|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Renata Lo Prete
Procura-se um Delúbio
DURARAM POUCO a
ventura de Geraldo
Alckmin e o abatimento de Lula. Menos de
uma semana depois da votação que garantiu o segundo turno, o candidato
tucano se debate em noticiário negativo derivado
do apoio da família Garotinho, enquanto o presidente dá lições de ética e arregimenta um exército de
governadores e ministros
para cuidar em tempo integral da reeleição.
Mesmo robustecido pelo desempenho no domingo, Alckmin voltou a parecer pequeno diante de
uma máquina de guerra
azeitada com verbas do
Orçamento e dotada de
um atirador -Ciro Gomes- capaz do que nem
os petistas haviam ousado:
afirmar em público, com
todas as letras e nenhum
elemento para tanto, que o
dossiê contra José Serra
foi obra de José Serra.
Seria possível concluir
que tudo voltou a jogar a
favor de Lula, não fosse
um problema: o caso do
dossiê, provocador do segundo turno, está visivelmente mal parado.
Na segunda-feira, em
entrevista coletiva, Lula
pediu a Deus a solução rápida ""desse mistério". Como Márcio Thomaz Bastos já informou a seus colegas de Esplanada, durante reunião para tratar
da campanha, que a origem do dinheiro dificilmente será revelada até o
próximo dia 29, fica claro
que a solução a que o presidente alude não difere
da encontrada na crise do
mensalão: alguém para assumir a bronca sem restrições e até o fim.
Alguém como Delúbio
Soares, que tudo sabe e nada irá revelar. Um homem
que, na mais difícil das horas, garantiu a Lula o seu
silêncio, dizendo a um intermediário: "Eu só não
vou me matar".
Ocorre que nenhum dos
atores do dossiê até agora
aceitou fazer o papel do
ex-tesoureiro. As histórias
contadas por Lorenzetti
(o churrasqueiro), Bargas
(o velho amigo) e Expedito
(o sr. BB) não servem como "solução" porque nelas não existe o dinheiro.
O mesmo vale para a
versão de Hamilton Lacerda, o homem da mala
em que haveria apenas
"material de campanha".
À diferença de Delúbio, o
braço direito de Aloizio
Mercadante resiste ao sacrifício definitivo e dá sinais de instabilidade.
Não é outro o sentido
das declarações do presidente do PT de São Paulo,
Paulo Frateschi, que anteontem reclamou de Lula
por tratar "de maneira
muito pesada" os "aloprados". Eles não teriam agido "por mal", e sim "porque chegaram a um nível
de pressão e erraram".
Traduzindo, Frateschi
está sugerindo aos "de cima" que não pisem demais na turma do dossiê.
Mas o tempo de Lula é
curto. Será um pouco menos curto se a pesquisa
Datafolha desta noite lhe
der uma dianteira, mas
nem assim o problema estará resolvido. É preciso
uma história para contar.
Alguém tem de aceitar ser
Delúbio. Do contrário, há
perigo de a sorte voltar a
sorrir para Alckmin.
RENATA LO PRETE é editora do Painel
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Eleições 2006/Estados: Com Lula, Cabral cede a Crivella e retira projeto sobre casamento gay Índice
|