São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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DIPLOMACIA

EUA, porém, não dão apoio formal à candidatura brasileira, como já fizeram França, Rússia e Reino Unido

Brasil é sério candidato na ONU, diz Powell

DA REDAÇÃO

O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, afirmou ontem, em evento em São Paulo, que a candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU é "séria" e "sólida", porém não indicou que os EUA pretendam dar seu apoio formal à intenção brasileira antes da publicação de um relatório da ONU sobre a reforma da entidade, marcada para o final do ano. O Brasil é membro rotativo do CS.
"Os EUA saúdam a crescente liderança brasileira nas Américas e na cena mundial... O Brasil é um candidato sólido a integrar um CS ampliado", declarou Powell ante uma platéia de mais de cem empresários convidados pela Câmara de Comércio Americana de São Paulo e pelo consulado dos EUA.
"Trata-se de uma grande democracia, não-nuclear, que desempenha um papel responsável na cena mundial. É um país que está disposto a enviar tropas a outras parte do mundo e do hemisfério e a participar de esforços de manutenção da paz", avaliou Powell.
"[O Brasil] tem posições responsáveis em relação às discussões sobre o comércio global. Certamente, pensaria que é um sólido candidato", acrescentou o secretário. Todavia ele afirmou ainda que, antes que o relatório da ONU sobre o tema seja divulgado, os EUA "crêem que seja melhor não apontar nenhum país específico".
Outros países, como a França, o Reino Unido e a Rússia (membros permanentes do CS), além da Alemanha, do Japão e da Índia (que anseiam obter uma cadeira permanente no mais importante órgão decisório da ONU), já expressaram sua aprovação à candidatura brasileira. Hoje os outros membros permanentes do CS, com direito de veto, são os EUA e a China. Esta não vê com bons olhos as aspirações japonesas.
Powell mencionou como passos importantes da diplomacia brasileira -que contribuem para fortalecer sua candidatura- a chefia da missão de paz da ONU no Haiti (atualmente), a atuação na resolução do impasse político na Venezuela, com a criação do Grupo de Amigos (início de 2003) e a participação na estabilização da crise boliviana (outubro de 2003).
"O Brasil e os EUA trabalharam juntos na ONU para conseguir a aprovação da missão de paz no Haiti. Esta já serviu para salvar muitas vidas e ajudará a pacificar o país. A comunidade internacional veio a público em julho para prometer sua ajuda para reconstruir o Haiti. A primeira parte do US$ 1,3 bilhão prometido ao Haiti começa a chegar ao país. Mas nenhuma quantidade de apoio material seria suficiente sem a segurança oferecida pelas forças da ONU lideradas pelo Brasil."
"Na Venezuela também, o Brasil se engajou de modo enérgico e construtivo no apoio à democracia por meio de sua liderança do Grupo de Amigos na Organização dos Estados Americanos e de seus esforços bilaterais com a Venezuela", afirmou Powell. "Na Bolívia, o presidente Lula contribuiu para atenuar as tensões e para gerar confiança na democracia, ao estimular o progresso econômico com investimentos e com o perdão da dívida, apoiar o governo constitucional e enfatizar, em suas conversas com o governo boliviano, a importância das reformas democráticas", completou.
Vale lembrar que, antes da eleição presidencial americana de 2 de novembro, Washington não deverá tomar posição definitiva a respeito da reforma da ONU. Afinal, uma eventual mudança de governo poderia alterar a posição dos EUA sobre o assunto.
Embora tenha admitido que as dificuldades são enormes, Powell, que vai a Granada depois de deixar o país hoje, defendeu a libertação do Afeganistão e do Iraque de regime autoritários e exaltou a realização de eleições livres nos dois países no futuro próximo: "Mais de 10 milhões de afegãos votarão pela primeira vez para presidente no próximo sábado... O mesmo ocorrerá no Iraque".
O secretário de Estado, que também se reuniu com Lula e com o chanceler Celso Amorim, em Brasília, afirmou que a questão dos imigrantes ilegais que vivem nos EUA, incluindo muitos brasileiros, é relevante, mas que o 11 de Setembro tornou mais difícil a regularização de sua situação.
"Os EUA querem que os brasileiros vão à escolas ou aos hospitais americanos... Contudo a questão da imigração é complexa, pois não queremos premiar os ilegais, embora estejamos conscientes de que eles merecem um tratamento cordial", declarou Powell no final do encontro.
Inicialmente previsto para durar apenas 30 minutos, o encontro entre Powell e Lula levou mais de uma hora. Na saída, Powell disse que o encontro foi "muito bom". A subsecretária de Política do Itamaraty, Vera Pedrosa, afirmou que Lula e Powell não trataram de assuntos polêmicos, conversaram sobre economia e a relação entre os dois países.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)


Colaborou a SUCURSAL DE BRASÍLIA


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