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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
PT se reúne disposto a afastar Berzoini
Executiva do partido pretende convencer o atual presidente da legenda a deixar o cargo para abafar escândalo do dossiê
Reunião foi convocada pelo
substituto do deputado na
coordenação da campanha
de Lula, que pode assumir
lugar de ex-ministro no PT
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL BRASÍLIA
A Executiva Nacional do PT
reúne-se hoje disposta a forçar
o presidente nacional da legenda, Ricardo Berzoini, a se afastar do cargo. A expectativa dos
dirigentes do PT é que já na
abertura da reunião o próprio
Berzoini, espontaneamente,
comunique a decisão. Caso não
proceda desta forma, o presidente do PT passará pelo constrangimento de ouvir de colegas a sugestão.
A reunião de emergência foi
convocada para traçar estratégias do segundo turno. O debate central, porém, será a crise
do dossiê. Os petistas acreditam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só não venceu
a eleição no primeiro turno por
conta do envolvimento de integrantes da legenda na compra
de um dossiê contra o PSDB.
Hoje, a Executiva transferirá
para a direção estadual do PT
de São Paulo a responsabilidade de analisar o afastamento da
legenda de todos os petistas envolvidos no caso. A tendência é
que sejam abertos processos na
Comissão de Ética do PT.
A Folha apurou que a convocação da Executiva foi articulada pelo coordenador geral da
campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia. Se Berzoini se
afastar hoje, Garcia, vice-presidente do PT, deve assumir o
posto interinamente, até que
todas as investigações sobre o
caso estejam concluídas e o PT
avalie se convoca novas eleições gerais para as direções
partidárias. A interferência de
Garcia é um claro sinal de que a
manutenção de Berzoini incomoda Lula.
O presidente do PT foi afastado da coordenação geral da
campanha logo que estourou a
crise, embora tenha negado conhecer as negociações.
No entanto, essa versão, internamente, já foi desmontada.
"Ele [Berzoini] sabia do que se
tratava", disse um petista que
pediu anonimato. Procurado
pela Folha, Berzoini não retornou as ligações da reportagem.
O secretário-geral interino
do PT, Joaquim Soriano, já defendeu o afastamento de Berzoini em reuniões internas.
Hoje, repetirá o discurso. Farão o mesmo o terceiro-vice-presidente do PT, Jilmar Tatto,
e o secretário de Relações Internacionais, Valter Pomar.
Condições políticas
A visão preponderante no PT
hoje é que Berzoini perdeu a
credibilidade para conduzir as
alianças para o segundo turno.
"É totalmente incongruente
ele sair da campanha e continuar na presidência. Pelo amor
de Deus, chega. Se ele não quiser se submeter ao ridículo,
tem que sair", desabafou um
petista. "Temos que tirá-lo do
cenário, sem nenhum demérito. Ele deixou de ser funcional",
definiu um filiado da cúpula.
"Se ficar, terá o ódio do partido
contra si", disse outro.
Governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda quer investigação interna e punição para
todos os envolvidos, inclusive
os que têm "responsabilidade
política". Não excluiu da lista
Berzoini. "Se Berzoini, Pedro,
Antonio, João, sei lá quem,
comprovou-se o envolvimento,
o diretório tem que tomar a iniciativa. Quem tiver envolvimento comprovado, que sofra
punição exemplar."
Mas parte da cúpula partidária mantém dúvidas a respeito
do que seria menos desgastante: que Berzoini saia agora ou
que seja mantida a situação
atual até o segundo turno. "Fazer esse debate agora é contraproducente para nós", afirmou
Martus das Chagas, secretário
de Mobilização do PT.
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