São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Ministro diz que Lula passou de "sapo barbudo" a "tucano barbudo" e defende políticas do governo

Serra faz discurso, elogia Real e critica PT

RAYMUNDO COSTA
OTÁVIO CABRAL
ENVIADOS ESPECIAIS A GOIÂNIA

Em discurso inesperado, o ministro da Saúde, José Serra, adotou ontem atitude de candidato à Presidência durante reunião dos principais dirigentes do PSDB.
Durante cerca de 30 minutos, os outros pré-candidatos tucanos ouviram Serra elogiar a estabilidade econômica e programas sociais do governo, pregar políticas de desenvolvimento e atacar o PT.
"O Lula passou de sapo barbudo do Brizola a tucano barbudo do Duda", disse Serra, referindo-se ao discurso moderado em termos econômicos adotado pelo virtual candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, e ao novo publicitário da sigla, Duda Mendonça. "Resta ver que Fura-Fila o Duda vai inventar dessa vez para o PT tentar ganhar a eleição", disse Serra, em referência a promessa da campanha, capitaneada por Mendonça, de Celso Pitta na eleição paulistana de 96.
O governador do Ceará, Tasso Jereissati, principal adversário de Serra na disputa pela indicação do PSDB, fez um discurso curto, que causou um certo mal-estar entre os líderes tucanos, que se reuniram ontem em Goiânia para discutir o futuro do PSDB. Tasso classificou de "espetáculo degradante" o troca-troca partidário ocorrido nos últimos dias. A maioria dos presentes estava de telefone celular ligado monitorando as novas filiações.
Em nenhum momento Serra admitiu ser candidato, mas adotou a atitude que o presidente Fernando Henrique Cardoso vinha cobrando do eventual candidato do governo. Não falou em "continuidade sem continuismo", expressão usada pelo ministro Paulo Renato (Educação), mas esse foi o tom de seu discurso.
Serra falou que o governo, em nove meses, atravessou cinco graves crises sem perder a estabilidade: a crise política do Senado, a ameaça permanente de instalação da CPI da corrupção, a crise energética, as dificuldades econômicas da Argentina e o terrorismo nos Estados Unidos.
Em 98, destacou Serra, o dólar era cotado a R$ 1,20 e atualmente está na casa dos R$ 2,70. Apesar disso, a inflação não disparou: "Isso mostra o vigor da estabilidade", disse. Crítico conhecido da política econômica, fez uma ressalva ao elogiar a política cambial: "O governo está atuando com firmeza. É bom, mas isso tem um limite do ponto de vista da estabilidade econômica". Serra evitou comentar qual seria esse limite.
O ministro fez elogios indiretos ao presidente do Banco Central, Armínio Fraga, citado como possível ministro da Fazenda em um eventual governo Serra.
Antes de entrar no capítulo do desenvolvimento, Serra fez questão de elogiar a política de ajuste fiscal. Falou genericamente em desenvolvimento regional e ressaltou que a OMC (Organização Mundial do Comércio) tem mecanismos que permitem ao país "políticas de estímulo".
Serra elogiou ainda as políticas do governo nas área de educação, comunicações, desenvolvimento regional e a reforma providenciaria. Um discurso com objetivo definido: mostrar o governo como contraponto a uma oposição sem experiência. Os tucanos saíram da reunião convencidos de que Serra havia enfim apresentado sua candidatura. Mas ninguém considera que a disputa esteja definida.


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