São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Fiesp e CUT criticam fala de Lula sobre carga fiscal

Entidades, que reúnem trabalhadores e indústrias, vêem tributação excessiva

Para Marcos Cintra, da FGV, petista confunde conceitos por misturar aumento da arrecadação e impacto da carga tributária sobre o PIB

DA REPORTAGEM LOCAL

As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em defesa da política tributária desagradaram ontem da CUT (Central Única dos Trabalhadores) à Fiesp (Federação de Indústrias do Estado de São Paulo).
O presidente da CUT, Artur Henrique, disse que existe no "Brasil uma carga tributária absolutamente injusta". Citando estudo do professor Amir Khair, Artur Henrique afirma que 38% do vencimento dos trabalhadores que recebem até três salários mínimos são consumidos com impostos. O peso é menor -de 24%- para quem ganha acima de 30 mínimos: "Não é verdade que quem ganha mais paga mais. Quem ganha menos paga mais. É preciso corrigir essa injustiça", disse ele, que em nota afirmou que o "o governo não deve ter medo de encarar tais fatos".
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que "a sociedade brasileira, incluindo as indústrias, não aceita mais aumento de impostos". Segundo ele, a carga tributária brasileira já é bem maior que a de países vizinhos. "Precisamos de melhorias nos serviços públicos, de educação e saúde, e nossos impostos são elevadíssimos, o que é suficiente para cobrir todos estes gastos."
Para Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a idéia de arrecadar mais impostos é absurda. "Não tem sentido, o país possui uma carga tributária muito mais elevada que a de países de renda semelhante, e proporcionalmente maior até do que os Estados Unidos, mas os serviços que presta continuam ineficientes", diz.
A ACSP mantém o "impostômetro", um marcador que calcula em tempo real quanto o Brasil paga de impostos. Segundo o marcador, cada brasileiro já pagou neste ano R$ 3.000, somando R$ 680 bilhões já arrecadados para a máquina estatal. "Se o governo planeja cobrar mais taxas, com certeza vai prejudicar o crescimento futuro da economia", diz Solimeo.

Conceitos
Para o vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, Marcos Cintra, Lula faz "uma confusão total de conceitos". Um, diz, é aumento da arrecadação - que cresce segundo o desempenho da economia - e o outro é o impacto da carga tributária sobre o Produto Interno Bruto.
"Tem havido, sim, aumento de impostos no Brasil como porcentagem do volume de riquezas gerado a cada ano" afirma. "Isso está asfixiando a economia brasileira. Ele [Lula] está equivocado nos conceitos e nas conseqüências da elevação da carga tributária. O normal seria que, em função do crescimento da economia, o governo começasse a reduzir alíquotas."
Secretário do Trabalho do Estado de São Paulo e ex-presidente da ACSP, Guilherme Afif Domingos (DEM), disse que Lula não tem noção de que "quem paga o imposto é o consumidor final de bens e serviços". "Até o beneficiário do Bolsa Família paga imposto. O trabalhador trabalha 146 dias por ano só para o governo federal. Da CPMF, são sete dias. Se o governo abrisse mão da CPMF, são sete dias de trabalho para gastar com ele", disse Afif.
Para o economista Raul Velloso, o ideal seria reduzir gastos para atenuar a carga tributária. "O problema é que nem a União nem os Estados se dispõem a enfrentar o problema dos gastos correntes excessivos", afirma. "Um menor crescimento desses gastos permitiria ser mais agressivo no esforço de desoneração fiscal. Nesse sentido, é difícil entender outra declaração atribuída ao presidente Lula de que contratar mais servidores é a saída para melhorar a gestão pública."


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