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RECEPÇÃO À BRASILEIRA
Amorim e Powell brindam às "divergências sem antagonismo"; Suplicy vende o renda mínima
Americano ganha jantar descontraído
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O secretário de Estado Colin
Powell comemorou ontem sua
visita de um dia a Brasília com
um jantar de rara informalidade
no Itamaraty, em que ele e o
chanceler Celso Amorim concordaram: "Divergências não
significam antagonismo", disseram Amorim e Powell ao brindar, ambos em inglês.
Antes do jantar, rindo, Powell
comentou que se surpreendeu,
porque ninguém lhe perguntava
sobre o atrito do início do ano,
com brasileiros sendo fichados
nos aeroportos dos EUA e americanos imprimindo digitais nos
aeroportos do Rio de Janeiro e
de São Paulo. "Parece que foi ontem, mas ninguém fala mais nisso", disse o secretário. "Isso passou, é um não-assunto", acrescentou Amorim.
Powell, que tinha dito pela manhã que o Brasil é um "forte candidato" se forem abertas novas
cadeiras de membro permanente do Conselho de Segurança da
ONU, à noite tergiversou. O Brasil não é o único postulante da
América Latina. Agradar a um
seria desagradar a os outros.
Já no jantar, Amorim enfim
explicou por que recebeu no
mesmo dia a chanceler de Barbados, Billie Miller, para almoço,
e o secretário americano, para
jantar. Não foi por acaso. Foi
uma simbologia, segundo ele, da
política externa brasileira de
prestar atenção igualmente aos
"poderosos" e aos "pequenos".
O secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, tido como
"antiamericanista", ficou próximo de Powell. No meio do jantar, distanciou-se. Quebrando o
protocolo, ele cedeu o lugar ao
senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que quis conversar com o
secretário. Tema: renda mínima.
Enquanto Suplicy discorria sobre seu assunto predileto, Powell
apenas abanava a cabeça, afirmativamente. Entre os dois, a
mulher de Amorim, Ana, esforçava-se para ouvir a conversa
paralela entre o ministro da Defesa, José Viegas, e o da Cultura,
Gilberto Gil, cada um de um lado da mesa. Gil cantarolava baixinho, batucando com os dedos.
Feliz da vida, Suplicy deixou
dois presentes para Powell: o livro "Renda da Cidadania", com
dedicatória em inglês, e quatro
cartas suas para diferentes personalidades sobre o tema.
Os 34 convidados que participaram do jantar tomaram vinho
branco brasileiro, com direito a
jabuticabas de sobremesa.
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