São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2001

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ANÁLISE

Senado se enfraquece, mas evita colapso

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Três senadores renunciaram a seus mandatos neste ano para escapar da cassação. No ano passado, um senador foi cassado. Nada disso parece ter abalado o ritmo do Senado, que saiu enfraquecido, mas muito longe de uma crise institucional imprevisível como faziam crer os políticos punidos nesses processos.
Com a renúncia nesta semana do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), aumentou a temperatura em Brasília, com a possibilidade de revide do paraense.
Jader não escondeu de ninguém que tinha preparado um dossiê contra, pelo menos, sete políticos de expressão nacional, que não o teriam ajudado durante seu processo. Até agora, entretanto, nada apareceu. A Folha apurou que dificilmente o agora ex-senador adotará uma estratégia ofensiva.
"Acho que o Jader agora vai se dedicar à sua campanha para o governo do Pará", diz o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP). O efeito dominó que muitos políticos temiam após a saída de Jader do Senado não começou. E parece que é uma hipótese remota. Está ocorrendo algo semelhante ao episódio em que Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda tiveram de renunciar para não serem cassados, em maio passado.
ACM, ainda no PFL da Bahia, e Arruda, agora no PFL do Distrito Federal (era do PSDB), fizeram dezenas de insinuações sobre o que poderiam contar se fossem expelidos do Senado.
Arruda acabou não fazendo nada. Recentemente, encontrou-se com o presidente Fernando Henrique Cardoso. FHC era um de seus possíveis alvos, mas o ex-tucano acabou se recompondo com o antigo aliado.
ACM ensaiou uma reação logo depois de sua renúncia, dando várias entrevistas. Atacou FHC e outros integrantes do governo. Acabou perdendo espaço na mídia, pois não trazia muitas novidades. Pior do que isso, acabou sendo processado por uma pessoa a quem atacou -no caso, o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira.
Outro que também teria muito a dizer e pouco contou foi o ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF). Cassado no ano passado, continua tendo de se dedicar mais tempo à sua defesa na Justiça do que a atacar eventuais desafetos.
Pode-se dizer que o Senado saiu fortalecido depois de forçar a saída de dois de seus ex-presidentes (ACM e Jader)? "Acho que o efeito imediato para a imagem pode até ser ruim, porque as pessoas ficam falando que político é tudo igual e essas coisas. Mas, no médio prazo, desde que providências sejam tomadas, pode até haver uma conclusão positiva", diz Temer.
Essa é a opinião também do presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC): "Isso tudo que aconteceu demonstrou que a instituição é permanente, apesar dos problemas individuais de alguns de seus membros".
Para Bornhausen, é improvável que Jader comece uma campanha de ataques a ex-colegas: "Cada um que saiu está tomando seu rumo nos Estados. Agora, deve acontecer a mesma coisa".
Jorge Bornhausen e Michel Temer acham que a saída de tantos políticos de expressão do Senado deve levar a mudanças de procedimentos que podem aprimorar o funcionamento do Congresso como um todo.
"A TV Câmara deve ser utilizada para discutir temas de maior relevância, como reforma agrária e outros. Há uma idéia de que um dois dias da semana sejam usados para isso", declara Bornhausen. Para Temer, "há agora clima para que seja aprovada uma lei que mantenha as investigações em casos futuros, mesmo que o político renuncie ao mandato".
O presidente nacional do PT, deputado federal José Dirceu (SP), tem opinião diferente de Bornhausen e Temer. "O Senado foi tangido pela opinião pública. Está desmoralizado. É uma Casa que hoje não tem autoridade."
Na avaliação de Dirceu, o Senado só será reforçado se houver uma grande renovação de seus quadros na eleição do ano que vem, quando vagam dois terços das cadeiras de senadores.


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