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Habeas corpus chegou a ser negociado
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As gravações oficiais obtidas
pela Folha demonstram um alto
grau de mobilidade do delegado
federal José Augusto Bellini. Ele
integra, segundo a Polícia Federal
e o Ministério Público Federal,
quadrilha especializada na venda
de sentenças judiciais.
Numa das conversas interceptadas com autorização judicial, Bellini negocia a venda de um habeas corpus. "Negócio pequeno,
dá para fazer mole." Seria um caso de sonegação. A decisão judicial, chamada de "HC" pelo delegado deveria ser assinada pelo
juiz federal Ali Mazloum.
"É em cima do Ali, OK? É um
HC [habeas corpus], OK?", diz.
"Entendo, um HC", consente a interlocutora do delegado. É chamada na conversa de Márcia. A
PF ainda não a identificou.
Minutos depois, o delegado Bellini diz a Márcia que os dois precisavam se encontrar. Teriam um
almoço com o suposto beneficiário do habeas corpus. O objetivo
era discutir a dificuldade do trabalho e, consequentemente, o valor a ser cobrado.
No mesmo diálogo, falando em
códigos, eles tratam da negociação de um "terreno". Segundo a
interpretação da PF, o código é referência cifrada a habeas corpus.
Sobre o valor, Bellini diz: "Um
quer dar 15 mil, outro quer dar 30
mil no terreno".
De acordo com os procuradores
federais que acompanham a Operação Anaconda, as decisões judiciais eram vendidas em dezenas
de milhares de dólares. Nesse diálogo, porém, são mencionados os
valores sem especificar a moeda.
O delegado Bellini era responsável pela área de emissão de passaportes da Superintendência da
Polícia Federal em São Paulo.
Chefiou o departamento até ser
preso na semana passada. Era homem de confiança do atual superintendente paulista da PF, Francisco Baltazar.
Ex-segurança de Luiz Inácio Lula da Silva nas quatro últimas eleições presidenciais, Baltazar foi escolhido pelo próprio presidente
para "chefiar" a PF em São Paulo.
Nos últimos dias, o delegado se
desgastou com a cúpula do órgão
por criticar abertamente o fato de
não ter sido informado previamente da operação de busca e
apreensão e das prisões realizadas
na quinta-feira passada.
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