São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA ENERGÉTICA

Segundo secretário americano, questão não preocupa EUA

Para Powell, rixa entre Brasil e agência nuclear é "irrelevante"

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A controvérsia em torno da inspeção de centrífugas da usina de enriquecimento de urânio da INB (Indústrias Nucleares Brasileiras), situada em Resende (RJ), entre o governo brasileiro e a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que faz parte do sistema da ONU, não preocupa os EUA, segundo disse ontem, em São Paulo, o secretário de Estado americano, Colin Powell.
"Não creio que se trate de um assunto relevante no que tange às relações entre o Brasil e os EUA. Sabemos, com certeza, que o Brasil não pensa em [ter] armas nucleares de forma nenhuma e não tem nenhum desejo em tomar essa direção. O Brasil não é um proliferador em potencial e não constitui preocupação para nós. Não estamos nem um pouco preocupados com isso", declarou Powell.
"O Brasil é signatário de vários tratados internacionais sobre o tema e tem um acordo com a AIEA. Parece que há alguns temas importantes relacionados à usina de Resende e ao tipo de acesso que a AIEA terá ao local para desempenhar seu trabalho de vistoria. Depois isso, ela poderá dizer que o Brasil respeita seus compromissos internacionais", acrescentou.
"Trata-se de uma questão entre o Brasil e a AIEA. Uma equipe da agência estará aqui no Brasil em algumas semanas para discutir o assunto com o governo brasileiro. Tenho, portanto, confiança em que, trabalhando juntas, as duas partes encontrarão uma solução para a controvérsia", completou o secretário de Estado dos EUA.
Em entrevista, por telefone, à Folha, o diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) Edson Kuramoto afirmou que as declarações de Powell correspondem "justamente ao que a Aben tem defendido".
"A polêmica não tem sentido. O Brasil não pode ser posto ao lado dos países que sofrem pressão da AIEA, pois é pacífico, assinou tratados sobre a questão e tem um acordo bilateral de inspeções com a Argentina", afirmou Kuramoto.
Embora o Brasil não preocupe os EUA nesse sentido, Powell salientou que há outras fontes de inquietação na cena internacional.
"A Coréia do Norte e o Irã são nossas preocupações, não o Brasil. Temos confiança total no sistema político-constitucional brasileiro, já que sua Constituição trata do tema. Trata-se apenas de resolver uma disputa entre o Brasil e a AIEA. Acompanharemos tudo com muito interesse."
Kuramoto também destacou o papel da Carta. "Não há razão para duvidar dos propósitos pacíficos do Brasil porque a Constituição de 1988 nos impede de fazer pesquisas visando obter armas nucleares", apontou. Segundo o engenheiro, ademais, "houve avanços significativos nas últimas semanas, e, certamente, a AIEA e o Brasil chegarão a um acordo".


Texto Anterior: Eleitor já mostrou que preferer petista, diz ex-governador
Próximo Texto: General é o 1º secretário de Estado negro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.