São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2001

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JANIO DE FREITAS

Segundo caso

Os antecedentes do julgamento, em Brasília, de quatro dos cinco acusados pelo assassinato do índio Galdino, queimado vivo quando dormia em uma parada de ônibus, não poderiam deixar de ser investigados.
A repentina renúncia da promotora Maria José Miranda, nas vésperas do julgamento previsto para hoje, e depois de quatro anos e meio trabalhando no caso, foi recebida pelas autoridades do Judiciário, do Ministério da Justiça e do governo do Distrito Federal com naturalidade, ou indiferença, que pode resultar no acobertamento de fatos muito graves.
Há muitos motivos, acumulados desde as primeiras providências policiais nesse caso, para admitir-se que a renúncia repentina da promotora Maria José Miranda tem motivos incomparavelmente mais fortes do que a "exaustão com esse caso", segundo o argumento usado para sua atitude.
Ocorrem com facilidade as hipóteses para levar à renúncia deixando tempo insuficiente para o estudo adequado, pelo promotor substituto, do processo que ocupa 6.000 páginas.
A haver investigações, seria preciso que delas se incumbisse a Polícia Federal, e não a polícia do Distrito Federal. Há fundamentação possível para transferir o assunto do DF para o âmbito do Ministério da Justiça.

Imposto ainda
Entre outros reparos ao números do Imposto de Renda levantados por Sacha Navarro, e aqui referidos no domingo, o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, observa que o número de declarantes do IR não é de 11 milhões, mas de 13 milhões (não incluídas as declarações de isenção, que elevariam o total de declarantes para 60 milhões). Dos 13 milhões, os pagantes são 4,5 milhões.
Outro reparo nega que a taxação média do lucro do capital fique em 11,77%, observando que 25% de IR sobre o lucro somam-se 9% de Contribuição Social Sobre o Lucro, perfazendo total idêntico ao dos Estados Unidos.

Contraste
A espantosa conquista de Daniele Hypólito, jovem de classe média baixa que ficou como segunda melhor ginasta no Campeonato do Mundo, mostra bem o que é feito com o dinheiro público.
O governo tem um chamado Ministério do Esporte. O responsável por essa entidade, o deputado Carlos Melles, apareceu no noticiário com algum destaque quando deu prioridade à aplicação de verbas ministeriais na sua região eleitoral, onde sua mulher se apresentou como candidata na última eleição municipal. Mas Daniele Hypólito só pôde surpreender o mundo do esporte porque Ronaldo, o craque às voltas com o joelho, incluiu-a entre as pessoas por ele ajudadas financeiramente. Sem isso, Daniele não teria chegado ao Mundial.
Mas não haverá falta de desfaçatez para que gente do governo explore, promocionalmente, o êxito e as celebrações de Daniele. É uma vitoriosa e muitos desclassificados.


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