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SUCESSÃO NO ESCURO
Ministro diz que Lula passou de "sapo barbudo" a "tucano barbudo" e defende políticas do governo
Serra faz discurso, elogia Real e critica PT
RAYMUNDO COSTA
OTÁVIO CABRAL
ENVIADOS ESPECIAIS A GOIÂNIA
Em discurso inesperado, o ministro da Saúde, José Serra, adotou ontem atitude de candidato à
Presidência durante reunião dos
principais dirigentes do PSDB.
Durante cerca de 30 minutos, os
outros pré-candidatos tucanos
ouviram Serra elogiar a estabilidade econômica e programas sociais do governo, pregar políticas
de desenvolvimento e atacar o PT.
"O Lula passou de sapo barbudo do Brizola a tucano barbudo
do Duda", disse Serra, referindo-se ao discurso moderado em termos econômicos adotado pelo
virtual candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, e
ao novo publicitário da sigla, Duda Mendonça. "Resta ver que Fura-Fila o Duda vai inventar dessa
vez para o PT tentar ganhar a eleição", disse Serra, em referência a
promessa da campanha, capitaneada por Mendonça, de Celso
Pitta na eleição paulistana de 96.
O governador do Ceará, Tasso
Jereissati, principal adversário de
Serra na disputa pela indicação do
PSDB, fez um discurso curto, que
causou um certo mal-estar entre
os líderes tucanos, que se reuniram ontem em Goiânia para discutir o futuro do PSDB. Tasso
classificou de "espetáculo degradante" o troca-troca partidário
ocorrido nos últimos dias. A
maioria dos presentes estava de
telefone celular ligado monitorando as novas filiações.
Em nenhum momento Serra
admitiu ser candidato, mas adotou a atitude que o presidente Fernando Henrique Cardoso vinha
cobrando do eventual candidato
do governo. Não falou em "continuidade sem continuismo", expressão usada pelo ministro Paulo Renato (Educação), mas esse
foi o tom de seu discurso.
Serra falou que o governo, em
nove meses, atravessou cinco graves crises sem perder a estabilidade: a crise política do Senado, a
ameaça permanente de instalação
da CPI da corrupção, a crise energética, as dificuldades econômicas da Argentina e o terrorismo
nos Estados Unidos.
Em 98, destacou Serra, o dólar
era cotado a R$ 1,20 e atualmente
está na casa dos R$ 2,70. Apesar
disso, a inflação não disparou:
"Isso mostra o vigor da estabilidade", disse. Crítico conhecido da
política econômica, fez uma ressalva ao elogiar a política cambial:
"O governo está atuando com firmeza. É bom, mas isso tem um limite do ponto de vista da estabilidade econômica". Serra evitou
comentar qual seria esse limite.
O ministro fez elogios indiretos
ao presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, citado como possível ministro da Fazenda em um
eventual governo Serra.
Antes de entrar no capítulo do
desenvolvimento, Serra fez questão de elogiar a política de ajuste
fiscal. Falou genericamente em
desenvolvimento regional e ressaltou que a OMC (Organização
Mundial do Comércio) tem mecanismos que permitem ao país
"políticas de estímulo".
Serra elogiou ainda as políticas
do governo nas área de educação,
comunicações, desenvolvimento
regional e a reforma providenciaria. Um discurso com objetivo definido: mostrar o governo como
contraponto a uma oposição sem
experiência. Os tucanos saíram da
reunião convencidos de que Serra
havia enfim apresentado sua candidatura. Mas ninguém considera
que a disputa esteja definida.
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