São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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MINAS GERAIS

Com 61%, tucano tem chances de vencer no 1º turno, ao contrário de disputas acirradas do passado

Aécio rompe tradição e deve ser eleito hoje

PAULO PEIXOTO
RANIER BRAGON

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O candidato Aécio Neves (PSDB), 42, presidente da Câmara dos Deputados, deverá ser eleito hoje governador de Minas Gerais, rompendo uma tradição histórica de disputas acirradas pelo Palácio da Liberdade.
Desde a eleição de 1947 -que é o dado mais antigo disponibilizado pela Justiça Eleitoral em Minas-, nunca um candidato ao governo estadual se aproximou da votação que Aécio deverá ter hoje. Pesquisa Datafolha realizada na sexta e ontem indica sua vitória no primeiro turno com 61% dos votos válidos.
Os votos válidos são os que contam para a definição do resultado, e não o total de votos. O deputado federal Nilmário Miranda (PT) aparece em segundo lugar com 20%, seguido pelo atual vice-governador, Newton Cardoso (PMDB), com 14%.
O Datafolha ouviu 2.445 eleitores em 86 municípios. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Além de quebrar esse ciclo de disputas acirradas, o candidato tucano deve ser o primeiro governador a se eleger no primeiro turno desde a instituição da eleição em dois turnos, a partir de 1990.
A média da diferença entre o primeiro e o segundo colocado nas dez eleições ocorridas desde 1947 é de 11,7 pontos percentuais -de 66 a 81, governadores eram nomeados pelo regime militar.
Nas duas disputas que Tancredo Neves, avô de Aécio, participou, as eleições foram muito acirradas. Em 1960, Tancredo (PSD) perdeu para Magalhães Pinto (UDN) por uma diferença de 5,3 pontos. Em 1982, disputando pelo PMDB, venceu Eliseu Resende (PDS) por 4,6 pontos.

Novo tempo
Aécio entrou nesta disputa com o apoio de 12 partidos e muitas lideranças políticas, com destaque para o governador Itamar Franco (sem partido). A unidade política proposta por Aécio causou debandadas. No PMDB de Newton, dirigentes do partido estimam que metade do partido abandonou o barco newtista.
Essa unidade faz com que ele vislumbre vôos ainda mais altos e um novo tempo na política mineira. Quer trânsito livre em Brasília, fala em liderar uma frente de governadores, apoiar o presidente eleito, seja quem for, e reduzir a influência política de São Paulo. Não esconde o desejo de chegar à Presidência -cargo para o qual já foi lançado por Itamar.
"Vamos ousar mais. Conversar mais com o próximo presidente da República, seja ele qual for. Minas tem de voltar a crescer mais do que a média nacional", disse.
E acrescentou: "Eu vou ser um governador que vai administrar o Estado com propostas criativas e buscar parcerias, mas eu não vou abdicar do espaço político que conquistei em Brasília, no Congresso Nacional. Pretendo ter uma presença nas discussões centrais que o país vai viver".
Mas o lado administrativo não será nada fácil. Minas enfrenta uma crise financeira e deve finalizar o balanço deste ano com um déficit da ordem de R$ 2 bilhões. O Estado tem uma dívida com a União de R$ 28 bilhões e outra com os fornecedores que ultrapassa R$ 5 bilhões.
Esta eleição em Minas pode ter enterrado politicamente a principal liderança do PMDB no Estado, Newton, de quem se esperava uma polarização com o tucano. Dirigentes do partido ligados a ele acreditam que sua liderança será questionada até mesmo dentro do partido.
Newton perdeu espaço para o PT de Nilmário Miranda, que, apesar da distância numérica que o separa de Aécio, se credencia para o que assessores dizem ser um de seus principais objetivos: disputar, em 2004, a vaga de candidato à Prefeitura de Belo Horizonte com o atual prefeito, Fernando Pimentel (PT).
Nilmário começou a campanha de forma tímida. Na medida em que foi crescendo e ultrapassou Newton, foi se soltando e tentando polarizar com Aécio. Bateu no tucano por ele "tentar esconder" o presidenciável José Serra da sua campanha, de forma a não comprometer seu projeto de unidade.
"O Aécio não teve coragem de enfrentar a disputa. Não debateu e tentou todo o tempo esconder o Serra. A eleição não acabou. O povo saberá escolher e me levará para o segundo turno, é só o que eu quero", disse o petista.



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