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ANÁLISE
Senado se enfraquece, mas evita colapso
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Três senadores renunciaram a
seus mandatos neste ano para escapar da cassação. No ano passado, um senador foi cassado. Nada
disso parece ter abalado o ritmo
do Senado, que saiu enfraquecido, mas muito longe de uma crise
institucional imprevisível como
faziam crer os políticos punidos
nesses processos.
Com a renúncia nesta semana
do senador Jader Barbalho
(PMDB-PA), aumentou a temperatura em Brasília, com a possibilidade de revide do paraense.
Jader não escondeu de ninguém
que tinha preparado um dossiê
contra, pelo menos, sete políticos
de expressão nacional, que não o
teriam ajudado durante seu processo. Até agora, entretanto, nada
apareceu. A Folha apurou que dificilmente o agora ex-senador
adotará uma estratégia ofensiva.
"Acho que o Jader agora vai se
dedicar à sua campanha para o
governo do Pará", diz o presidente nacional do PMDB, deputado
Michel Temer (SP). O efeito dominó que muitos políticos temiam após a saída de Jader do Senado não começou. E parece que
é uma hipótese remota. Está ocorrendo algo semelhante ao episódio em que Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda tiveram de renunciar para não serem
cassados, em maio passado.
ACM, ainda no PFL da Bahia, e
Arruda, agora no PFL do Distrito
Federal (era do PSDB), fizeram
dezenas de insinuações sobre o
que poderiam contar se fossem
expelidos do Senado.
Arruda acabou não fazendo nada. Recentemente, encontrou-se
com o presidente Fernando Henrique Cardoso. FHC era um de
seus possíveis alvos, mas o ex-tucano acabou se recompondo com
o antigo aliado.
ACM ensaiou uma reação logo
depois de sua renúncia, dando várias entrevistas. Atacou FHC e outros integrantes do governo. Acabou perdendo espaço na mídia,
pois não trazia muitas novidades.
Pior do que isso, acabou sendo
processado por uma pessoa a
quem atacou -no caso, o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo
Sérgio de Oliveira.
Outro que também teria muito
a dizer e pouco contou foi o ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF).
Cassado no ano passado, continua tendo de se dedicar mais tempo à sua defesa na Justiça do que a
atacar eventuais desafetos.
Pode-se dizer que o Senado saiu
fortalecido depois de forçar a saída de dois de seus ex-presidentes
(ACM e Jader)? "Acho que o efeito imediato para a imagem pode
até ser ruim, porque as pessoas ficam falando que político é tudo
igual e essas coisas. Mas, no médio prazo, desde que providências
sejam tomadas, pode até haver
uma conclusão positiva", diz Temer.
Essa é a opinião também do
presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC): "Isso
tudo que aconteceu demonstrou
que a instituição é permanente,
apesar dos problemas individuais
de alguns de seus membros".
Para Bornhausen, é improvável
que Jader comece uma campanha
de ataques a ex-colegas: "Cada
um que saiu está tomando seu rumo nos Estados. Agora, deve
acontecer a mesma coisa".
Jorge Bornhausen e Michel Temer acham que a saída de tantos
políticos de expressão do Senado
deve levar a mudanças de procedimentos que podem aprimorar o
funcionamento do Congresso como um todo.
"A TV Câmara deve ser utilizada para discutir temas de maior
relevância, como reforma agrária
e outros. Há uma idéia de que um
dois dias da semana sejam usados
para isso", declara Bornhausen.
Para Temer, "há agora clima para
que seja aprovada uma lei que
mantenha as investigações em casos futuros, mesmo que o político
renuncie ao mandato".
O presidente nacional do PT,
deputado federal José Dirceu
(SP), tem opinião diferente de
Bornhausen e Temer. "O Senado
foi tangido pela opinião pública.
Está desmoralizado. É uma Casa
que hoje não tem autoridade."
Na avaliação de Dirceu, o Senado só será reforçado se houver
uma grande renovação de seus
quadros na eleição do ano que
vem, quando vagam dois terços
das cadeiras de senadores.
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