São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2001

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O BICHO DO PT

Principal envolvido diz que governador não sabia de conversa

Depoimento exime Olívio de relação com bicheiros

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, reafirmou ontem em depoimento à CPI da Segurança Pública que o governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), não o mandou tratar com o ex-chefe de polícia Luiz Fernando Tubino sobre as relações entre governo e jogo do bicho.
Para o relator da CPI, Vieira da Cunha (PDT), Oliveira foi evasivo nas declarações ao falar sobre empresários que disseram ter destinado suas doações para outros fins que não o de comprar um prédio para o PT. "Mantive minha opinião", disse o relator.
"Não sou bicheiro, não conheço nenhum diretor do jogo do bicho e nunca arrecadei nenhum centavo desse setor para o que quer que fosse", disse o presidente do Clube da Cidadania.
De acordo com Oliveira, ele ouviu "repetidas queixas dos apontadores do jogo do bicho sobre perseguições que estariam sofrendo por parte de certos elementos da Polícia Civil", referindo-se a extorsões de policiais.
"Em um país onde a jogatina é generalizada, onde se aposta até pela televisão, manter certos jogos na ilegalidade é hipocrisia."
Na CPI da Segurança Pública, instalada em abril, delegados afirmaram que o jogo do bicho doa dinheiro para o PT e para obras sociais do governo gaúcho. A informação foi reforçada pelo ex-tesoureiro do partido Jairo Carneiro, que havia sido expulso do PT por desvio de verbas. Depois disso, empresários e entidades depuseram negando que tivessem doado dinheiro declarado pelo Clube de Seguros da Cidadania, captador de recursos do PT.
Em gravação, Oliveira aparece falando ao ex-chefe de polícia Luiz Fernando Tubino que o PT mantém relações com os bicheiros. Tubino confirmou a gravação e disse que estaria presente na sessão de ontem, para rebater qualquer possível acusação de Oliveira, mas não compareceu.
O presidente do Clube de Seguros da Cidadania, empresa cujo objetivo é captar dinheiro para o PT e custear obras sociais do governo, disse que, "sensibilizado" pela perseguição aos bicheiros, resolveu "dar um carteiraço" e convidou Tubino para ir até a sua casa. "Ele atendeu prontamente e tivemos uma conversa que agora é de conhecimento público. Eu não tinha a autorização do governador para usar o seu nome, nem nunca falei com ele, nem antes nem depois, sobre esse episódio."
O relatório da CPI deverá imputar aos dirigentes do Clube de Seguros da Cidadania os crimes de estelionato e falso testemunho.
Oliveira também atacou o grupo de comunicações gaúcho RBS, que estaria, segundo ele, perseguindo o governo. O grupo RBS informou ontem que vai processar Oliveira (leia texto nesta página). No depoimento, Oliveira disse que grupo RBS teria interesse em abordar imparcialmente o tema, pois teria deixado de receber recursos publicitários do Estado desde que Olívio assumiu. Oliveira disse acreditar que o grupo está por trás das gravações que têm sido apresentadas na CPI.
Para Oliveira, as perseguições começaram no dia 11 de maio, quando o "Diário Gaúcho", do grupo RBS, começou a publicar matérias sobre o jogo do bicho. No dia 18 de maio foi gravada uma fita pelo jornal na qual Carneiro, ex-tesoureiro do PT, falava sobre a participação do jogo do bicho na campanha de Olívio.


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