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Fiesp e CUT criticam fala de Lula sobre carga fiscal
Entidades, que reúnem trabalhadores e indústrias, vêem tributação excessiva
Para Marcos Cintra, da FGV, petista confunde conceitos
por misturar aumento da arrecadação e impacto da
carga tributária sobre o PIB
DA REPORTAGEM LOCAL
As declarações do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva em defesa da política tributária desagradaram ontem da CUT (Central Única dos Trabalhadores) à
Fiesp (Federação de Indústrias
do Estado de São Paulo).
O presidente da CUT, Artur
Henrique, disse que existe no
"Brasil uma carga tributária absolutamente injusta". Citando
estudo do professor Amir
Khair, Artur Henrique afirma
que 38% do vencimento dos
trabalhadores que recebem até
três salários mínimos são consumidos com impostos. O peso
é menor -de 24%- para quem
ganha acima de 30 mínimos:
"Não é verdade que quem ganha mais paga mais. Quem ganha menos paga mais. É preciso
corrigir essa injustiça", disse
ele, que em nota afirmou que o
"o governo não deve ter medo
de encarar tais fatos".
O presidente da Fiesp, Paulo
Skaf, disse que "a sociedade
brasileira, incluindo as indústrias, não aceita mais aumento
de impostos". Segundo ele, a
carga tributária brasileira já é
bem maior que a de países vizinhos. "Precisamos de melhorias nos serviços públicos, de
educação e saúde, e nossos impostos são elevadíssimos, o que
é suficiente para cobrir todos
estes gastos."
Para Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a
idéia de arrecadar mais impostos é absurda. "Não tem sentido, o país possui uma carga tributária muito mais elevada que
a de países de renda semelhante, e proporcionalmente maior
até do que os Estados Unidos,
mas os serviços que presta continuam ineficientes", diz.
A ACSP mantém o "impostômetro", um marcador que calcula em tempo real quanto o
Brasil paga de impostos. Segundo o marcador, cada brasileiro
já pagou neste ano R$ 3.000,
somando R$ 680 bilhões já arrecadados para a máquina estatal. "Se o governo planeja cobrar mais taxas, com certeza vai
prejudicar o crescimento futuro da economia", diz Solimeo.
Conceitos
Para o vice-presidente da
Fundação Getulio Vargas, Marcos Cintra, Lula faz "uma confusão total de conceitos". Um,
diz, é aumento da arrecadação
- que cresce segundo o desempenho da economia - e o outro
é o impacto da carga tributária
sobre o Produto Interno Bruto.
"Tem havido, sim, aumento
de impostos no Brasil como
porcentagem do volume de riquezas gerado a cada ano" afirma. "Isso está asfixiando a economia brasileira. Ele [Lula] está equivocado nos conceitos e
nas conseqüências da elevação
da carga tributária. O normal
seria que, em função do crescimento da economia, o governo
começasse a reduzir alíquotas."
Secretário do Trabalho do
Estado de São Paulo e ex-presidente da ACSP, Guilherme Afif
Domingos (DEM), disse que
Lula não tem noção de que
"quem paga o imposto é o consumidor final de bens e serviços". "Até o beneficiário do Bolsa Família paga imposto. O trabalhador trabalha 146 dias por
ano só para o governo federal.
Da CPMF, são sete dias. Se o
governo abrisse mão da CPMF,
são sete dias de trabalho para
gastar com ele", disse Afif.
Para o economista Raul Velloso, o ideal seria reduzir gastos para atenuar a carga tributária. "O problema é que nem a
União nem os Estados se dispõem a enfrentar o problema
dos gastos correntes excessivos", afirma. "Um menor crescimento desses gastos permitiria ser mais agressivo no esforço de desoneração fiscal. Nesse
sentido, é difícil entender outra
declaração atribuída ao presidente Lula de que contratar
mais servidores é a saída para
melhorar a gestão pública."
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