São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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RECEPÇÃO À BRASILEIRA

Amorim e Powell brindam às "divergências sem antagonismo"; Suplicy vende o renda mínima

Americano ganha jantar descontraído

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O secretário de Estado Colin Powell comemorou ontem sua visita de um dia a Brasília com um jantar de rara informalidade no Itamaraty, em que ele e o chanceler Celso Amorim concordaram: "Divergências não significam antagonismo", disseram Amorim e Powell ao brindar, ambos em inglês.
Antes do jantar, rindo, Powell comentou que se surpreendeu, porque ninguém lhe perguntava sobre o atrito do início do ano, com brasileiros sendo fichados nos aeroportos dos EUA e americanos imprimindo digitais nos aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo. "Parece que foi ontem, mas ninguém fala mais nisso", disse o secretário. "Isso passou, é um não-assunto", acrescentou Amorim.
Powell, que tinha dito pela manhã que o Brasil é um "forte candidato" se forem abertas novas cadeiras de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, à noite tergiversou. O Brasil não é o único postulante da América Latina. Agradar a um seria desagradar a os outros.
Já no jantar, Amorim enfim explicou por que recebeu no mesmo dia a chanceler de Barbados, Billie Miller, para almoço, e o secretário americano, para jantar. Não foi por acaso. Foi uma simbologia, segundo ele, da política externa brasileira de prestar atenção igualmente aos "poderosos" e aos "pequenos".
O secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, tido como "antiamericanista", ficou próximo de Powell. No meio do jantar, distanciou-se. Quebrando o protocolo, ele cedeu o lugar ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que quis conversar com o secretário. Tema: renda mínima.
Enquanto Suplicy discorria sobre seu assunto predileto, Powell apenas abanava a cabeça, afirmativamente. Entre os dois, a mulher de Amorim, Ana, esforçava-se para ouvir a conversa paralela entre o ministro da Defesa, José Viegas, e o da Cultura, Gilberto Gil, cada um de um lado da mesa. Gil cantarolava baixinho, batucando com os dedos.
Feliz da vida, Suplicy deixou dois presentes para Powell: o livro "Renda da Cidadania", com dedicatória em inglês, e quatro cartas suas para diferentes personalidades sobre o tema.
Os 34 convidados que participaram do jantar tomaram vinho branco brasileiro, com direito a jabuticabas de sobremesa.


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