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POLÍTICA ENERGÉTICA
Segundo secretário americano, questão não preocupa EUA
Para Powell, rixa entre Brasil e agência nuclear é "irrelevante"
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A controvérsia em torno da inspeção de centrífugas da usina de
enriquecimento de urânio da INB
(Indústrias Nucleares Brasileiras), situada em Resende (RJ), entre o governo brasileiro e a AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica), que faz parte do sistema da ONU, não preocupa os
EUA, segundo disse ontem, em
São Paulo, o secretário de Estado
americano, Colin Powell.
"Não creio que se trate de um
assunto relevante no que tange às
relações entre o Brasil e os EUA.
Sabemos, com certeza, que o Brasil não pensa em [ter] armas nucleares de forma nenhuma e não
tem nenhum desejo em tomar essa direção. O Brasil não é um proliferador em potencial e não constitui preocupação para nós. Não
estamos nem um pouco preocupados com isso", declarou Powell.
"O Brasil é signatário de vários
tratados internacionais sobre o tema e tem um acordo com a AIEA.
Parece que há alguns temas importantes relacionados à usina de
Resende e ao tipo de acesso que a
AIEA terá ao local para desempenhar seu trabalho de vistoria. Depois isso, ela poderá dizer que o
Brasil respeita seus compromissos internacionais", acrescentou.
"Trata-se de uma questão entre
o Brasil e a AIEA. Uma equipe da
agência estará aqui no Brasil em
algumas semanas para discutir o
assunto com o governo brasileiro.
Tenho, portanto, confiança em
que, trabalhando juntas, as duas
partes encontrarão uma solução
para a controvérsia", completou o
secretário de Estado dos EUA.
Em entrevista, por telefone, à
Folha, o diretor da Associação
Brasileira de Energia Nuclear
(Aben) Edson Kuramoto afirmou
que as declarações de Powell correspondem "justamente ao que a
Aben tem defendido".
"A polêmica não tem sentido. O
Brasil não pode ser posto ao lado
dos países que sofrem pressão da
AIEA, pois é pacífico, assinou tratados sobre a questão e tem um
acordo bilateral de inspeções com
a Argentina", afirmou Kuramoto.
Embora o Brasil não preocupe
os EUA nesse sentido, Powell salientou que há outras fontes de inquietação na cena internacional.
"A Coréia do Norte e o Irã são
nossas preocupações, não o Brasil. Temos confiança total no sistema político-constitucional brasileiro, já que sua Constituição
trata do tema. Trata-se apenas de
resolver uma disputa entre o Brasil e a AIEA. Acompanharemos
tudo com muito interesse."
Kuramoto também destacou o
papel da Carta. "Não há razão para duvidar dos propósitos pacíficos do Brasil porque a Constituição de 1988 nos impede de fazer
pesquisas visando obter armas
nucleares", apontou. Segundo o
engenheiro, ademais, "houve
avanços significativos nas últimas
semanas, e, certamente, a AIEA e
o Brasil chegarão a um acordo".
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