São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

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Renata Lo Prete

Procura-se um Delúbio

DURARAM POUCO a ventura de Geraldo Alckmin e o abatimento de Lula. Menos de uma semana depois da votação que garantiu o segundo turno, o candidato tucano se debate em noticiário negativo derivado do apoio da família Garotinho, enquanto o presidente dá lições de ética e arregimenta um exército de governadores e ministros para cuidar em tempo integral da reeleição.
Mesmo robustecido pelo desempenho no domingo, Alckmin voltou a parecer pequeno diante de uma máquina de guerra azeitada com verbas do Orçamento e dotada de um atirador -Ciro Gomes- capaz do que nem os petistas haviam ousado: afirmar em público, com todas as letras e nenhum elemento para tanto, que o dossiê contra José Serra foi obra de José Serra.
Seria possível concluir que tudo voltou a jogar a favor de Lula, não fosse um problema: o caso do dossiê, provocador do segundo turno, está visivelmente mal parado.
Na segunda-feira, em entrevista coletiva, Lula pediu a Deus a solução rápida ""desse mistério". Como Márcio Thomaz Bastos já informou a seus colegas de Esplanada, durante reunião para tratar da campanha, que a origem do dinheiro dificilmente será revelada até o próximo dia 29, fica claro que a solução a que o presidente alude não difere da encontrada na crise do mensalão: alguém para assumir a bronca sem restrições e até o fim.
Alguém como Delúbio Soares, que tudo sabe e nada irá revelar. Um homem que, na mais difícil das horas, garantiu a Lula o seu silêncio, dizendo a um intermediário: "Eu só não vou me matar".
Ocorre que nenhum dos atores do dossiê até agora aceitou fazer o papel do ex-tesoureiro. As histórias contadas por Lorenzetti (o churrasqueiro), Bargas (o velho amigo) e Expedito (o sr. BB) não servem como "solução" porque nelas não existe o dinheiro. O mesmo vale para a versão de Hamilton Lacerda, o homem da mala em que haveria apenas "material de campanha".
À diferença de Delúbio, o braço direito de Aloizio Mercadante resiste ao sacrifício definitivo e dá sinais de instabilidade. Não é outro o sentido das declarações do presidente do PT de São Paulo, Paulo Frateschi, que anteontem reclamou de Lula por tratar "de maneira muito pesada" os "aloprados". Eles não teriam agido "por mal", e sim "porque chegaram a um nível de pressão e erraram".
Traduzindo, Frateschi está sugerindo aos "de cima" que não pisem demais na turma do dossiê. Mas o tempo de Lula é curto. Será um pouco menos curto se a pesquisa Datafolha desta noite lhe der uma dianteira, mas nem assim o problema estará resolvido. É preciso uma história para contar.
Alguém tem de aceitar ser Delúbio. Do contrário, há perigo de a sorte voltar a sorrir para Alckmin.


RENATA LO PRETE é editora do Painel

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