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REFORMA AOS PEDAÇOS
Senadores do PFL, do PSDB e do PDT abandonam comissão, e seus destaques são rejeitados
Oposição deixa votação, e tributária avança
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os senadores do PFL, do PSDB e
do PDT se retiraram ontem da
CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) e não participaram da votação dos quase 400 destaques ao
parecer da reforma tributária.
A manifestação foi de repúdio à
edição pelo governo, na sexta-feira passada, da medida provisória
que acaba com a cumulatividade
da cobrança da Cofins (Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social) e trata de outras questões tributárias.
A reunião foi tensa. A oposição
conseguiu atrasar o início da discussão das emendas à reforma
por duas horas, período marcado
por protestos contra a MP.
Apesar da saída de 9 dos 23 integrantes da CCJ (5 do PFL, 3 do
PSDB e 1 do PDT), o bloco governista contou com o PMDB e houve quórum para deliberação. Os
destaques foram rejeitados com
facilidade, até pela ausência de
seus autores. Apenas três foram
aprovados com apoio do relator,
Romero Jucá (PMDB-RR).
Para PFL e PSDB, o Senado não
poderia votar mudanças constitucionais no sistema tributário sem
avaliar as implicações da MP da
Cofins. Antero Paes de Barros
(PSDB-MT) apresentou um requerimento pedindo que a reunião fosse suspensa e que o governo enviasse informações sobre a
arrecadação da Cofins, com o objetivo de verificar se haveria ou
não aumento da carga tributária.
O requerimento foi rejeitado.
"Essa MP vai abalar a discussão
da reforma tributária", afirmou o
líder do PDT, Jefferson Péres
(AM), o primeiro a se retirar.
"Essa não é uma discussão
transparente no momento em
que o governo não permite que
tenhamos os números da MP",
disse Tasso Jereissati (PSDB-CE),
o segundo a sair.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), recomendou que sua
bancada se retirasse. O líder do
PFL, José Agripino (RN), fez o
mesmo. "A oposição não é levada
a sério. É melhor nos retirarmos e
deixar o governo votar o que quiser. Não vamos legitimar a votação", disse Virgílio.
Segundo o tucano, o comportamento do governo ao editar a MP
sem consultar o Senado é "coisa
de pato novo, de governo novo,
que acha que pode tudo".
Para o presidente do PFL, Jorge
Bornhausen (SC), a oposição não
foi respeitada. "Os líderes do governo foram atropelados. Nada
mais está combinado entre oposição e governo. O contribuinte
também não foi respeitado por
um governo autoritário", disse o
pefelista.
O senador Aloizio Mercadante
(PT-SP) propôs que o Senado antecipasse a discussão da MP da
Cofins criando uma comissão -a
MP tramita primeiramente na
Câmara. "O Congresso pode fazer
as alterações que forem adequadas", disse. Ele afirma que não viu
razão para a saída da oposição
justamente por causa da medida
provisória.
O líder do PMDB no Senado,
Renan Calheiros (AL), afirmou
não acreditar que a MP vá provocar aumento de carga tributária,
mas disse que "MPs desse tipo,
editadas com matéria que está
sendo tratada no Congresso, não
ajudam a relação". "A MP é boa,
mas o governo precisava conversar mais", disse Calheiros, que é
aliado do governo.
Votação
A reforma tributária vai, agora,
ao plenário, onde receberá emendas e será discutida num prazo de
cinco sessões deliberativas. Depois retorna à CCJ para exame das
emendas recebidas.
O acirramento dos ânimos entre oposição e governo, por causa
da edição da MP da Cofins aponta
para uma tramitação complicada
em plenário. A oposição ameaça
obstruir as reformas tributária e
previdenciária, ou seja, utilizar os
meios previstos no regimento para atrasar as votações.
Senadores do PFL, do PSDB e
do PDT dizem que o governo desrespeitou o Congresso ao editar
uma MP sobre questão tributária
em meio à tramitação da reforma
constitucional do sistema no Senado. Queixam-se de não ter sido
consultados e de nem sequer ter
sido informados previamente.
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