefiava
o departamento responsável
pelo contrato de lixo, também
acusada por Buratti de fraude,
negou as acusações e tentou
explicar por que foi acusada pelo colega. "Meteram-lhe um
macacão de presidiário, um
macacão vermelho, foi algemado e seu corpo empurrado para
dentro do camburão. A sua
imagem, em seguida, foi transmitida por todos [os] jornais
nacionais -inclusive o "Jornal
Nacional'", diz trecho da defesa
de Isabel.
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