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Ex-senador vê "linchamento"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma carta manuscrita de
apenas 12 linhas, lida ontem pelo
primeiro-secretário do Senado,
Carlos Wilson (PTB-PE), para um
plenário quase vazio, o ex-presidente da Casa Jader Barbalho
(PMDB-PA) renunciou ao mandato para escapar de processo por
quebra de decoro, que poderia levar a sua cassação e à consequente
inelegibilidade por oito anos.
Apesar dos estilos diferentes, Jader repetiu palavras dos discursos
dos ex-senadores Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (PFL-DF), que renunciaram em maio também para fugir do julgamento político.
Ao contrário de Jader, que nem
foi ao plenário, ACM e Arruda fizeram longos e melancólicos discursos. Mas o tom foi o mesmo: os
três afirmaram ter sido ""vítimas"
de uma ""violência política" e de
um processo de ""linchamento".
Jader atribuiu o ""evidente linchamento" a que foi submetido
ao longo de um ano e seis meses
ao ""enfrentamento político" que
manteve com ACM e à sua eleição
para a presidência do Senado, em
14 de fevereiro de 2001.
""A história do Senado Federal
registrará a inominável violência
política de que estou sendo vítima", disse. O peemedebista encerrou a carta dizendo que sua
permanência na vida pública dependerá apenas do povo do Pará.
A renúncia de Jader será publicada no ""Diário do Senado" de
hoje. Na segunda-feira, a Secretaria Geral vai convocar o primeiro
suplente, Laércio Barbalho, pai do
ex-senador, que tem 60 dias para
assumir, prazo prorrogável por
mais 30 dias. Ele já declarou que
não pretende assumir a vaga.
Se o pai de Jader não assumir no
período ou informar antecipadamente que não pretende fazê-lo,
será convocado o segundo suplente, Fernando Ribeiro, secretário particular de Jader. Os dois
aparecem nas listas de beneficiários dos desvios do Banpará, principal denúncia contra Jader.
O Conselho de Ética concluiu
que ele faltou com o decoro ao negar envolvimento nas irregularidades do Banpará e ao tentar impedir as apurações, retardando o
envio de pedido ao Banco Central
de documentos relativos ao caso.
Com a renúncia, o pedido de
abertura de processo contra Jader
é arquivado, mas ele perde a imunidade parlamentar.
Para o especialista em direito
constitucional, Manuel Gonçalves Ferreira Filho, da USP, há como evitar que políticos renunciem para manter a elegibilidade:
a regulamentação do parágrafo 9º
do artigo 14 da Constituição, que
prevê a criação de uma lei complementar que estabeleça casos e
prazos de inelegibilidade.
Já para Caio Tácito, especialista
em direito administrativo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a "renúncia é quase como uma
confissão". Segundo o advogado,
o Congresso deveria dar maior
agilidade ao projeto de lei que visa
a acabar com a possibilidade de
renúncia com tais fins.
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