São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Ministro se recusa a aparecer como pré-candidato à Presidência; partido se reúne para discutir programas

Saída de Serra da TV acirra crise tucana

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A intenção do presidente do PSDB, José Aníbal (SP), de apresentar os pré-candidatos do partido à sucessão presidencial levou o ministro José Serra (Saúde) a não gravar sua participação nas inserções e programas de TV que a sigla exibe a partir de hoje.
A recusa de Serra abriu uma crise no PSDB. Aníbal convocou uma reunião da Executiva Nacional para hoje à noite, em Brasília, a fim de discutir o conteúdo do programa de 20 minutos que será exibido no próximo dia 15.
"As decisões políticas do PSDB devem ser tomadas coletivamente", defendeu o deputado Alberto Goldman (SP), um dos cinco vice-presidentes da sigla. Até as 19h de ontem, nenhum tucano de peso havia confirmado presença. Serra estará em viagem ao Qatar.
O conteúdo do programa de TV do PSDB foi definido em uma reunião realizada no dia 23 de outubro, no Palácio da Alvorada, com Fernando Henrique Cardoso, Serra, Andréa Matarazzo (Comunicação de Governo), líderes no Congresso e parte da Executiva Nacional dos tucanos.
A proposta aprovada previa que o programa de 20 minutos do dia 15 seria estrelado por FHC e mostraria basicamente as políticas sociais do governo. As inserções de 30 segundos serão exibidas, além de hoje, nos dias 8, 10, 13 e 17, dez vezes ao dia. Na reunião do Alvorada, ficou resolvido que os principais personagens do PSDB apareceriam, inclusive os pré-candidatos, mas de maneira institucional. Cada uma falaria de sua área de atuação e ponto final.
No meio do caminho, José Aníbal mudou de idéia. Deputado identificado com a ala que apóia a candidatura presidencial de Tasso Jereissati, governador do Ceará, Aníbal passou a achar que os "spots" de 30 segundos deveriam apresentar os pré-candidatos do PSDB à sucessão de FHC.
Seria algo no estilo que o PFL fez na quinta passada, quando mostrou Roseana Sarney (MA) como presidenciável, mas sem dizer claramente que ela é candidata.
No domingo, Serra conversou com Aníbal e disse que não é o momento adequado para o pré-lançamento de candidaturas e se recusou a gravar o programa nos moldes previstos pelo deputado.
Nos bastidores, Aníbal trabalha discretamente pela candidatura de Tasso. Apresentando os pré-candidatos tucanos no programa de TV, beneficiaria o governador cearense, já que Serra tem mídia nacional. No domingo, o ministro ocupou o horário nobre da televisão a fim de tratar de um programa para a hipertensão arterial.
Apesar do crescimento de Roseana nas pesquisas, Serra quer manter o plano de vôo que traçou: definir a candidatura entre o final de fevereiro e o início de março e ficar no governo até o último dia possível, para associar a candidatura à sua gestão na Saúde.
No impasse entre Serra e Aníbal, os tucanos pousaram no muro. O "spot" de hoje, em vez de apresentar um pré-candidato, será do tipo institucional, sobre ações sociais do governo. O que acontecerá com os próximos programas será decidido na reunião de hoje da Executiva.
O crescimento de Roseana está deixando nervoso o PSDB. Para o deleite do PFL. Na sigla, diz-se que Serra não quer fazer um programa semelhante ao de Roseana para o PSDB não perder o argumento de que seus candidatos não decolam nas pesquisas porque não têm o mesmo tratamento nos programas de TV da legenda.


Colaborou a Reportagem Local


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