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TERCEIRO MUNDO
Presidente agora afirma que não pode reclamar de antecessores
Lula diz que não precisa de oposição porque já tem o PT
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A MAPUTO
Uma semana depois de ter chamado seus antecessores de "covardes" por não terem feito todo
o possível pelo Brasil, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva foi ameno com a oposição, mas irônico
com seu próprio partido, o PT.
"Não vou reclamar dos opositores. A oposição é para isso mesmo: falar mal dos outros. E sou de
um partido fantástico. Quando
tem de fazer crítica, é meu partido
mesmo que faz, não precisa nem
da oposição", disse o presidente.
A platéia, formada por intelectuais, políticos e estudantes reunidos no Centro Internacional de
Conferências de Maputo, caiu na
risada. Pegando embalo, Lula então recorreu ao seu auto-apelido
da campanha do ano passado:
"Lulinha paz e amor".
O presidente declarou ainda
que ele passou sua vida inteira dizendo o que os outros deveriam
fazer e que agora não tem o direito de reclamar de ninguém.
"Passei a vida inteira dizendo
que os presidentes deviam fazer
isso e aquilo. Pois bem, eu ganhei.
Agora eu não vou reclamar de
ninguém, porque ninguém pediu
para eu ser candidato. Eu é que
quis ser candidato, teimei, cheguei lá e agora o meu papel é fazer
tudo aquilo que eu passei 30 anos
criticando nos outros", disse o
presidente, numa frase talhada
para ser cobrada futuramente.
Desafio
Lula acrescentou depois: "A coisa que mais me desafiava a ser governo era ver se eu seria capaz de
fazer aquilo que eu tanto reclamava que os outros não faziam".
No último dia 30, ao discursar
na inauguração do aeroporto de
Campina Grande (PB), Lula havia
atacado duramente seus antecessores: "Cheguei à Presidência da
República para fazer as coisas que
precisavam ser feitas e que muitos
presidentes, antes de mim, foram
covardes e não tiveram coragem
de fazer o que precisava ser feito".
Depois do insosso discurso escrito, o presidente enveredou por
um longo e emocional improviso,
fazendo inclusive um apelo geral
a seus críticos: "Por favor, não me
julguem agora. Eu tenho quatro
anos de mandato. Não me julguem por dez meses e dez dias.
Me julguem pelos quatro anos".
A certa altura, Lula avisou: "Não
posso falar de improviso, senão
não paro mais. E, se falar da minha vida, vocês não vão parar de
chorar". Fez, porém, o contrário:
passou a falar de sua vida.
Minha vida
"Na minha vida, só fiz coisas
impossíveis", disse ele, começando por uma referência indireta à
infância pobre em Garanhuns,
Pernambuco: "Primeiro, sobreviver onde nasci. Em 1945, ultrapassar os cinco anos de idade era um
milagre. Eu ultrapassei. Aos sete
anos de idade, meu café da manhã
era café preto com farinha de
mandioca. Sobrevivi. Estou aqui
forte e bonito", sob novas risadas.
O presidente também falou sobre o sindicalismo, que "não pode
ficar no pé do Estado, porque senão não adianta nada", e foi irônico em relação ao Judiciário, com
quem vive de polêmica em polêmica: "Tá cheio de imprensa brasileira aqui. Não posso falar porque já tem muita polêmica", disse
ele, sem responder a uma pergunta de uma deputada oposicionista
sobre o Judiciário brasileiro.
Lula defendeu a reforma política, com fidelidade partidária e
com financiamento público de
campanhas, "para que os candidatos não fiquem subordinados
aos empresários".
Aos africanos, ensinou: "Ninguém respeita quem vive de cabeça baixa. O máximo que consegue
é pena. Mas a gente tem que ter
respeito, não pena".
As jornalistas Eliane Cantanhêde e
Marlene Bergamo fazem a parte interna da viagem à África no avião reserva
da Presidência, por falta de opções de
vôos comerciais compatíveis com o roteiro do presidente Lula
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