São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

PT se reúne disposto a afastar Berzoini

Executiva do partido pretende convencer o atual presidente da legenda a deixar o cargo para abafar escândalo do dossiê

Reunião foi convocada pelo substituto do deputado na coordenação da campanha de Lula, que pode assumir lugar de ex-ministro no PT


MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL BRASÍLIA

A Executiva Nacional do PT reúne-se hoje disposta a forçar o presidente nacional da legenda, Ricardo Berzoini, a se afastar do cargo. A expectativa dos dirigentes do PT é que já na abertura da reunião o próprio Berzoini, espontaneamente, comunique a decisão. Caso não proceda desta forma, o presidente do PT passará pelo constrangimento de ouvir de colegas a sugestão.
A reunião de emergência foi convocada para traçar estratégias do segundo turno. O debate central, porém, será a crise do dossiê. Os petistas acreditam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só não venceu a eleição no primeiro turno por conta do envolvimento de integrantes da legenda na compra de um dossiê contra o PSDB.
Hoje, a Executiva transferirá para a direção estadual do PT de São Paulo a responsabilidade de analisar o afastamento da legenda de todos os petistas envolvidos no caso. A tendência é que sejam abertos processos na Comissão de Ética do PT.
A Folha apurou que a convocação da Executiva foi articulada pelo coordenador geral da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia. Se Berzoini se afastar hoje, Garcia, vice-presidente do PT, deve assumir o posto interinamente, até que todas as investigações sobre o caso estejam concluídas e o PT avalie se convoca novas eleições gerais para as direções partidárias. A interferência de Garcia é um claro sinal de que a manutenção de Berzoini incomoda Lula.
O presidente do PT foi afastado da coordenação geral da campanha logo que estourou a crise, embora tenha negado conhecer as negociações.
No entanto, essa versão, internamente, já foi desmontada. "Ele [Berzoini] sabia do que se tratava", disse um petista que pediu anonimato. Procurado pela Folha, Berzoini não retornou as ligações da reportagem.
O secretário-geral interino do PT, Joaquim Soriano, já defendeu o afastamento de Berzoini em reuniões internas. Hoje, repetirá o discurso. Farão o mesmo o terceiro-vice-presidente do PT, Jilmar Tatto, e o secretário de Relações Internacionais, Valter Pomar.

Condições políticas
A visão preponderante no PT hoje é que Berzoini perdeu a credibilidade para conduzir as alianças para o segundo turno.
"É totalmente incongruente ele sair da campanha e continuar na presidência. Pelo amor de Deus, chega. Se ele não quiser se submeter ao ridículo, tem que sair", desabafou um petista. "Temos que tirá-lo do cenário, sem nenhum demérito. Ele deixou de ser funcional", definiu um filiado da cúpula. "Se ficar, terá o ódio do partido contra si", disse outro.
Governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda quer investigação interna e punição para todos os envolvidos, inclusive os que têm "responsabilidade política". Não excluiu da lista Berzoini. "Se Berzoini, Pedro, Antonio, João, sei lá quem, comprovou-se o envolvimento, o diretório tem que tomar a iniciativa. Quem tiver envolvimento comprovado, que sofra punição exemplar."
Mas parte da cúpula partidária mantém dúvidas a respeito do que seria menos desgastante: que Berzoini saia agora ou que seja mantida a situação atual até o segundo turno. "Fazer esse debate agora é contraproducente para nós", afirmou Martus das Chagas, secretário de Mobilização do PT.


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